Justiça seja feita aos finalizadores.
Pouca gente se lembra das pessoas que dão os toques finais nas músicas. Criam um acorde essencial, quebram todas as regras com suas melodias e dão o mais firme suporte para uma estrutura musical. Eles são esquecidos, são como andarilhos porque sempre estão por ai, mas ninguém os nota. Pior! Eles vendem milhões de discos e não há uma citação deles em conversas de bares ou discussões numa sala de estar. Eles são aqueles músicos essenciais, mas ofuscados por estrelas da música que (quer queira quer não) são maquiadas. Arranjos foram criados por eles e inclusive riffs antológicos. Hoje, suas músicas, fazem parte do cotidiano de muita gente, e injustiças são sempre cometidas. E que injustiças.
George Harrison, o beatle tímido e calado foi responsável por colocar a banda nos trilhos, colocar a genialidade de Lennon e McCartney em equilíbrio. Foi um dos maiores guitarristas da história e ninguém o coloca neste posto. Solos simples, mas certeiros. Sabia que uma nota era o suficiente para se expressar. Um timbre inconfundível e melodias arriscadas para sua época. Sua genialidade foi de tamanho esquecimento que ele chegou a gravar em 1972 um disco com grande maioria das músicas negadas pelos Beatles, o All Things Must Pass. E acredite! É o melhor disco solo de um beatle. Enquanto Lennon e McCartney têm algumas músicas "bobas", Harrison só tem músicas boas nos Beatles. Harrison trazia a paz ao conjunto e deu os primeiros passos para experimentações psicodélicas da banda.
E nesta psicodelia, nascia Pink Floyd. Nasciam três cabeças geniais como Syd Barrett, David Gilmour e Roger Waters. Mas poucas pessoas conhecem Richard Wright. Tecladista que sabia como acrescentar cada arranjo nas melodias espaciais da banda. Seus arranjos de piano no disco Atom Heart Mother, de 1970 são o ponto alto de todo o disco. Mas as pessoas só prestam atenção nos sopros. Os teclados presentes nas músicas criavam pilares para que as guitarras e trompetes pudessem fazer uma harmonia sem conflitos. Summer 68’ é o melhor exemplo neste disco. Os arranjos do piano são simples e ao mesmo tempo visionários. O órgão em The Dark Side of The Moon de 1973 foi essencial, embora o disco esteja voltado para solos de guitarras. O piano em The Great Gig in The Sky e Us And Then mostram o bom gosto de sua musicalidade.
Delicadeza e harmonia se casavam como se a banda realmente precisasse dele. E como precisava! O que seria de Eclipse sem o órgão em cadência na introdução? Seria uma música a mais. O piano ao fundo de Wish You Were Here, do disco de mesmo nome de 1975, é bem baixo, mas se tirássemos ele a música perderia seu encanto. O solo inicial de Shine on You Crazy é de extrema facilidade de produzir, mas foi preciso ser gênio para ter criado. Ele também, como Harrison, equilibrava os conflitos de genialidade que havia nos dois líderes. Sofreu também pressão por parte de Waters para os arranjos de The Wall, e como um homem sereno continuou a optar pela simplicidade. Ele nunca poderia estar fora da banda, porque Waters não saberia se controlar.
Um caso bastante polêmico é o do John Paul Jones, baixista do Led Zeppelin. Digo polêmico porque Led Zeppelin não seria nada sem John Paul Jones! Nada! Ele foi responsável pelos arranjos da banda, criava propostas musicais para que Jimmy Page pudesse criar solos e acordes em sua guitarra. Um dos riffs mais famosos, Black Dog, é dele. O solo final de bateria em Rock and Roll foi idéia dele. Os arranjos de teclados e cordas eram todos (sim! Todos) produzidos e orquestrados por John Paul Jones. Era quieto, mas inovador. Também criou arranjos para muitas músicas acústicas da banda. Tocava bandolim e fez todo arranjo de Going to Califórnia, que acreditam ser de Jimmy Page. John Paul Jones criou a atmosfera que a banda precisava. Apoiou Robert Plant, quando este perdeu a família num acidente, sugerindo para que voltasse a gravar. John Paul Jones foi com certeza o membro mais importante do Led Zeppelin.
Bandas são muito além de cantores e compositores. Há uma fábrica por trás que merece também todos os créditos. Citei exemplos de poucas bandas. Poderia falar de Rick Wakeman também, já que foi responsável pelo amadurecimento do Black Sabbath quando produziu algumas músicas. Poderia falar de Noel Redding, baixista de Jimi Hendrix. Porque ele segurava o cara da guitarra e ninguém nunca notou suas bases como baixista. Poderia falar também de várias bandas arquivadas e desconhecidas do público geral, mas ai seria outro post. Minha intenção mesmo é mostrar que por trás de uma bela canção e um belo disco há gênios que nunca vão aparecer, há gênios que preferem ficar quietos a entrar na briga de egos dentro das bandas e há gênios que não aparecem. Todo mundo come bolo de chocolate e todos dizem “que bolo maravilhoso”, mas ninguém jamais fala “a cereja estava impecável”.

Para refletir sobre o momento atual:

Em 1978 a preocupação da esquerda britânica era a expansão do National Front (partido da extrema direita) que recebera expressiva votação na eleição daquele ano. O NF arrebanhava seguidores entre os jovens desempregados e sem perspectivas que eram atingidos por mais uma crise do capitalismo em meados da década de 70
O prestigio do National Front não era um fenômeno isolado, claro, logo as idéias ultraliberais de Fred Hayek, um economista da Escola Austríaca triunfariam na figura implacável de Margareth Tatcher, semente do neoliberalismo.
Mas o NF era o braço radical dessa direita que se manteria hegemônica nos anos 80 e pregava a violência e a deportação dos imigrantes vindo das ex colonias inglesas (jamaicanos, indianos, pakis).
Jovens pobres brancos segregando jovens imigrantes e descendentes.

Eric Clapton e David Bowie, em momentos diferentes, corroboram com a onda direitista, o primeiro dando uma declaração desastrosa contra negros e imigrantes no meio de um concerto em 1976 e o segundo usando a saudação nazista no meio de uma das suas aparições marketeiras numa estação de metrô.
Em 30 de abril de 1978 oitenta mil pessoas vindas de todo canto do Reino Unido marcharam de Trafalgar Square para o VictoriaPark, local onde bandas de rock antifascistas fizeram um concerto.
Era um grito de resistência, um contraponto ao avanço da direita. O aparente niilismo e anarquismo inconsequente do punk se lançava na luta concreta contra um inimigo palpável: o fascismo.
O concerto “Rock Against Fascism” reuniu The Clash, Buzzcocks, Steel Pulse, X-Ray Spex, The Ruts, Sham 69, Generation X, Tom Robinson Band , Patrik Fitzgerald. Música rebelde, musica de rua era o lema.
O engajamento tinha tinturas estéticas, pois quase a totalidade dessas bandas buscou referências na música negra, nos ritmos terceiro mundistas, o que emprestou cores diversas ao punk e aos estilos derivados.
O RAR desencadeou uma série de outros concertos e estimulou o engajamento de várias bandas contra a onda fascista.
Uma boa lembrança para esse momento terrível que vivemos.

Eric Clapton e a dor de cotovelo:
O fato é que o rock ( e a música em geral, é lógico) deve muito à dor de cotovelo. Quer fazer uma experiência? Abra seu player, pegue 10 músicas ao acaso e conte quais delas falam sobre amores não correspondidos, platônicos, perdidos, traídos, etc, etc, etc. Não se assuste se todas as dez músicas se encaixarem nessa descrição: 94,52% de todas as músicas compostas até hoje falam exatamente sobre dor de cotovelo em suas mais variadas formas. É o pé na bunda que move o rock; nada como compor uma bela música após uma porta na cara!
Por exemplo, Mr. Eric Clapton: o cara compôs um disco inteiro pra mulher de seu melhor amigo, o ex-beatle George Harrison! Aliás, ele até formou uma banda (”Derek e os Dominós”) só pra gravar esse disco, chamado “Layla e outras músicas de amor” (Layla and other Assorted Love Songs)! O mais incrível é que é um dos melhores discos da história do rock, com músicas lindíssimas como a própria “Layla” e “Bell Bottom Blues” (que diz na letra “você quer que eu rasteje no chão por você?”).
George Harrison conheceu Patti Boyd no set de um dos filmes dos Beatles, onde ela fazia uma ponta (tá, menos que uma ponta: ela falava exatamente uma palavra no filme todo). Reza a lenda que Mr. George se apaixonou-se e camelou tanto por ela que no ano seguinte eles já estavam juntos. Pois bem. Surge então Eric Clapton, conhecido nesse mundo e outros treze como o Deus da guitarra, e ele e George ficam suuuperamiguinhos de verdade, quase irmãos mesmo, pro que der e vier, pra se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração assim falava a canção que na América ouvi. Legal. Eis que eram o fim dos anos 60, cultura hippie no ar (além de outros cheiros estranhos), e Mr. Harrison se apaixona pela cultura indiana, descobre Deus, torna-se hare krishna, aprende a meditar, pá e tal. Mas sua bela esposa pensa que ele está meditando um tanto demais e não está nem aí pra ela (provavelmente ela estava certa, todas as músicas dele dessa época são extremamente religiosas).
Ok, o que ela faz? Ahn, ela decide se aprochegar de Eric Clapton, numa tentativa de criar ciúmes em Harrison e tirar o cara do transe em que se encontrava. Tá, não adiantou nadinha, e o que foi muito pior: Eric Clapton se apaixonou totalmente pela loirinha. Perdidamente. Doentemente. Do jeito que ninguém deveria fazer, e todo mundo faz. Trágico, mas acontece todo dia. Patti Boyd não dá trela pro moço, e continua casada com George Harrison, deixando Eric Clapton naquele estado deprimente de “bunda”. Ele começa a escrever músicas sobre sua dor de cotovelo então, algumas (muitas, na verdade) das suas melhores músicas já compostas. Ele lança um disco só com músicas sobre sua dor de cotovelo. Ele chora debaixo do tanque todo dia pela moça. Lindo, né? Parece novela mexicana…*sniff*. Até que um belo dia George Harrison cansa de aturar o amigo chorando pelos cantos e se separa da moçoila (o mais bacana é que ele e o Clapton continuaram amigos, mesmo depois desse rolo todo).
Finalmente, Eric pode viver o grande amor de sua vida! Óh, que belo! Eles se casam em 1977, e vivem felizes para sempre! Err….não, não foi bem assim. Eles foram felizes durante alguns anos, mas Eric Clapton começou a beber demais e espancava a moça todo dia, até que um belo dia eles se separaram.
Eric Clapton continua sendo Eric Clapton (mas já largou a branquinha), Patti Boyd viaja pelo mundo e lança livros de fotografia, e George Harrison já deixou nosso plano de existência e ascendeu para planos mais elevados.
Enquanto isso, eu fico aqui esfregando meus cotovelos...

