Rotular bandas sempre foi uma tarefa muito problemática.
Ainda mais dentro do cenário do rock dos anos 60 e 70, em que toda a produção artística coexistia numa entropia misteriosa. O objetivo desta coluna é traçar um pequeno panorama das obras musicais que rolam na programação, cujas bandas muitos ouvintes talvez sequer ouviram falar.
Ronaldo Rodrigues traz as suas impressões visando orientar aqueles que desejam uma boa viagem musical.

 

Mason – Harbour (1971)

Trio polivalente formado na Vírgina, nos EUA, em 1968. O baixista James Gaylon, o principal motor do grupo, cuidava do baixo e das guitarras e dos instrumentos de sopro (saxofone e flauta); Steve Arcese cuidava do Hammond e tinha poderosa voz para cantar as músicas da banda; por fim, Morgan Hampton era o cara da bateria e percussões, além de ajudar nos vocais também. E cada instrumento desse está mais em evidência nas diversas faixas, o que dá um tempero todo especial ao disco. O Hammond, quando mais presente, em uma regulagem bem agressiva, supre a ausência da guitarra e complementa muito bem a voz principal, além de fornecer os melhores tecidos para as partes mais climáticas do disco. E tem também os momentos puramente pesados e ácidos, com aquela cartilha que os fãs adoram - pegada forte na bateria, baixo com força perspassando todo o som, delírios guitarrísticos e bons vocais. Um disco bem interessante de uma banda que não foi além da estréia.

Atoll – Musiciens-Magiciens (1974)

A belíssima capa, deste que é o primeiro disco desta banda, dá claros indícios de que uma grande viagem sonora por paraísos sonoros desconhecidos está ali escondida. Este quinteto francês, formado na cidade de Metz, hoje desfruta de um certo reconhecimento nos meios dos fãs do rock progressivo, mas na época passou um pouco batido. Sua musicalidade é excepcional, muito rica, valendo destacar o trabalho de guitarras e da bateria. O som do grupo é bastante dinâmico, não se prendendo em excesso a flutuações sonoras semi-estáticas e também tendo o balanceado senso para trabalhar bem as idéias, ao que podemos os associar sem culpa com os bons momentos do Nektar, do Genesis e do Yes.


Karthago – Second Step (1973)

A banda Karthago, é alemã, mas sem afirmar isso, dificilmente pelo som e pela época de seus discos, diríamos se tratar de uma banda alemã, porque seu som passa longe das divisas que o chamado kraut-rock estabeleceu. O disco em questão é muito interessante dentro do espectro do rock progressivo e da ecleticidade do período art-rock. Os elementos do som são bem distribuídos e vôos tecladísticos e guitarrísticos aparecem com muita competência. Lembram um pouco os americanos do Kansas, com um progressivo que passeia bem por elementos do hard-rock e da música pop e no caso do Karthago, até trazendo alguns toques de música latina. Era um time de ótimos músicos, numa proposta bem definida e agradável. Contava com Ingo Bischof, que também foi músico do Kraan e Gerald Hartwig, que integrou o Embryo..  

Man – Man (1970)

Um disco curioso de uma banda igualmente curiosa e peculiar. São apenas 5 faixas no disco e cada uma atirando para uma direção, fazendo nos pensar que seriam 3 ou 4 facetas diferentes da banda no curto espaço de um mesmo disco. Podemos agregar as duas primeiras faixas, “Romain” e “Country Girl” dentro do estilo norte-americano de rock, com claras referências ao boogie-blues e country-rock. Talvez até a quarta faixa também caiba nesse conglomerado, “Daugther of a Fireplace” é também repleta de blues, só com que os dois pés no acelerador, já beirando um hard rock. A suíte que finaliza o lado A e a suíte que finaliza o lado B são pérolas do acid-space rock. Repletas de tensões e latências de toda a sorte, com suas bases hipnóticas e efeitos sonoros, são muitos distintas e já de cara exigem uma decisão do ouvinte de não ficar alheio a suas intervenções. A suíte “Alchemist” tem uma afinidade intensa com o som das bandas alemãs mais maluquetes daquele momento, como o Ash Ra Tempel e o Guru Guru.

