Entre os movimentos culturais mais importantes do século XX, a Psicodelia foi a mais abrangente, influenciando do cinema à música, moda, literatura e artes plásticas. Foi um movimento intelectual de grandes proporções. que quebrou paradigmas e suas influências são perenes. Pela primeira vez as pessoas "viam" os sons e músicas passaram a ser compostas para trazer essa sensação. Muito marcante a influência direta do LSD como combustível para as mentes e os instintos criadores dos artistas.
Esse rico panorama gráfico, surgido desse período de explosão cromática é comentado pela artista
Natália Cristine.

Expansão do movimento psicodélico – ‘Hapshash and the Coloured Coat’

O estilo psicodélico se espalhou pelo mundo. A Inglaterra também contribuiu consideravelmente com o movimento, não somente com a música, mas também com lindos trabalhos visuais.

Tudo começou quando a ‘International Times’ (jornal ‘underground’ de Londres) divulgou uma pequena nota sobre o ‘Festival of Love - UFOria!’ em fevereiro de 67... Daí surgiu a necessidade de produzir pôsteres, como nos EU, para melhor divulgar os eventos musicais.

Michael English e Nigel Waymouth:

Em 1966 o artista Michael English conheceu Nigel Waymouth.
Os dois decidiram unir seus talentos
para produzir pôsteres para shows.
Inicialmente eram conhecidos
como ‘Cosmic colors’, porém fizeram apenas
um pôster com esse nome.
Em seguida, optaram por ‘Jacob and the Coloured Colors’,
depois, enfim, ‘Hapshash and the Coloured Coat’.
Assim como havia a ‘Family Dog’ nos Estados Unidos,
o grupo fornecia pôsters psicodélicos para
casa de shows como ‘UFO’, ‘Saville Theater’, entre outros.

 

Tiveram seus trabalhos reconhecidos.
A companhia ‘Osiris Visions’, a qual passou a
imprimir e divulgar tais pôsteres, possui uma
série com cerca de 100 cartazes, divididos em cinco partes,
da ‘Hapshash and the Coloured Coat’.
São inúmeras as lindas imagens produzidas
por estes dois artistas.
Aplicavam diversos ‘truques’ ópticos, como
formas espiraladas e derretidas, muita cor
em cima de belos desenhos ou fotografias.

 

Além das artes visuais, os dois amigos
também se arriscaram na música.
Ainda em 67, lançaram o álbum
‘Hapshash and the Coloured Coat -
Featuring the Human Host And the Heavy Metal Kids’
(dizem que essa foi a primeira vez que alguém
utilizou o termo ‘Heavy Metal’,
apesar do som não ser nada pesado.
Era totalmente experimental, com longos improvisos...).
Depois gravaram um segundo LP - Western Flier.

 

 

Martin Sharp

Outro artista que se destacou na Inglaterra foi o australiano Martin Sharp. Multifuncional, além de desenhista era também compositor e cineasta! Em 1960 estudou na National Art School em Sydney. Em 1963 foi convidado para ser diretor de arte e ilustrador das capas da Revista OZ junto com os editores Richard Neville e Richard Walsh.

Produziram até 65, contudo foram advertidos por publicações obscenas e quase foram presos. Em 1966 Sharp, após o acontecido, mudou-se para Londres onde publicou um livro com vários de seus desenhos, ao mesmo tempo em que corria atrás de uma nova oportunidade.

No clube noturno de Londres The Speakeasy ele conheceu Eric Clapton, o qual estava em busca de uma letra para uma música que ele havia composto. Sharp comentou com o músico que havia escrito um poema, e assim nasceu ‘Tales of Brave Ulysses’ do disco Disraeli Gears do Cream em 67. Não só contribuiu com a letra de uma música, como também produziu a capa do disco, fazendo uma linda ilustração em cima da foto do grupo, tirada por Robert Whitaker. Com esse disco, ele recebeu o prêmio New York Art Directors...Foi convidado também para a criação da capa de Wheels of Fire no ano seguinte.

Teve o trabalho reconhecido tornando-se requisitado por muitos.
No final dos anos 60, mudou-se para The Pheasantry, uma antiga casa onde moravam vários artistas (no porão desse edifício havia um ‘nightclub’ onde
grupos como Queen, Hawkwind, entre outros se apresentavam).

Enfim, Martin Sharp apresentou diversos trabalhos em exposições na década de 70 e hoje é um artista pop respeitado nas galerias de arte.
Seu trabalho é caracterizado pela técnica mista: explorava colagem de fotografias junto com pinturas deixando várias texturas e uma explosão de cores que irradia por toda a imagem.