O Poder da Música conduzindo seus neurônios felizes:
Existe um mundo mágico, num tempo distante, muito além do imaginado.
Esse mundo alheio ao nosso, emotivo em sua essência, costuma ser visitado por viajantes dotados de imaginação.
É desse mundo encantado que vem as cantigas de ninar e as histórias da Carochinha. É desse mesmo mundo encantado, que nos vem o Rock Progressivo do Yes, Genesis e outras bandas sensíveis.
É desse Unviverso que nos vem a música da alma, o Blues, com seu lamento e sua dor no coração partido, sua saudade.
O que tem isso a ver conosco?
Acontece que isso é Música, a mais feliz tentativa do Homem em se fazer compreender. Foi a primeira linguagem utilizada para falar aos deuses.
É a Música que nos faz pensar, agir, relaxar.
Dita nosso comportamento de forma subliminar, bem disfarçado e, quando percebemos, pronto! Lá vamos nós ligar o som para ouvir mais, pois música de verdade não é só mais um produto de marketing. Possui elementos importantes, como Harmonia, Arranjos e Melodia, que nos conduzem à um estado de prazer e êxtase.
Acontecem excessões também. Você já reparou como seu coração tende a pulsar no ritmo da música? Pois são as ondas sonoras e sua escala musical harmônica interferindo no seu ritmo pessoal. Muitas vezes alteram inclusive a velocidade da sua vida, do seu dia a dia.
Por que algumas músicas são boas para "estrada-em-fim-de-tarde" ? É porque nos deixam em Paz, não interferem com nossos pensamentos, não incomodam.
Quando você está fazendo alguma atividade que demanda adrenalina, coisas aceleradas, o que faz? Aumenta o volume e pau nos ouvidos!! Aumente o volume, entre no ritmo e aproveite a onda. Divirta-se.
Quantas vezes, quando garoto nos idos anos 70, me surpreendi correndo pelas madrugadas, fugindo da polícia pelas dobras da noite e com o som do carro no volume máximo? Não, eu não era bandido, apenas fugia pelo prazer da corrida. Pela contestação à autoridade. Isso fazia parte do rock'n'roll. hehehe.
E eu não tinha carteira de motorista...
Também faz parte de uma atitude de vida, que em algum momento deixou de ser relacionada à Música e adotamos como a nossa trilha sonora, o background de nossas aventuras. se preferirem entender assim.
Todos os bons momentos, os momentos mais tristes e os momentos alegres de nossas vidas podem ser revividos apenas ouvindo a música que nos remete àquele momento.
E você? Escuta música por prazer, ou adota música como filosofia de vida?
Ah, sei, tudo isso parece bobagem.
Então responda rapidinho: você consegue atravessar o dia sem um som, dirige sem ouvir uma nota musical sequer?
Talvez seja porisso qua as pessoas saem por aí agredindo e xingando todo o mundo, falta a harmonia para relaxar nossos pensamente e moldar atitudes positivas.
É sintoma de cérebro vazio, que pena.
A sensação prazerosa que sentimos ao ouvirmos música está associada diretamente com a liberação de dopamina no cérebro, o mesmo neurotransmissor relacionado ao prazer da alimentação, drogas ou dinheiro.
A quantidade de liberação de dopamina no cérebro do indivíduo varia conforme a intensidade da emoção e do prazer que a pessoa está sentindo, em comparação com as medições realizadas ao escutar uma música "neutra".
Música em qualquer forma ou ritmo sempre irá desencadear uma série de efeitos químicos prazeirosos e, devemos aproveitar ao máximo esse banquete sonoro. Nosso cérebro agradece.
Para você, que ouve música, recomendo grandes doses diárias, para alegria do seu coração.
Paz e Amor!

Explicando o Dia Internacional do Rock:
Mas porque 13 de julho? Foi no dia 13 de julho de 1985 que um cara chamado Bob Geldof, vocalista da banda Boomtown Rats, organizou aquele que foi sem dúvida o maior show de rock da Terra, o Live Aid - uma perfeita combinação de artistas lendários da história da pop music e do rock mundial. Além de contar com nomes de peso da música internacional, o Live Aid tinha um teor mais elevado, que era a tentativa nobre de conseguir fundos para que a miséria e a fome na África pudessem ser pelo menos minimizadas. Dois shows foram realizados, sendo um no lendário Wembley Stadium de Londres (Inglaterra) e outro no não menos lendário JFK Stadium na Filadélfia (EUA).
Os shows traziam um elenco de megastars, como Paul McCartney, The Who, Elton John, Boomtown Rats, Adam Ant, Ultravox, Elvis Costello, Black Sabbath, Run DMC, Sting, Brian Adams, U2, Dire Straits, David Bowie, The Pretenders, The Who, Santana, Madonna, Eric Clapton, Led Zeppelin, Duran Duran, Bob Dylan, Lionel Ritchie, Rolling Stones, Queen, The Cars, The Four Tops, Beach Boys, entre outros, alcançando uma audiência pela TV de cerca de 2 bilhões de telespectadores em todo o planeta, em cerca de 140 países. Ao contrário do festival Woodstock (tanto o 1 como o 2), o Live Aid conseguiu tocar não somente os bolsos e as mentes das pessoas, mas também os corações.
No show da Filadélfia, Joan Baez abriu o evento executando "Amazing Grace", com cerca de 101 mil pessoas cantando em coro o trecho "eu estava perdido e agora me encontrei, eu estava cego e agora consigo ver". Este show marcou também a única reunião dos três sobreviventes da banda Led Zeppelin, Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones, com a presença ilustre de Phil Collins na bateria.
No final deste show, Mick Jagger e Tina Turner juntos, cantando "State of Shock" e "It's Only Rock and Roll", com Daryl Hall, John Oates e os ex-integrantes dos Temptations, David Ruffin e Eddie Kendrichs fazendo os backing vocals. Foi realmente um momento único na história do ROCK!
O Live Aid conseguiu em 16 horas de show acumular cerca de 100 milhões de dólares, totalmente destinados ao povo faminto e miserável da África. Isso é a cara do ROCK AND ROLL!
ATITUDE!!!

Bootlegs versus Pirataria:
Os tais Bootlegs são gravações não autorizadas de áudio ou vídeo do trabalho de um artista ou banda musical, podendo ser realizadas diretamente de um concerto ou de uma transmissão via rádio/televisão.
Estes últimos podem incluir entrevistas e materiais inéditos, que foram descartados por serem considerados inadequados para um produto comercial, bem como passagens de som, ensaios, etc.
As fitas cassetes foram responsáveis pela difusão dos bootlegs nos anos 1980.
O termo bootleg tem sua origem no livro As Viagens de Gulliver, escrita em 1726 por Jonathan Swift, onde no mundo "smuggling", os "smugglers" (contrabantistas) escondiam o contrabando dentro de baús, balsas e canos de botas ("boots"), para não serem presos.
Com o passar do tempo, o "boot", passou a ser gradualmente usado como adjetivo para descrever artigos de origem dúbia (envolvidos em algum tipo de atividade criminal) e acabou por se tornar um termo conveniente para esses tipo de gravações emitidas por selos independentes, uma vez que são realizadas sem o consentimento do artista ou da gravadora dona dos direitos autorais.
Inicialmente, os bootlegs eram feitos em vinil e/ou em fitas cassetes. Atualmente, os bootlegs são difundidos em CDs ou disponibilizados na Internet sob a forma de download digital gratuito.
Os bootlegs chegaram a preocupar as gravadoras no período entre 1985 e 1995, quando o CD ficou popular. Muitos bootlegs – a esmagadora maioria gravações de shows nunca lançados, sobras de estúdio, gravações alternativas de músicas de sucesso ou tediosos ensaios – foram produzidos em escala quase industrial em países como Itália e União Soviética.
Nos dois países, a legislação a respeito de direitos autorais continha brechas que acabavam por estimular a criação e comercialização de tais produtos. Ficaram famosos no Brasil e na Argentina os “italianos” com um cachorro como “selo musical”, o Yellow Dog, contendo shows de artistas dos mais variados. As tiragens de cada título eram sempre pequenas, nunca ultrapassando mil cópias. Na Itália, quando você publicava algum registro, era obrigado a pagar uma taxa e aí a coisa toda ficava "legalizada".
O Beatles foi uma das bandas com mais bootlegs da história da música. E um dos primeiros bootlegs dos Beatles vendido foi o Kum Back. Neste, o engenheiro de som Glyn Johns mixou diversas versões de músicas gravadas para o álbum Let It Be.
Nos Estados Unidos, o primeiro bootleg que se tem notícia foi The Great White Wonder, do Bob Dylan, gravado em estúdio com os músicos do The Band. Ambos os bootlegs datam de 1969.
Em 1970 foi lançado o Live On Blueberry Hill do Led Zeppelin, um dos primeiros bootlegs gravado ao vivo. Outros bootlegs famosos da época são The Greatest Group on Earth dos Rolling Stones e a versão bootleg do álbum Smile, dos Beach Boys.
Durante a década de 1970, a indústria do bootleg expandiu-se. As gravações ao vivo, ainda que fossem as mais comuns, possuíam qualidade ruim, já que eram feitas em meio ao barulho e gritos da multidão. Outros bootlegs eram feitos diretamente da mesa de som, geralmente sem o consentimento da equipe que trabalhava nos concertos. As capas dos bootlegs também tinham qualidade ruim. Não tinha neguinho com Photoshop pra editar uma capa legal.
Com o tempo, não só as gravações como as capas foram sendo aperfeiçoadas. Surgiram grandes selos de bootlegs como a Swinging Pig e Yellow Dog, cujos álbuns além de terem qualidade boa apresentavam uma capa mais elaborada e trabalhada.
Tem artistas encontrados em centenas de bootlegs e piratarias, muitos deles piratarias oficiais como o Frank Zappa, que pirateava seus próprios álbuns em represália às gravadoras que o escanteavam e ainda eram donas dos fonogramas.
Também não podemos esquecer as incríveis gravações "não autorizadas" feitas pelo Mike Millard à partir de uma cadeira de rodas equipada com um gravador poderoso e microfones mais poderosos ainda. Leia mais aqui
Conceitualmente, "bootlegging" (produzir, distribuir, ou vender bootlegs sem autorização) não deve ser confundido com a pirataria. Pirataria é o ato de fazer e negociar cópias ilegais de material oficialmente disponível. Os materiais contidos nos bootlegs não foram lançados para o comércio, não estando, portanto, disponíveis para compra, embora em alguns casos possa ser observada a ocorrência de um registro no comércio simulando uma tiragem oficial (uma raridade).
Era comum nos anos 1970, 1980 e 1990 colecionadores gastarem uma baita grana para obterem alguma gravação de seu artista favorito. Alguns bootlegs possuíam edições muito limitadas, o que o tornava mais concorrido e valioso. 
Fãs faziam trocas entre si para obter o máximo de gravações possíveis. Trocava-se cópias em fita cassette e VHS, que por serem mídias analógicas, quanto mais se multiplicassem, maior seria o desgaste de qualidade e, portanto, sempre era - e ainda é - importante indicar a que "geração" pertencia a gravação, como por exemplo: "2ª geração = cópia da cópia da fita master".
Com a introdução das primeiras mídias digitais, como o DAT e o MiniDisc, as gravações das mídias masters seriam exatamente as mesmas em suas duplicatas, já que a perda de qualidade era quase zero.
Hoje, com a Internet, já é possível obter bootlegs sem mídias. O protocolo P2P (Peer To Peer) garantiu o fácil compartilhamento entre os usuários.
O grande problema para o mercado cultural, para artistas e para as gravadoras, é a pura e simples clonagem de um CD/DVD/livro, sempre em qualidade inferior. Isso sim lesa o produtor de cultura.
O mercado tem é que combater a pirataria verdadeira, que é a clonagem grosseira e barata de originais, essa sim lesiva em todos os sentidos.
Em tempos de todo tipo de download na internet, os bootlegs são os menores problemas para artistas, produtores e empresários do meio.

Plágios e "adaptações" de sucesso:
Os plágios sempre aconteceram em toda a parte. Motivo? Oras, antes da grande mídia e, mais recentemente a internet, as produções muito locais dificilmente atravessavam fronteiras. Nessa onda, muita gente copiava trabalhos de pequenos artistas regionais, na esperança de não serem flagrados pelo público, que não tinha acesso aos trabalhos originais. Hoje, com essa tal de globalização, fica mais difícil, mas naqueles tempos. Depois que li nessa coluna a matéria das capas, achei legal contribuir levantando o lado obscuro dos plágios nas músicas. E nem vou falar da Rita Lee e outros brazucas "espertos" com suas "versões adaptadas". E olha que só vou citar alguns casos...
A atividade do plágio, ou, digamos, da "adaptação" ou, ainda, da "versão" disfarçada, da "homenagem" na história do rock and roll não se limita aos pequenos deslizes de artistas menores e desprovidos de talento. Grandes mestres do gênero também não escaparam de dar o seu golpezinho na praça e faturar com a criatividade alheia. Entre eles, destacam-se dois Beatles: John Lennon e George Harrison, Led Zeppelin e Bob Dylan, para falar de alguns mais famosos.
O Bob Dylan foi um dos primeiros a passar a mão na produção alheia sem a menor cerimônia. No início da carreira, em sua primeira passagem por Londres, por volta de 1963, ele ouviu "The Patriot Game", com os irlandeses The Dubliners. Mr. Zimmerman gostou tanto da canção que "adaptou-a" para o seu terceiro álbum, "The Times They Are A-Changin"’, de 1964. A música ganhou o nome de "With God On Our Side", outra letra e, claro, a sua assinatura.
Anos depois, mas ainda nos anos sessenta, foi a vez de Jimmy Page "vingar" o feito de Bob Dylan, apropriando-se de uma obscura canção do folk americano. Também de passagem por Nova York, em 1968, com seu The New Yardbirds, ele dividiu o palco com o cantor folk-psicodélico Jake Holmes. No show, Page ficou conhecendo a canção "Dazed and Confused" que, com algumas pequenas mudanças na letra, foi gravada no primeiro álbum do Led Zeppelin, com a assinatura dele e de Robert Plant.
Outro famoso que bebeu na folk music foi John Lennon, mais conhecido pelo plágio de "You Can’t Catch Me", de Chuck Berry, que virou "Come Together", com os Beatles, e lhe custou uma condenação. No início dos anos setenta, ele lançou a clássica e até hoje tocada em todos os finais de ano, a natalina "Happy Xmas", que nada mais é do que um "cover" sem vergonha, com a letra adaptada em cima do clássico "Stewball". Originalmente lançada pelo trio Peter, Paul & Mary, em meados dos anos setenta, "Stewball" é um dos "hits" do moderno folk americano.
Já o parceiro George Harrison também não escapou da tentação de "reaproveitar" belas melodias, no caso, um original das americanas Chiffons. Talvez uma das mais descaradas "versões" não assumidas, a música ganhou nova letra, um pouco de incenso, e o novo nome de ‘My Sweet Lord’. Lançada em 1970, no álbum triplo ‘All Things Must Pass’, e também em single, a música foi uma das tocadas pelas rádios do mundo naquele momento. Harrison foi condenado pela justiça. Ainda resolveu tirar sarro com a condenação no tribunal e o clip "This Song" foi uma sátira com toda a situação.
No final das contas, Harrison comprou os direitos sobre "He's So Fine" e pôde finalmente lançar All Things Must Pass remasterizado e regravou My Sweet Lord.
Mais um plágio esperto, só que também acabou sendo flagrado pela história, foi patrocinado pelo grupo Deep Purple. Em um dos singles mais importantes do hard rock, o grupo incluiu a música "Black Night" junto de "Speed King", que abria o disco "Deep Purple in Rock", lançado em 1970. "Black Night", na verdade, era uma "releitura" para "We Ain’t Got Nothin’ Yet", um pequeno hit da banda americana Blues Magoos, presente em "Psychedelic Lollipop", seu álbum de estréia, de 1966.
Pra terminar, pra não dizer que o pessoal daqui plagiava direto, olha a contramão: tem aquele caso ocorrido em 1978, quando o Rod Stewart usou o "Tê-tetere-teretetê" da música "Taj Mahal", de Jorge Ben no refrão da música "Do ya think I´m Sexy?". Rod Stewart perdeu um processo por plágio e concordou em doar os royalties da sua canção para a UNICEF.
Que coisa, hein? quem diria...