Mike McInnerney:

Mike McInnerney também atuou no cenário psicodélico inglês. É fácil identificar seus trabalhos entre tantos do movimento: As suas figuras parecem terem sido derramadas de um balde de tinta criando lindas formas trazendo muitas sutilezas. Além da produção de pôsters, seu trabalho mais conhecido foi para a capa da ópera rock ‘Tommy’ do The Who de 1969. No LP havia uma capa tripla que continha uma esfera com detalhes de pássaros, núvens entre outros elementos como uma mão parecendo rasgar o desenho...

"Turn on, tune in, drop out" Timothy Leary (um pouco mais sobre o movimento psicodélico)

O movimento surrealista se apoiou nos estudos sobre os sonhos feitos pelo psicanalista Freud. Os artistas tentavam dar vida ao inconsciente e aos seus sonhos ao criarem universos surreais.

Assim como esses artistas, o movimento psicodélico também teve como referência um psicólogo: Timothy Leary e suas pesquisas sobre LSD (criada, acidentalmente, pelo Suíço Albert Hoffman em 1943) e outros alucinógenos.
Ele escreveu alguns livros contando suas experiências com o uso do LSD-25 e a de alguns de seus pacientes.

Até então, a droga não era usada para ‘viajar’ ou para ‘ver elefante colorido’ como é para muitos. Era utilizada com fins terapêuticos, na tentativa de alcançar outros níveis de consciência. Buscavam o que está além de nós: o imaterial.
Enfim, foram essas pesquisas e experiências pessoais de cada artista que ajudaram a moldar o estilo psicodélico.

Stanley `MOUSE´ Miller e Alton Kelley

Estes dois artistas plásticos se conheceram em São Francisco no ano de 1965. Stanley ‘Mouse’ Miller era um recém formado estudante de artes e Alton Kelley um talentoso artista autodidata.

Kelley, junto com outros artistas e com
os integrantes do ‘The Amazing Charlatans’
(já citados nessa coluna),
faziam parte da comunidade hippie ‘Red Dog Saloon gang’.
Com a chegada de Stanley,
o grupo virou o famoso ‘Family Dog’.
Promoveram alguns shows e festas onde o uso de
alucinógenos era freqüente.
Tentavam, através de efeitos sonoros e luminosos,
reproduzir os efeitos dos compostos.
Em 1966, Chet Helms (também já mencionado nesta coluna),
virou líder do grupo, produzindo várias
apresentações na casa de shows Avalon Balroom.

Mouse e Kelley passaram a fazer posters de divulgação juntos.
Influenciados, não somente pelas experiências alucinógenas,
mas também pela arte do pintor Alphonse Mucha,
pela cultura indígena americana, cultura chinesa,
Art Nouveau e Deco, faziam estranhas imagens gráficas para diversos shows que ocorriam diariamente.
Produziram posters também para o produtor
musical Bill Graham, do Fillmore Auditorium.
Foi uma importante dupla de artistas e
deixaram uma grande contribuição visual para o
movimento psicodélico.
Victor Moscoso e outros artistas, em alguns momentos,
também trabalharam para a ‘Family Dog’.









É fácil identificar, entre tantos posteres,
quais shows foram produzidos
pela ‘Family Dog’: basta procurar pelo símbolo!

 

Rick Griffin

Nascido na Califórnia em 1944, Richard Alden Griffin, juntamente com Stanley Mouse, Alton Kelley, Wes Wilson e Victor Moscoso, formavam o ‘Big Five’, dominava o mercado de pôsters psicodélicos.

Começou como surfista, ilustrador de revistas e pôsters de surfe
(aos 13 anos, inspirado na revista ‘Mad’), pintor de carros e motos.
Na adolescência sofreu um acidente de carro.
Um de seus olhos deslocou e
parte de sua face
ficou deformada o que o
obrigou a usar um tapa-olho e deixar a barba
e os cabelos crescerem.



Na faculdade de arte, conheceu sua mulher, a artista Ida Pfefferle. Em 1966, ambos pegaram uma Van e se juntaram a um grupo de músicos-artistas plásticos, ‘The Jook Savages’. Em São Francisco, Rick passou a ilustrar as divulgações das apresentações desse grupo. Logo chamou a atenção de vários produtores, inclusive da ‘Family Dog’, para a qual produziu diversos trabalhos.