Conhecendo a história do Robert Moog:
Robert Moog, criador do sintetizador que leva seu nome, morreu nos Estados Unidos no dia 21 de agosto de 2005, vítima de tumor cerebral. O músico e inventor tinha 71 anos e morreu em sua casa, na cidade de Ashville, na Carolina do Norte. No auge da popularidade dos sintetizadores Moog bandas de música eletrônica e rock progressivo como Yes, Tangerine Dream, Kraftwerk e Emerson, Lake and Palmer construiram suas sonoridades com base nos timbres dos aparelhos criados por Robert Moog, tanto que seu nome acabou associado a todo e qualquer som criado em sintetizador, o que é um erro.
Os primeiros instrumentos criados por Robert Moog eram voltados para o uso em estúdios de gravação. Com o tempo ele foi criando máquinas menores para serem usadas em palco, já que as bandas de rock cada vez mais usavam sintetizadores em seus shows. Foi assim que surgiram o Minimoog e o Micromoog. Moog extendeu sua linha de produtos com instumentos polifônicos. Mesmo assim a concorrência de companhias como a Yamaha, Roland, Arp e outras ficou cada vez mais acirrada, com sintetizadores cada vez mais baratos, menores e mais leves.
Robert Moog era novaiorquino do Queens e estudou piano na infância, porém seu maior interesse era a física. Nos anos 40, aos 14 anos, construiu um theremin a partir de modelos descritos em uma revista. O theremin é um aparelho criado pelo russo Leon Theremin nos anos 20 que permite que os músicos possam criar sons com suas mãos através de apetrechos metálicos. Foi criando esses aparelhos que Robert Moog montou sua primeira empresa e ao mesmo tempo estudava na universidade. Em 1965 seu negócio começou a dar lucro e ele passou a trabalhar com o compositor Herbert Deutsch em seus primeiros modelos de sintetizador. Com estes apetrechos um músico podia imitar sons de instrumentos acústicos ou criar sons eletrônicos. Um teclado acoplado permitia que o músico controlasse os tons e os ritmos. O feedback dos artistas era essencial no trabalho de Robert Moog.
O filtro Moog, hoje famoso e até revisitado em sonoridades de bandas como Air, foi sugestão de vários músicos. O sintetizador Moog ficou tão famoso nos anos 60 que departamentos de música de universidades criaram laboratórios para estudá-lo. Mas foi um disco lançado na época que tornou o Moog conhecido no mundo todo, Switched on Bach, de Walter Carlos (que hoje atende pelo nome de Wendy Carlos, depois de uma operação de troca de sexo). As músicas de Switched on Bach foram criadas para mostrar que era possível compor música com os sons das máquinas, os sintetizadores. Na sequência Carlos transcreveu Purcell e Beethoven para a trilha de Laranja Mecânica, o filme de Stanley Kubrick.
Entre os primeiros roqueiros a utilizar os sintetizadores Moog estão os Monkeys, em 1967, com o disco Pisces, Acquarius, Capricorn e Jones, Ltd. George Harrison tinha um Moog instalado em sua casa e em 1969 lançou um disco com suas experiências, chamado Electronic Sound. Os Beatles usaram o Moog em várias faixas do álbum Abbey Road, como no clássico Here Comes the Sun. Entre os músicos de jazz os pioneiros no uso do Moog foram Herbie Hancock, Jan Hammer e Sun Ra. Com o rock progressivo o som do Moog se tornou onipresente.
Em 1971 Robert Moog vendeu sua empresa, Moog Music, para a Norlin Musical Instruments Inc, mas continuou a criar instrumentos para esta empresa até 1977. No ano seguinte mudou-se para a Carolina do Norte e criaou uma nova empresa a Big Briar. Em 2002 renomeou a empresa Moog Music, quando comprou o nome de volta da Norlin. Trabalhou também como consultor e vice presidente de novos produtos para a Kurzweil Music Systems, de 1984 a 1988.
Em 2004 o Hans Fjellestad filmou o documentário Moog, que foi lançado em DVD.

De V Discs aos Disquinhos de Ossos:
Essa é a história dos "roentgenizdat", como eram conhecidos os discos confeccionados em chapas usadas de Raios-X, ou "roentgen ray".
Numa tentativa de agradar os soldados e oferecer um serviço social que amenizasse a separação das famílias durante a 2ª guerra mundial, os americanos colocaram máquinas para os soldados gravarem discos, compactos de 78rpm, os V Discs.
Eram umas cabines automáticas, onde se colocava uma moeda ou ficha, tinha um microfone onde a pessoa podia gravar uma mensagem de voz para seus parentes em um registro flexível; eram encontradas em salões de fotografia e a pessoa gravava uma mensagem. Essa máquina riscava os sulcos e o disco saia prontinho pra ser tocado em qualquer vitrola. na velocidade de 78 rpms.
A máquina para fazer estas gravações foi originalmente concebida para fazer "cartões postais de som" que eram uns disquinhos flexíveis, para economizar material, e leve, para serem enviados pelo correio.
Depois da Grande Guerra, muitas dessas máquinas ficaram na Europa e foram levadas para a Rússia.
Nos anos 50 eles queriam discos de jazz e quando conseguiam um disco, gravavam o som em um desses disquinhos.
No início de 1950, o rock-n-roll americano começou a se infiltrar na culturalmente isolada União Soviética e seus países satélites... e, claro, foi prontamente proibido. Mas os russos também queriam também ouvir Chuck Berry e Elvis, depois seguidos pelos Beatles e Stones.
Devido à falta de gravações da música ocidental disponíveis na URSS, as pessoas tinham de contar com discos contrabandeados através da Europa Oriental, onde o controle sobre esse material era menos rigoroso. ou por marinheiros suecos e finlandeses chegando aos portos de Riga e Leningrado. Tais restrições significava que o número de gravações permaneceria pequena e preciosa.
Mesmo assim essa música nova encontrou o seu caminho para as ruas através de um pouco de ingenuidade combinada que estava disponível no momento.
Fabricantes de gravações underground, que eram conhecidas como "roentgenizdat", usavam gravadores amadores como o Voice-O-Graph, de cabine, que era útil e com baixo custo, para gravar sulcos em discos virgens de vinil. Uns caras até esconderam algumas máquinas sem as cabines. Mas aí acabou o material. Até que um residente de medicina, um dia, tentou usar uma chapa usada de Raio-X e deu certo, isso foi uma revolução na pirataria por lá.

Os raios-x deformavam facilmente, não eram tão bons como um disco real, mas eles gravavam um sulco bom o suficiente para valer a pena o dinheiro um dia de almoço e o risco de prisão só para experimentar um pouco da música dos EUA.
Estes álbuns foram vendidos como bootlegs, às escondidas, nos mercados e através de amigos de um amigo, em quantidades inumeráveis. O processo acabou morrendo com a chegada dos gravadores de fita magnética, mas esses álbuns ao vivo continuam nas mãos de colecionadores particulares. Valem fortunas.
Eu não sei o nome do inventor que usou chapas de raio X como material de base para discos, mas esse método tornou-se tão difundido na Hungria, que a Rádio Nacional Húngara fez gravações de som em chapas como parte de um projeto.
Um disquinho, que só era gravado de um lado, custava cerca de 1,5 rublo cada no mercado negro, mas durava apenas alguns meses, ao contrário dos 5 rublos para um disco de vinil de dois lados. O custo do registro era o mesmo garrafinha de vodka de 250ml, a mesma quantia do "dinheiro do almoço", dado aos maridos por suas esposas econômicas (na Rússia, as mulheres geralmente controlavam o orçamento familiar). Assim, o disquinho poderia ser comprado pulando um almoço ou deixando de comprar uma bebida por dia.
Cerca de 3.000.000 desses registros altamente ilegais foram distribuídos clandestinamente na URSS até 1958 (sem o nome do artista ou o título da canção do disco, apenas um número riscado) antes da KGB perceber o que eram.

No final dos anos 50, o governo já sabia dos roentgenizdats, e tornou tudo ilegal em 1958. Funcionários de segurança tomaram medidas para acabar com o maior cartel em 1959, enviando os líderes para a prisão, a partir de uma organização pela Komsomol de "patrulhas música" que mais tarde se comprometeu a reduzir a atividade ilegal de música em todo o país. Mesmo assim continuaram a ser produzidos na década de 60.
Jovens em Leningrado, foram presos por fazê-los, e enviados para o Gulag por sete anos. É preciso entender que a música ocidental era considerada uma grande ameaça para a KGB. O Rock foi proibido na URSS, banido de todos os meios de comunicação e imprensa até 1986. O Rock era proibido até de ser pronunciado, assim com cantar qualquer canção em ingles.
O que acabou com essa engenhosa indústria, não foi o governo sovietico e sua opressão, mas o surgimento de fitas magnéticas, os gravadores de rôlo. Já nos anos 70 as fitas cassete chegaram e se tornaram o BitTorrent daquele momento.

Impressionante história da mais incrível das Rádios:

Apresento um dos meus herois favoritos: Abi Nathan, que ninguém aí conhece, e sua maravilhosa rádio livre "The Voice of Peace".
Parte1: A Rádio _____________________________________________________________________
Em alguns dos países onde vivi, sempre procurei conhecer rádios de vanguarda locais, apresentava minhas fitas cassete e tratava de descolar algum espaço. Eram radiozinhas independentes, sem grana e idealistas que seguiam à margem do mercado. Durante o período que passei pela Brasil 2000 fm acredito ter agregado conceitos e formatos aprendidos nessas rádios independentes européias.

Bom, do fim dos anos 70 ao início dos 80 vivi uns 4 anos em um kibbutz em Israel. Lá rolava muito rock'n'roll e a moçada ouvia uma rádio genial, que acabou sendo uma das minhas maiores escolas, fonte de inspiração e muitos dos conceitos que aprendi trabalhando nessa rádio, introduzi no formato do RockPuro, que é um cadinho onde misturo o que considero as minhas experiências em rádios livres.
Eu me apaixonei de imediato. Que grande aventura! Eu tinha que participar daquilo, e foi uma grande escola para mim, com lições que carrego até hoje. E ssa rádio me impressionou desde o primeiro momento. The Voice of Peace e não era bem uma rádio, nos moldes que se conhecia. Era um conceito com um ideal. Como já era radialista há uns 5 anos, já havia passado por algumas emissoras, achava que tinha visto de tudo, mas essa era uma rádio independente, embarcada num navio, sem compromisso com ninguém, fruto da alma de um grande cara, o Abi Nathan, grande idealista, um humanista acima de tudo e que bolou um projeto fantástico para promover a Paz.
Sempre acabava acumulando folga por trabalhar sem crise nos feriados judaicos. Na primeira folga que tive, viajei até Haifa para conhecer o navio, que estava ancorado em manutenção e sem transmissão de som, claro. Fui bem recebido por um pessoal vindo de vários países, todos voluntários e, como eu era radialista, trocamos muita conversa. Uns meses depois procurei o escritório do Abi Nathan e pedi para operar a rádio por um período. Quando apareceu uma vaga, tirei licença do kibbutz e embarquei numa trip sonora de 2 semanas. Depois fiz o impossível para voltar várias vezes. Afinal quem não toparia ficar embarcado no Mediterrâneo, bebendo cerveja de segunda, trabalhando sem escala definida e ouvindo rock'n'roll? Além de boa companhia, Sol e mar...
Passava as minhas folgas acumuladas à bordo, operando a rádio e achando tudo muito legal, afinal eu só tinha 20 e poucos anos de idade e era uma grande experiência.
Nos próximos posts irei contar coisas incríveis sobre a programação, o formato e a filosofia dessa rádio que marcou minha vida.
Parte2: Abi Nathan
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Judeu nascido no Irã, crescido em Mumbay, foi piloto israelense na guerra de 48, teve um restaurante em Tel Aviv. Pacifista até os ossos, Abi Nathan, conseguiu um velho navio que estava sucateado como donativo para seu projeto. Ficou com o barco parado em Nova York por quase 3 anos até conseguir fundos.
O navio estava horrível e todo detonado, pronto para ser desmontado, mas ele acreditou na recuperação. Depois de muita luta e com ajuda de John Lennon, partiu para Amsterdam onde conseguiu mais apoio e verba, gravadoras européias deram discos, produtores de várias origens contribuíram e montaram uma discoteca, a RCA deu um equipamento, técnicos de toda a parte contribuiram de alguma forma e assim foi surgindo uma rádio flutuante com um equipamento razoável, mas que serviria para concretizar a visão do Abi, e sem verba para nada. Nem para combustível. Claro que ele não iria conseguir permissão para transmitir em nenhum lugar do mundo, porisso a Voice of Peace foi uma rádio pirata de verdade, em todos os aspectos.
Com a embarcação pronta, rumou para o Mediterrâneo, indo aportar na costa israelense, onde se estabeleceu. Depois de muito tempo começou a transmitir na frequencia de 1540Kcs, com som mono e baixo, em ondas médias, o velho AM, afinal o transmissor era bem limitado.
Claro que as autoridades chiaram e foram atrás. Mas ele havia previsto isso e a rádio passou a modular apenas à partir de "águas internacionais", onde nenhuma marinha tinha jurisdição. Algumas vezes fui retirado do estúdio por soldados da força naval de algum país, geralmente Líbano, Chipre ou Israel. Mas acabavam mandando a gente embora depois de dar uma prensa e uma boa geral atrás de armas e bombas, afinal eram águas internacionais. Abi Nathan era bem conhecido e influente entre os políticos.
Uma fábrica de cerveja, a Goldstar, garantia a nossa verba para manutenção e combustível, mas a rádio não tinha comerciais, não abria espaço publicitário, vivia de donativos, a programação era livre e inovou no modo de locução, mas isso eu conto no próximo post.
Parte 3: A Operação
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Nossa programação era livre, sem planilha, feita de acordo com o espírito do operador no momento. Bastava esticar o braço na discoteca, encher um engradado de Lps legais e fazer uma boa discotecagem em tempo real. Nós tocávamos muito bluegrass e rock suave, que era como se conhecia o som de bandas como Eagles, Crosby, Stills e Nash, Neil Young, muitos psicodélicos e progressivos como Genesis e Pink Floyd.
Estava longe de ser uma programação comercial, era lado B mesmo, mas nada lá era comercial e dentro dos padrões. Não existia nenhuma obrigação além de manter um som legal rolando e passar mensagens pacifistas. Ninguém era amador, todos eram radialistas profissionais contribuindo voluntariamente com suas experiências pessoais e engajados na proposta pacifista da rádio.
O mais estranho era o fato do Abi ficar em seu escritório, em Tel Aviv, onde mantinha um link com o estúdio. Ele era um cara muito acessível, todo o mundo podia telefonar para ele e, se o assunto fosse interessante, ele chaveava, interrompia a programação e jogava no ar, afinal tudo relativo à paz era interesse de todos, então as pessoas ligavam com propostas, contavam casos e, o mais bacana, é que ninguém desrespeitava nem o Abi e nem a rádio. Eventualmente ele aparecia no barco e assumia a mesa. Era um show, porque ele não tinha papas na língua, reclamava das ações militares israelenses, criticava os palestinos, xingava a Onu, dizia que ninguém queria realmente a Paz. Acaba sendo detido quando desembarcava em terra, claro. Mas ele tinha amigos de porte, como o primeiro ministro Itzhak Rabin, que não queria ficar indisposto com a população. Quando nenhum apêlo do Abi dava certo, ele radicalizava e partia para greve de fome, tirava a rádio do ar. Aí os políticos apareciam na tv pedindo ao cara para suspender o protesto e tal.
Como eu disse, ele era um idealista muito teimoso. No próximo post eu contarei o que aconteceu com "The Voice of Peace".
Parte4: Final
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"From somewhere in the Mediterranean - We are the Voice of Peace, on 1540 kcs ". Esse era o slogan da rádio, conhecido pela moçada em todo o Mediterrâneo e base da primeira tentativa de promover a paz na região.
Abi Nathan tinha uma filosofia, e não importava o idioma que o locutor usava, porque sempre teria alguém que entendesse e assim a mensagem não se perderia. Todos éramos voluntários, oriundos de vários países e nosso idioma comum era o inglês ou francês. Ele recomendava que falássemos de Paz, era uma rádio pacifista. E tinha um lance muito legal: todos os dias às 5 da tarde, soava um gongo e parava tudo por 1 minuto, seguido de uma gravação que dizia: "à partir de agora, todos os dias, faremos 1 minuto de silêncio pelos nossos mortos e pelos mortos de todas essas guerras inúteis que desgraçam a humanidade".
Durante a guerra do Yom Kippur, em 73, ele usou as antenas para exortar os soldados de ambos os lados que depusessem as armas. O governo israelense interditou a rádio e todo o mundo foi preso. No começo dos anos 80 ele fretou 2 aviões na Grécia e foi levar ajuda humanitária para os palestinos refugiados no sul do Líbano. Ele era assim, muito difícil de ser dissuadido. Posteriormente se envolveu em campanhas humanitárias no Cambodja, Bangladesh e Biafra. Quando foi se reunir com o líder palestino Yasser Arafat em 91, já estava com certa idade, mesmo assim foi condenado a 18 meses de prisão. Durante a campanha do Kosovo, na Bósnia, sofreu um derrame que o deixou semi paralisado.
Abie Nathan morreu em agosto de 2008, aos 81 anos. Seu epitáfio diz apenas: "Nissifi - eu tentei". Sua fundação segue em busca da Paz pelo mundo, promovendo ações em zonas de conflito.
The Voice of Peace foi fechada definitivamente no começo dos anos 90 e o navio foi afundado para a tristeza de muita gente. Inclusive a minha, que fiquei muito passado com essa grande perda.

essa é última foto do "Barco da Paz", horas antes de ser afundado.

"Mike The Mike" Millard, uma história impressionante:
Uma gravação de Millard para os fãs de um concerto é realmente uma extensão do tempo. Voltar nos anos 60 e 70 através de gravação de mídia a partir de um deck de gravação, um conveniente cassete. Imaginem agir sorrateiramente num desses concerto hoje em dia. Provavelmente, o gravador secreto escolhido atualmente seria um celular ou mini gravador em mp3. Pequeno o suficiente para caber em seu bolso.
Mas o caso de Michael Millard era diferente...
Ele chegou cedo ao show perto da sua casa, puxou uma cadeira de rodas do porta-malas do seu carro e começou a deslocar-se para a arena como se fosse deficiente (Freqüentemente usava uma cadeiras de rodas que ele tinha para esconder seu equipamento, fato que por si só já é incrível). Era um concerto do Pink Floyd que prometia ser incrível.
Ele conseguiu garantir "assento" na primeira fila , quase à frente e no centro. Escondido debaixo de sua cadeira de rodas um gravador de cassetes estéreo Nakamichi, conectado à dois microfones AKG de alta qualidade. Seguranças naqueles dias, provavelmente desconhecem tais acontecimentos até hoje.
Suas gravações foram muito procuradas por sua qualidade - capturadas em extensão acústica de um grande ambiente, característico dos salões. Sua proximidade eliminou qualquer eco em suas gravações. Todos os instrumentos, gravados diretamente na frente dos alto-falantes frontais.
Ele tinha o hábito de marcar suas fitas, Millard nunca se envolveu em venda de bootlegs e foi abertamente contra a venda ilegal de gravações históricas - fato hoje que reduziu muito audiência de seus registros. Detestava as mafias que o pressionavam para comercialização, ficou famoso por "registrar" suas cópias de etapas históricas, por isso se alguma dessas gravações aparecessem para venda em LP ou CD, ele seria capaz de dizer qual pessoa estaria por trás do ocorrido. Ele mantinha um diário de gravações muito detalhado dos eventos através de marcações, exceções eram bastante raras.
Seus amigos dizem que ele destruiu todas as cópias de suas gravações do Led Zeppelin Recentemente, algumas cópias desmarcadas dessas gravações de primeira geração da história do Led Zeppelin surgiram em círculos de troca, um momento verdadeiramente histórico para colecionadores de todo o Mundo. Estes são os tapes que agora estão sendo negociados desde então.
Millard esteve ativo desde 1974 até os anos 80 e disse ter gravado shows do Led Zeppelin, Pink Floyd, Yes, The Rolling Stones, The Who, Jethro Tull e até Kansas. Até hoje, nunca encontrou-se uma cópia de suas gravações de The Who ou do JT. Os originais Zeppelin são conhecidos por estar de posse da família Millards.
Um amigo que o conhecia muito bem, após sua morte esteve na residência de sua mãe para ajudá-la organizar e embalar todo material existente e segundo ele, ela não teria outro objetivo senão manter tudo no quarto onde sempre estiveram. Tanto quanto se sabe, ainda estão no quarto onde ele estava vivendo "durante o último ano de sua vida". Esperemos que um dia eles venham ser compartilhados novamente.
A mais famosa gravação do Mike Millard foi o concerto do Pink Floyd, Cruel but Fair , simplesmente uma das melhores performances da turnê pelos EUA em 1975, aqui em qualidade muito superior a qualquer outro bootleg disponível deste show. A primeira parte é especialmente brilhante e divertido, Roger mastiga a segurança no final do primeiro set...(É possível que, se ouvir com atenção, perceba policiais batendo nas pessoas durante o show. Supõem-se que a Polícia estava realizando apreensões de drogas durante o evento.), hilário.
Tem uma versão linda de sax em "Echoes" e funciona maravilhosamente bem aqui. Se fosse para escolher, digamos, entre meia dúzia de versões, essa é uma das mais bonitas. Também contém as versões mais atuais de Dick Parry num solo de saxofone em "Echoes" e o protótipo "Raving e Baba" e "You Gotta Be Crazy", que se tornariam "Sheep" e "Dogs", respectivamente.
Depois de You Gotta Be Crazy, em um registro épico Dave Gilmour diria que "Era uma canção cruel .... Mas justa. Para então anunciar: "A próxima música que vamos tocar para vocês é mais um novo número, que é chamado de 'Shine On You Crazy Diamond'. Tem algo a ver com Syd Barrett, que alguns de vocês devem se lembrar ..... e alguns de vocês provavelmente não irão."
Minha homenagem ao Mike Millard, que trabalhava como zelador de uma escola pública e morava com sua mãe.
Em um momento de depressão, cometeu suicídio em 1990, alegadamente sofria de depressão severa.
veja o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=wCEotEtT8YA&t=5s