Além de posters, deixou sua marca em capas de discos
e revistas (‘Zap comix’, ‘Snatch’, ‘Tales from the tube’, entre outros).
Em 1970, converteu-se ao cristianismo e, assim,
passou a divulgar mensagens da
religião através de sua arte.

Em 1991 ele recebeu uma ligação de
uma loja dizendo que haviam
vendido um de seus trabalhos por $1800.
Voltando do local com sua Harley Davidson,
tentou, sem sorte, ultrapassar uma Van
e foi arremessado para fora da estrada.
Três dias depois ele morre.

As principais características de seu trabalho
são as riquezas de detalhes, cores vivas,
presença de elementos, como o mar, o olho,
figuras nativas, besouros e esqueletos.

O Poster

O poster é uma mensagem visual feita pela mistura de palavras escritas e imagens gráficas (abstratas ou pictóricas), que tem como intenção gerar uma impressão instantânea no espectador. Não é uma imagem ilustrando um texto e nem um texto explicando a imagem, mas sim uma fusão entre os dois elementos.
São utilizados para conduzir as pessoas a uma ação específica: ir ao teatro, comprar um produto, tomar uma posição política ou social...

Direcionados para uma audiência jovem, rebelde e também usuária de drogas, os cartazes psicodélicos gerou um grande impacto para a época! Para muitos, essas imagens tinham difícil compreensão, causado pelas composições confusas onde as mensagens eram quase ilegíveis. Um redemoinho de linhas e cores destoantes. Alguns posters tornaram-se quebra-cabeças para serem entendidos em primeiro instante por pessoas que conheciam a experiência e diferentes sensações proporcionadas pelo uso de LSD (os artistas psicodélicos baseavam-se em experiências pessoais com o ácido), o que excluia muitos não-iniciados.

Victor Moscoso


Um grande exemplo dos posters não compreendidos
foram feitos pelo artista Victor Moscoso (1936).
Assim como dito acima, um poster tem a função
de transmitir uma mensagem imediata, de forma simples,
o que não acontece quando olhamos
para algumas das criações de Moscoso.
Para entendermos, é preciso muita observação!

 

Ele foi um dos cinco grandes nomes que contribuiram
para a parte visual do movimento psicodélico.
Devido ao estranho uso de cores vibrantes
(feito pelo constrate entre tons, sendo que o
rosa está presente em grande parte) e
formas variadas em cima de fotografias (influenciado pela Arte óptica),
foi um artista que chamou atenção por ser diferente,
ganhando assim o destaque que possui hoje.
Além dos posters, trabalhou também como
ilustrador de revistas, jornais, quadrinhos
(‘Zap comix’), capas de discos e comerciais de animação...

 

Bob Masse



Canadense, mudou-se para Califórnia na
década de 60 e começou fazendo posters para
os festivais de folk (em troca de bebidas e ingressos para shows).
Logo foi convidado para ilustrar o psicodelismo
que ganhava forças em 67.
Acompanhou vários grupos de rock da época
e continua até hoje ilustrando a
divulgação de muitas apresentações.


Seu estilo é bem variado: ao mesmo tempo
que explora os efeitos psicodélicos, não deixa de lado
a influência da Art Nouveau em seus
lindos e detalhados desenhos.





O uso de fotografias também é
frequente em suas criações.
Transformou seus cartazes em
verdadeiras obras de arte!

 

 

George Hunter e Mike Ferguson

 

do grupo The Charlatans são considerados os responsáveis por fazer o primeiro poster psicodélico do rock! Influênciados por suas experiências com LSD, fizeram o próprio poster do show de estréia do grupo, apresentando um visual muito diferente para os padrões da época.

 

A imagem foi criada em 1965 e tem hoje o apelido de The Seed (a semente). Eles deram o ponta-pé inicial para esse estilo que ganhou vários seguidores.

 

Os Posters dos Festivais Históricos

Monterey Pop Festival teve posters desenvolvidos por um dos artistas mais importantes e requisitados da música: Tom Wilkes. Além de ter criado estes dois posteres, foi também o diretor de arte do evento.

Na criação do poster da esquerda,
trabalhou algumas formas onduladas e
repetitivas em cima de uma fotografia.

Um estilo psicodélico, o qual iria ganhar
cada vez mais força e presença em
outros cartazes e capas de discos da época.

A segunda imagem,
uma simples e bonita xilogravura que teve tiragem limitada.

O trabalho de Tom Wilkes também
pode ser visto nas capas de discos
como: Harvest - Neil Young,
All things must pass - George Harrison,
Pearl - Janis Joplin
e etc.