Trauma de locutor...
Quando era adolescente, em São Paulo, sempre ouvia a Excelsior Fm, a única que tocava algum rock além da Difusora Fm.
No fim dos anos 60 tinha um locutor legal lá na Excelsior Fm, o Antônio Celso, que apresentava um som mais moderno, os últimos lançamentos e a inevitável parada das dez mais.
Até aí, tudo bem. Mas o problema era que ele soltava uma vinheta em cima das músicas, para evitar que outras rádios, como a Difusora, pirateassem a programação. Era um inferno: os gravadores não tinham botão de pausa, a gente ficava com os dedos doendo, esperando para gravar aquele som legal que seria tocado na festa do sábado à noite.
Bom, microfone preso na frente do alto falante, a música começava, você soltava a gravação e, no melhor momento do solo, quando a banda dava "aquela" pausa de efeito ou entrava aquele riff que mexia com nossos corações, entrava a vinheta com a voz grave do Antonio Celso: "EXCELSIOR!!"...
...e ainda ficava com uma reverberação seca, o que aumentava ainda mais a nossa frustração. Maldita assinatura! eu ficava fulo da vida.
Fiquei traumatizado para o resto da minha vida, e todas as vezes que passei por alguma rádio, fiz questão de falar o mínimo possível, respeitando o direito do ouvinte, sem perturbar o prazer da audição. Jurei que nunca iria perturbar o público e sempre adotei essa postura nos meus projetos.
Mas aí é que entra a linha de trabalho de cada produtor.
Quem me ouvia apresentando a "Hora do Dinossauro", na Brasil 2000fm, lembra bem daqueles blocos de meia hora, formatados para gravação em fita k7. Eu sempre pensei muito nos ouvintes e na experiência que proporcionava para eles.
Era legal, todo o mundo gostava e gravava. Depois escreviam pedindo a playlist. Que falta fazia uma internet naquela época...

Tentando definir Rock Progressivo:
Ao longo da minha vida como produtor, muitas vezes me consultaram à respeito do termo “rock progressivo”. Durante o período em que estive na radio Brasil 2000fm, em São Paulo, produzi a "Hora do Dinossauro", que foi o mais progressivo entre os meus programas, e era comum ser procurado por alguém atormentado com essa questão. É divertido observar como o ouvinte de progressivo sente a necessidade de se situar. É interessado. Pede muitas referências. Sempre que se comenta sobre alguma banda desconhecida, logo vem a pergunta: "se parece com o quê?..."
Uma definição unilateral do progressivo sempre pode cair na armadilha de ser restritiva, já que uma característica comum entre todos os grupos era a tendência de fundir o maior número de linguagens possíveis. O rock fazia parte desta salada tanto quanto o jazz, o folk celta e variações da música erudita européia. As letras, que se desenrolavam em ambições metafísicas e filosóficas, não raro flertavam com ocultismo, teosofia e literatura fantástica. Mas temos que compreender que expressões como "rock progressivo, heavy metal, hard rock" e outras denominações, surgiram muitos anos depois, fruto da mídia que precisava rotular as tendências.
No fundo, aquele som era só um bom e honesto rock sendo produzido e apresentando suas raízes. O tipo de sonoridade que se ouve aqui, no RockPuro. As capas traziam ilustrações que mesclavam o surrealismo puro, arte clássica e verdadeiras obras de arte, também inspiradas em clássicos da literatura fantástica. Isso era a cultura tradicional européia deixando que as suas influências literárias orientassem músicos que, na quase sua totalidade, eram pequenos burgueses, que cresceram ouvindo Bach e outros clássicos.
Surgido na Inglaterra e Alemanha no final dos anos 60, o progressivo foi herdeiro direto das transgressões sonoras do psicodelismo que se fundiu com essa cultura clássica. Prefiro não rotular, para ficar livre de preconceitos e também ficar livre para descobrir novas propostas. Claro que tenho as minhas preferências, mas o foco da minha preocupação sempre vai ser em trazer para o público a "Lado B" do rock progressivo, justamente pela qualidade dos músicos. Devemos ouvir os trabalhos dessas bandas com respeito, considerando o período em que seus trabalhos foram gravados, todas as dificuldades técnicas que encontraram e suas inspirações tão diferentes.
Acredito mesmo que o ouvinte de rock progressivo seja um privilegiado, pois tem a mente aberta para as mais diversas linguagens musicais, exigindo apenas que a proposta seja inspirada e de qualidade. Sempre foi o meu público mais informado e interessado.

O absurdo jôgo dos 7 erros, ou uma manobrinha sem vergonha?
Numa época remota, quando todo o mundo aqui copiava tudo o que acontecia lá fora, as bandas de rock imitavam as boas bandas de lá. Até aí, podia-se dizer que as bandas estrangeiras eram referência e tal. Isso até dava para entender, afinal o mercado interno não prestaria atenção se a banda fizesse um som nacional, cantado em portugues. Plágio musical... era feio, mas muitos músicos daqui achavam que ninguém iria perceber, apostando na falta de informação do pessoal. Mas aconteciam casos que eram tão gritantes, que não tinha jeito de disfarçar a economia porca que as gravadoras faziam para não contratar bons profissionais tupiniquins. Muitas vezes roubavam descaradamente imagens de publicações estrangeiras, na maior parte européias, e utilizavam em capas de disco, afinal seria uma edição pequena a ser lançada só aqui, ninguém perceberia...
Nasci com olhar clínico para imagens, acho que nasci artista gráfico e sempre devorei qualquer tipo de imagem desde muito jovem. Quando virei adulto e comecei a ouvir o tal "rock progressivo", comecei a vasculhar os sebos europeus atrás de trabalhos não comerciais, raros mesmo. De repente, dei de cara com uma imagem conhecida que me chamou a atenção. Era um bolachão ingles de uma banda chamada Paladin, com capa do mestre Roger Dean, aquele cara surrealista que fazia as capas do Yes. Confesso que comprei muitos Lps só pelas ilustrações das capas. Mas era uma imagem que eu conhecia bem, de um vinil que tinha em casa, no Brasil. Era a mesma capa de um disco do Quinteto Violado, o primeiro, lançado pela Philips/Phonogram em 1972. Hoje é um álbum raro e muito procurado por colecionadores de vinil. Não exatamente por ter sido lançado há mais de 40 anos atrás ou mesmo por ser o primeiro do grupo.
A raridade vem de um fato curioso que aconteceu na época de seu lançamento. Em uma época em que no Brasil a questão de direitos autorais valia tanto como a lei que proibia fumar dentro de ônibus. Um tempo em que o respeito pela criação de outro não valia muito por essas bandas do sul (muitos dirão que isso ainda existe... ups!).
O fato é que ao lançar o disco do Quinteto, essaa gravadora resolveu usar uma ilustração do artista gráfico Roger Dean. Até aí tudo certo. O problema é que quem cuidou do trabalho de arte gráfica achou por bem alterar o desenho, sem autorização ou conhecimento do autor, claro. Deu uma de esperto, mexendo um pouco nas cores e transformando o cavaleiro cibernético em um vaqueiro nordestino (reparem o chapéu).
Os dois álbuns foram lançados no mesmo ano. Observem as diferenças nas capas. Com certeza, o cara que cuidou da capa do Quinteto nem sabia da existência do Paladin e muito menos do Roger Dean, cujo crédito de criação nem aparece no disco por razões óbvias.
Não tenho certeza, mas acho que foi no lançamento do disco brasileiro no Japão que eles se tocaram para o fato. A partir daí, o primeiro disco do Quinteto Violado passou a ter outra capa. Mudaram a ilustração, colocando em seu lugar a foto com pombas brancas voando no céu. Hoje, quem tem o lp com a capa inicial pode ter certeza de estar com uma raridade nas mãos. Colecionadores pagam muito bem por este lp.
Contudo, todavia e muito mais, vale ressaltar que o conteúdo musical deste disco do Quinteto Violado é pra lá de bom (o Paladin também). Vale a pena conferir os dois.

A Contracultura, seus reflexos e sua herança:
A Contracultura ocorreu à partir do meio dos anos 60 e foi, mais que tudo, uma luta no campo da ideologia e das relações de reprodução da vida social. A juventude tomava a vez, queria ditar o rumo de sua própria história e insatisfeita com o mundo ousou mudar também o rumo como o planeta Terra girava até então.
A Aldeia Global, idéia para fusão de todo planeta em um grande pólo cultural e não dividido em dois pólos ou em Ocidente e Oriente. Tabus culturais e morais deveriam ser exorcisados da sociedade moderna e pós moderna. A sociedade e suas divisões deveriam ser transportas como um mal real. O jovem queria estar firme para o início de uma nova era.
O conceito de Aldeia Global foi desenvolvido pelo teórico Marshall McLuhan. A ideia central deste conceito era que a tecnologia estava aproximando o mundo de tal forma que o planeta logo estaria se tornando uma aldeia, ou seja, os acontecimentos gerais afetam as particularidades dos indivíduos da mesma forma que ocorre numa pequena aldeia.
McLuhan observou principalmente a TV como um meio de comunicação que iria produzir este efeito de convergência econômica, política e social em nível mundial. Muitos teóricos, atualmente, afirmam que a teoria de McLuhan ganhou corpo com o advento da internet, que produz a globalização, ou seja, cria este tipo de convergência.
Sem a Revolução da Contracultura, isso não poderia ter ocorrido e as culturas continuariam ilhadas dentro de suas sociedades.
A postura pacifista redundou numa crescente crítica não só à intervenção militar mas aos valores globais da sociedade americana. Pregaram a desobediência civil, e, em grandes manifestações publicas, queimavam as convocações para o serviço militar.
Outra forma de contestação foi assumida pelo movimento hippie.
Incompreendido na época, com o tempo mostrou-se um sério movimento, com uma grande capacidade de contestação.
Formado por jovens de todos os níveis sociais, que ostensivamente vestiam-se de uma maneira chocante para o americano médio. Deixavam crescer barbas e cabelos, vestiam brim e trajes de algodão colorido. Passaram a viver em bairros separados ou em comunidades rurais. Rejeitando a sociedade de consumo industrial viviam do artesanato e, no campo, da horta. Não mantinham as regras esperadas de comportamento nem de acasalamento: “Paz e Amor” era o seu lema.
A Cultura Hippie se desenvolveu num universo próprio, com uma “vida alternativa”, que fazia uso drogas mais fortes como o ácido lisérgico, o LSD, e outras drogas psicodélicas experimentando uma abertura mental nunca antes imaginada. Seus ídolos literários foram o escritor alemão Herman Hesse, cujos livros concentravam-se em histórias orientais de iniciação e abandono à introspeção e à meditação nirvânica, e o poeta Dylan Thomas, um rompedor de regras.
Seu mestre pensante foi o psiquiatra Wilhelm Reich que associava a agressividade humana à repressão sexual praticada contra os adolescentes e os jovens em geral por adultos que consideravam o sexo pecaminosos e imoral. Reich defendia, paralelo à revolução política, uma Revolução Sexual.
A Cultura Hippie rejeitava abertamente tudo o que pudesse ser identificado como vindo do “americano médio” porque acreditavam que a essência da agressão ao Vietnã encontrava-se no âmago da sociedade tecnocrática, competitiva, individualista e consumista. Propunham uma contracultura (couterculture). Não formaram um partido político nem desejavam disputar as eleições. Queriam impressionar pelo comportamento, mudar os costumes dos que os cercavam para mudar-lhes a mentalidade.
O Woodstock e Maio de 68 na França são seus mais indiscutíveis marcos. A partir deles a contracultura adquiriu universalidade. As mulheres, os negros e os homossexuais, além dos jovens, sempre abaixo dos seus pais queriam voz ativa.
Freud disseminou o sonho como forma de expressão e suas manias, vícios e desvios como algo normal, mesmo que não bom, em toda a sociedade. Todos somos anormais e isso é normal.
Todas as instituições pareciam reprimir o homem ocidental que começou a buscar no oriente algo que lhes fizesse sentido real. O consciente coletivo precisava ser destruída e os indivíduos deveriam ter cada qual o seu pensamento, sua teoria, sua própria ideologia .
Rockeiros, freaks, beatniks, psicodélicos, motoqueiros, filhos da guerra fria, andarilhos, malucos, artistas desajustados e hippies. Independentemente do nome que lhes seja dado, já estavam por aí contestando os costumes estabelecidos.
Na França também se deu prioridade à luta ideológica, contudo as palavras de ordem “gozem sem entraves” e “é proibido proibir” não são questões da mesma esfera das lutas pela redução de impostos. Mas os franceses tiveram contra si um enraizamento cultural e institucional inegavelmente muito mais solidificado que os americanos, que produziram uma movimentação radicalmente pacífica e mais despida dos preconceitos dos europeus quanto à dimensão política das lutas ideológicas. Menos discurso formal e mais prática informal.

Difícil citar a Contracultura sem nos depararmos com o mal utilizado clichê: “sexo, drogas e rock and roll”. Todos sabemos que a música consegue romper a barreira das línguas com muito mais facilidade que qualquer outra forma de expressão. Não se pode negar que a contracultura gerou, na maneira em que estão hoje organizados, os movimentos de luta pela igualdade de direitos para todas as mulheres e em defesa dos homossexuais.
Os movimentos anti-racistas e pela legalização das drogas.
São também filhos da contracultura os movimentos pacifistas e as coloridas passeatas contra as guerras e pelo equilíbrio ecológico.
A maior parte dessas questões dos que são hoje chamados movimentos de minorias, (que em realidades são de imensas maiorias éticas), tomaram corpo e universalidade a partir da contracultura.
Até mesmo os hábitos alimentares e os conceitos de saúde foram postos contra a parede. A Contracultura plantou uma nova idéia de família, de casamento, das relações sexuais; de uma outra atitude para com a natureza, para com o próprio corpo e para sua relação com Deus.
Imagine o reflexo disso tudo tempos depois...
Foi um momento muito rico para jovens, estudantes e artistas, um momento de recusa e invenção. Começam ali várias experimentações contra o sistema, que impunha normas rígidas para se viver.
O Rock tem sido para os jovens ocidentais nos últimos cinquenta anos o veículo de comunicação por excelência; o canal por onde fluem seus anseios de liberdade, seu inconformismo, romântismo, sua loucura e sua lucidez.
Hoje vemos valores contraculturais absorvidos e tomados pela moda e mídia. É complicado encarar outra ótica além daquela bem rasteira, apresentada pelas grandes mídias, mas não seria uma forma de saber o que deu certo ou errado nas idéias da contra-cultura?

Quem foi que disse que rock não é coisa de mulher?
As mulheres foram sempre tão importantes quanto os homens no rock'n roll, inspirando, criando, interpretando e tocando músicas que ficaram para a história.
Ainda dizem que as mulheres não podem fazer as mesmas coisas que os homens com a mesma competência e qualidade. Errado. As mulheres tem a mesma capacidade e podem fazer sim algo com tanta qualidade e até melhor que os homens. Também é assim no rock and roll. O que temos de mulheres aí roubando a cena é impressionante. O que falar de Janis Joplin, qualidade incontestável, uma voz linda, uma atitude roqueira que marcou e marca até hoje a história do rock!
Depois da revolução dos anos 60, da luta pela liberdade sexual, invenção da pílula, a luta pela igualdade entre os sexos, pensou-se que talvez a mulherada começasse a se destacar mais em relação aos homens na música. Mas mesmo assim as meninas até hoje são quase sempre relegadas a um segundo plano no rock.
Falta de apoio das gravadoras, de público e de espaços decentes para tocar são só alguns dos entraves mais correntes encontrados pelas bandas femininas. Das que conseguiram destaque no final dos anos 60, poucas avançaram além do circuito alternativo.
Enfrentando uma sociedade machista e preconceituosa, elas foram aparecendo aos poucos e, apesar de serem bem aceitas hoje, ao menos no meio rocker, ainda são alvo de alguma discriminação e, mesmo hoje em dia, encontra-se poucos bons grupos de mulheres por aí.
A presença de Janis Joplin nos palcos influenciou uma geração que também fazia parte do movimento Hippie que atingiu seu auge do final da década de 60, e o festival de Woodstock mostrou ao mundo através da música um novo estilo de vida, que era contrário aos padrões culturais da época e também contribuiu para a aceitação de mulheres presentes no estilo. Após o sucesso do festival de 1969, a surpresa em se ver Janis cantando Rock’n Roll fez com que muitas fãs do estilo ao redor do mundo, começassem a ganhar seu lugar ao sol neste ambiente antes tão dominado por homens.
A expressão rock'n'roll foi utilizada pela primeira vez em 1951 em Cleveland, nos EUA, pelo disc-jóquei Alan Freed. Ele a retirou da canção "My Baby Rocks Me with a Steady Roll". Antes do advento do rock, a música rítmica era vista pejorativamente, associada ao preconceito racial.
O uso de rock, roll, rock and roll, com referência ao ato sexual, era usual no blues e serviu para denominar o novo gênero de música popular, híbrido que surgiu da mistura dos gêneros negros com a música branca e sua evolução para um ritmo mais forte, com uso de guitarras elétricas e letras voltadas ao público jovem.
Claro que, nesse contexto moralista e careta, não pegava bem para mulher alguma se misturar com esse tipo de Cultura. Imagine então a situação para as meninas adolescentes que queriam virar banda, fazer seu próprio som e ganhar espaço no mercado. A barra em casa pesava e muitas fugiam apenas para conquistar seu lugar no mundo do Rock.
Sempre que procuro por textos ou releases que falam sobre bandas femininas ou mulheres que estão à frente de grupos em que os demais integrantes são homens, o enfoque maior sempre é dado para a beleza ou para o visual das artistas e dificilmente, há alguma coisa falando da qualidade de suas músicas e trabalho. Isso demonstra que mesmo depois de muitos anos, ainda há muito machismo enraizado nesse meio.
Mulher na música sempre chamou a atenção. Sempre existiu a luta pela igualdade, o sexismo, os estereótipos, a luta pra se livrar deles... Aos trancos e barrancos, para o bem e para o mal, as mulheres estão na música.
Hoje em dia, mais pelo silicone e cabelos loiros falsos do que por talento... mas cada época tem o que merece, não é mesmo?