 

 

Foram 3 posters diferentes para o Woodstock Festival sendo 3 originais e um mais barato:

O primeiro foi feito por David Byrd (autor das capas dos discos: Tommy –The Who, Jesus Christ Superstar, Godspell, etc).

Só que os organizadores não gostaram muito, apesar de ser um lindo trabalho.

Queriam algo mais simples !!


Convidaram então Arnold Skolnick, o desenhista.
Foi ele o responsável pelo famoso
pássaro pousado no braço do violão.
É imediata a associação que fazemos entre essa imagem
e o Woodstock Festival,
Originalmente o cartaz era todo em preto e branco,
em texturas e detalhes.

 

 

Quando o festival foi transferido
de Wallkill para White Lake,
aproveitaram para dar cor ao cartaz.

 

 


Existe um outro misterioso poster, feito pela
empresa Tribune showprint, que também contribuiu
com a divulgação do festival,
apesar de ser cheio de informações erradas...

David Fairbrother Roe foi o artista que criou, não somente os posters das três primeiras edições do Festival da Ilha de Wight, mas também fez o design dos ingressos.

Seu estilo é rico em detalhes
e cheio de fantasia.
Ilustrou também alguns livros e
importantes capas de discos
como Hair of the Dog, do Nazareth
e Olias of Sunhillow,
do Jon Anderson
, entre outros.

 

 

The Fillmore Auditorium – O berço do movimento Psicodélico!

The Fillmore Auditorium, localizado em São Francisco-California, foi um dos espaços mais importantes para o surgimento do movimento psicodélico.
Organizado pelo empresário Bill Graham e liderado pelo produtor Chet Helms. Os dois são considerados os pais do 'Summer of Love' de 1967 por terem patrocinado várias bandas como Grateful Dead, Jefferson Airplane, Cream, The Doors, Jimi Hendrix, Ten Years After, The Allman Brothers, entre outros grandes grupos!
O psicodelismo (manifestação da mente) esteve presente, principalmente, na divulgação dos shows. Foi a era de ouro do LSD, com todas as suas cores sonoras.
O formato dos posters seguiam a receita: letras distorcidas, com formas livres, coloridas, inspirados pela Art Nouveau, a Pop e Optical Art...
Vários foram os artistas que contribuiram para o surgimento desse estilo artístico:

WES WILSON

Pai dos posters psicodélicos e principal influência
para outros artistas, Wes Wilson (1937) começou sua
formação como estudante de filosofia e religião.
Foi apenas mais tarde que ele manifestou seu interesse
e talento para as artes.
Em 1956, junto com um grupo de psicologia,
ele obteve seu primeiro LSD, o qual era usado
em programas de pesquisa.
Em 60 mudou para São Francisco e lá fez
seu primeiro trabalho: um poster protestando
contra o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã.

Com esse poster chamou a atenção do produtor
Chet Helms
que o convidou para elaborar alguns cartazes.
Fez vários trabalhos também para Bill Graham.
Ambos deram total liberdade para ele criar a sua maneira.
Preenchia todo o espaço com letras e formas flúidas,
dinâmicas, cores vibrantes, imagens (fotografias ou desenhos)
geralmente distorcidas, vários símbolos que estavam
presentes em sua filosofia ou
representando a contra-cultura...

O trabalho foi ficando pesado para ele,
que deixou de trabalhar para Helms.
Com Graham teve atritos devido as exigências
e a grande demanda.
Ele não queria que seus posters
fosse apenas um produto.
Queria transformá-los em
obras de arte.

 

 

BOONIE MACLEAN

Mulher de Bill Graham, Bonnie MacLean
foi totalmente inspirada pelo estilo de
Wes Wilson
.
Ela foi sua sucessora na produção
de posters para a Fillmore Auditorium.

Deixou uma linda contribuição
para o movimento psicodélico.
Suas criações tinham, em sua maioria,
figuras femininas, muita riqueza e
delicadeza nos detalhes.

 

 

 

LEE CONKLIN

Voltando da guerra na Koreia,
Lee Conklin
(1941) mudou-se para
California presenciando todo
o ‘Summer of love’.
O visual colorido daquele momento
estava por todos os lados e Lee,
intusiasmado, passou a ser um dos artistas
que criava posters, não somente para a
Fillmore Auditorium, mas também
para outros espaços que
adotavam o estilo psicodélico.

Seu trabalho era bem variado:
algumas vezes coloridos, criados
em cima de fotografias, e outras em
preto e branco, contendo imagens
repletas de fantasias.