O Fillmore - Onde tudo se tornou realidade:
Fillmore West foi uma histórica casa de shows em São Francisco, Califórnia, fundada pelo empresário de rock Bill Graham em meados dos anos 60. Seu nome veio do do Fillmore original, que funcionava nas esquinas das ruas Fillmore Street e Geary Boulevard, em São Francisco, o berço do Flower Power.
Em razão da deterioração urbana da vizinhança e da capacidade muito limitada do Fillmore original, Graham decidiu mudar sua casa de shows para o local antes conhecido como The Carousel Ballroom e El Patio, nas esquinas da Market Street e South Van Ness Avenue. Renomeou o empreendimento para Fillmore West em contraste a seu Fillmore East, então em funcionamento em Nova York.
Foi no Fillmore East, de New York, que a coisa realmente ficou boa em termos de dólares. Bill Graham passou a ser considerado um dos maiores empresários do rock, o homem responsável por profissionalizar a coisa toda.
No Fillmore West aconteceram as maiores manifestações que firmaram a Cultura Psicodélica americana nos anos 60. Grandes shows com artistas muito jovens, iniciantes e desconhecidos, com inspiração levada pelas viagens lisérgicas do LSD. Era uma época de transformações profundas na sociedade, o Viet Nam ceifava as vidas dos jovens, a Contra Cultura tomava impulso para ser a mais importante transformações nos credos e valores da sociedade da época. Foi lá que um bando de gente chapada armou uma revolução sonora e Bill Graham, o empresário, estava no lugar certo na hora certa e soube se aproveitar disso. Afinal o palco era dele.
Filho de uma família judia de classe média que emigrara da Rússia para a Alemanha, com a ascensão do nazismo Graham foi colocado em um orfanato por sua mãe. Posteriormente foi transferido para um orfanato na França em um acordo pré-Holocausto que permitia a troca de crianças judias por cristãs, mas com a Queda da França foi mandado de volta à Alemanha.De 36 crianças, ele foi uma das seis únicas que sobreviveu, quase por milagre.
Sobrevivente da Grande Guerra, foi para os Estados Unidos e adotou o nome Bill Graham, escolhido em uma lista telefônica, após ser tachado de nazista devido a seu forte sotaque alemão
Bill Graham trouxe, com o seu Fillmore, mais do que apenas rock psicodélico para a atenção do mundo. Ele também foi responsável por divulgar uma parte bastante significativa do melhor da arte psicodélica. 
Os concertos precisavam promoção e Graham chamou os melhor artistas psicodélicos São Francisco para produzirem cartazes para cada show. Essas artes também eram usadas em cartões postais, enviados para as pessoas para fazer propaganda e anunciar as próximas bandas. Os ingressos também eram impressos com os desenhos. A alta qualidade desta arte é muito reconhecida e cartazes originais do Fillmore e outros locais da área aumentaram significativamente em valor nos últimos anos. A arte também continua a ser exibida em galerias importantes em todo o mundo.
Graham já administrava o Fillmore Auditorium (depois Fillmore West), em São Francisco, mas na nova casa o negócio se tornou realmente grande. O Fillmore East ficava no East Village, em Nova York, e era lá que a nata da música pop dos anos 60 se apresentou e gravou discos.
Pelos seus palcos passaram nomes como Grateful Dead, The Doors, The Who, Cream, Eric Burdon & The Animals, Creedence Clearwater Revival, The Beach Boys, The Allman Brothers Band, Derek and the Dominos, Country Joe and the Fish, Janis Joplin e Big Brother and the Holding Company, Mountain, Humble Pie, Led Zeppelin, Neil Young and Crazy Horse, Pink Floyd, Procol Harum, John Mayall, The Byrds, Jefferson Airplane, Frank Zappa, Canned Heat, Miles Davis e muitos outros.
Na passagem dos anos de 1969/70 a casa de shows Fillmore East, em New York, recebeu a apresentação de Jimi Hendrix e sua Band of Gypsys, um de seus espetáculos mais memoráveis da história. O show foi gravado ao vivo quando Jimi Hendrix, um dos artistas mais importantes da época se encontrava em um momento musicalmente iluminado. Havia acabado de reformular sua banda para desbravar novos caminhos, incorporando o baixista Billy Cox e o baterista e vocalista Buddy Miles. O show, registrado em filme e em disco está disponível até hoje.
No começo da década de 1970, Graham decidiu afastar-se da indústria musical, fechando a casa em 4 de julho de 1971 com uma leitura de poesia por Allen Ginsberg e concertos das bandas Santana, Creedence Clearwater Revival, Grateful Dead, Quicksilver Messenger Service, It's a Beautiful Day, Cold Blood, Boz Scaggs, Elvin Bishop, Hot Tuna....
No local que abrigou o Fillmore West encontra-se atualmente uma concessionária de automóveis.


The Concert For Bangladesh, um pouco de história, um capítulo importante:
Bangladesh na época pertencente ao Paquistão, foi assolado por um ciclone, em novembro de 1970, que deixou cerca de cem mil pessoas desabrigadas. A tensão provocada pela catástrofe levou a criação do estado independente de Bangladesh que, por sua vez, gerou uma situação de miséria entre a população carente que comoveu o mundo. Nunca tinha sido visto nas Tvs tamanha tragédia.
Atendendo ao apelo do amigo (e músico indiano) Ravi Shankar, George Harrison organiza o evento "The Concert For Bangladesh" para ajudar as vítimas da fome e da guerra na região sul da Ásia.
O show aconteceu no Madison Square Garden, em Nova York, no dia 01 de agosto de 1971, um domingo. Foi assistido por mais de 40.000 pessoas.
A intenção original de George Harrison era promover uma reunião dos Beatles no Concerto de Bangladesh, que só não se concretizou pois John, ao saber que George não queria Yoko Ono no palco, declinou do convite, e Paul recusou-se a comparecer pois na época Harrison estava movendo um processo contra ele.
George Harrison, então estourado no mundo inteiro com My Sweet Lord, convocou os amigos. Nem precisava. Ele sozinho seria o suficiente para lotar o Madison Square Garden, em New York, onde aconteceu o show que completa exatas quatro décadas (em 1971, o dia 1° de agosto caiu num domingo). George Harrison estava no auge de sua carreira solo, e ainda envolto pela mística dos recém-separados Beatles. Mas os amigos que aceitaram seu convite, não ficavam atrás dele no item mito. Eric Clapton ainda era o “Deus” da guitarra, e Bob Dylan faria sua primeira apresentação pública desde o acidente de moto, que quase o mata, em 1967.
Aquele seria o primeiro grande show solo de Harrison depois do fim dos Beatles. Com dois concertos, um à tarde, outro à noite e um set cheio de sucessos. A plateia foi ao delírio com o time de amigos convocados.
Eric Clapton, Bob Dylan, Ringo Starr, Billy Preston, Leon Russell e Badfinger, todos tiveram seu momento de brilhar. com um set cheio de sucessos e uma banda de apoio competente, o ex-guitarrista dos Beatles tinha a platéia nas mãos.
Uma coisa que ninguém se toca, foi o esforço tecnológico para o Concerto de Bangladesh.
Era 1971, foi marcado às pressas, não havia tecnologia, mesmo assim, a engenharia de som conseguiu o fenômeno mde utilizar até 44 microfones, ao mesmo tempo, numa época em que as mesas de som tinha, no máximo, 12 canais, Fizeram uma cascata de mixers!
O show rendeu US243 mil (uma fortuna na época), o disco triplo com a música, o filme, lançado em 1972, rendem até hoje recursos para ajudar vítimas de outras catástrofes semelhantes.
O problema foi fazer chegar os recursos aos necessitados. No meio do caminho havia várias pedras, entre estas, corrupção e burocracia.
Como não foi feito inicialmente diretamente com a Unicef, o feroz imposto de renda americano caiu em cima da renda do evento. A solidariedade dos roqueiros levou mais do que alimentos e roupas para os desabrigados, tornaram Bangladesh um símbolo de luta de um povo contra a opressão. Era 1971, mas ainda restavam ecos dos ventos libertários da contra cultura, de 1968.
Foi o último grande show de rock dos anos 60. O espírito da época, com muito de ingenuidade, infelizmente, está contido ali.
Paz e Amor, pessoal!

Essa eu preciso contar pra vocês:
É uma história muito engraçada que aconteceu aqui no meu outro estúdio num outro dia, tempos atrás. um amigo antigo, daqueles que gostavam de passar a noite ouvindo um som comigo, passou aqui para me visitar.
Trouxe os dois filhos, uns garotinhos curiosos com menos de 10 anos de idade. Meu amigo ficou super empolgado com a rádio, eu estava editando uns sets, e começamos a falar dos meus queridos discos de vinil. Lembramos um monte de som legal, vimos as capas com aquelas artes incríveis...
Peguei então uns álbuns nas prateleiras e comecei a limpar, passar uma espojinha anti-estática e tal.
Os garotinhos não entendiam nada e eu fui explicando que aquilo tocava música, deixei eles segurarem, pegando pelas bordas, expliquei que estragavam fácil, aquele ritual que a gente passou a vida praticando.
Mas quando levantei a tampa da minha mesa e apareceram os meus maravilhosos tocadiscos Garrard, SPII, que não é esse da foto ao lado, com contrapeso e strobe, os meninos piraram.
Os olhos deles arregalaram. Nunca tinham visto nada como aquilo.
Perguntavam tudo, mostrei as agulhas, tão delicadas, conferiram o braço e os contrapesos, girei os pratos, pus a bolacha e Tchamm!!! foi aí que maior sonzeira saiu das caixas. Eles ficaram espantadíssimos, só conheceram mp3 e som de celuar na vidinha deles. Só sei que tudo virou um show e uma experiência que comentam com todo o mundo. Eu queria ter ouvido a explicação que deram para a mãe deles...

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