Pavlov’s Dog – Pampered Menial (1975)

Banda norte-americana de rock progressivo, oriunda de St. Louis, cuja trajetória começou em 1970. Ao nome da banda cabe uma pequena explicação. O nome “Cão de Pavlov” vem da história do fisiologista russo Ivan Petrovich Pavlov, que em experiências com cães, contribuiu para o desenvolvimento da psicologia comportamental. Esse grupo poderia facilmente entrar nos anais dos clássicos do rock progressivo setentista, não fosse pelo controvertido timbre vocal do vocalista David Surkamp. Há quem ame, há quem não suporte. Quanto ao instrumental da banda, esse é inquestionável – muito afiado, repleto de mellotrons e belas texturas, com passagens de flauta e violino e com guitarras cortando com precisão o som. Com relação ao vocal, além do timbre peculiar e já por si só desengonçado, ele ainda carrega muita dramaticidade e por vezes se perde em sessões desagradáveis de berrarias. Seus melhores momentos já justamente onde ele caminha de forma mais contida, sem tentar se descolar tanto do instrumental.


Flash – Out of Our Hands (1973)

Flash foi uma banda inglesa formada pelos dissidentes do Yes, Peter Banks (guitarra) e Tony Kaye (teclados), sendo que ele só esteve presente no primeiro album. E de uma ninhagem tão nobre não sairia algo ao qual se chama no mínimo de “jóia” do rock progressivo. Esse é o 3° e último disco, vasto de uma particular sapiência musical e um vocabulário balanceado de idéias arrojadas, produzindo um trabalho pulsante e sofisticado. A audição é contantemente surpreendida pela alternância de momentos puramente cerebrais com outros em que o som flui mais através dos instintos. O crescente sucesso do Yes na época ofuscou a trajetória do Flash, prematuramente forçada a terminar, deixando apenas um pequeno, porém precioso, legado musical.

Chicken Shack – Imagination Lady (1972)

O fim da década de 60 gestou uma geração de bandas que se destinavam a traduzir, de uma maneira bastante própria, o blues norte-americano na Europa. O Chicken Shack era um dos combos que fazia bonito pelos pubs nevoeirados da Inglaterra, tocando com garra seu som. Os anos foram passando, muitas mudanças de formação e mudanças no som até chegarem em “Imagination Lady”. O capitão da baderna, Stan Webb (guitarra), decidiu apostar num som pauleira e bem desamarrado, que fez (e faz ainda) a cabeça de muita gente. A fórmula do disco é bem simples: banda tocando alto e muitos improvisos de guitarra. Uma sonzeira nervosa e quente feita por músicos talentosos! Destaque para a versão perturbadora de “If I Were Carpenter” de Tim Hardin.

Taste – On the Boards (1970)

Grande power-trio irlandês e trampolim para o sucesso do fantástico guitarrista Rory Galagher, nos anos seguintes. Mas Rory era só um dos pilares deste habilidoso tripé sonoro, totalmente avesso à subserviência entre os instrumentos. Um vigor próprio nos momentos mais pesados, uma categoria sensorial nos momentos mais refinados e uma interpretação calorosa e vibrante ao longo de todo o disco. O trabalho é bastante eclético e demonstra segurança do conjunto em passear por terrenos distintos – blues, jazz, rock pesado e folk e tudo mais o que era possível! Indispensável na coleção.

Madura – Madura I (1971)

A idéia desses caras era um tanto quanto pretensiosa: juntar simultaneamente funk, soul, jazz, rock e blues. Mas para quem entende do “riscado” as coisas não são assim tão impossíveis. Sem exagerar, esse disco mixa todas essas influências em composições maravilhosas e soa autêntico à beça, pronto a agradar gregos e baianos. Dá para dizer que é um ponto de intersecção entre Grand Funk Railroad, Blood Sweat and Tears, The Meters e Stevie Wonder. Parece brincadeira? Só ouvindo para conferir!

Moving Sidewalks – Flash (1968)

Este é um dos embriões do afamado ZZ-Top (o outro embrião é a banda American Blues), uma das maiores autoridades em blues-rock na América. E já na origem, o blues era o norte do pessoal, só que aqui tratamos de anos 60, meu caro leitor – rock ácido, fuzz, bases de órgão, grooves de rhytm n’ blues, temáticas psicodélicas e alucinantes estavam mais do que em pauta. A banda seguia mais a vertente da “heavy-psychedelia”, o lado mais selvagem e barulhento de toda aquela panacéia de sons que a América produziu. Billy Gibons já aparecia no som queimando as 6 cordas de seu instrumento com dedos flamejantes, em solos cortantes e viscerais. No blues, toda sua capacidade de interpretação dos bons clichês do estilo aparece acompanhada de um trabalho competente de seus companheiros de banda, que deixam o espaço aberto para seus vôos. Ademais, composições altamente energéticas repletas de cores, gemidos lisérgicos e muita loucura.

Room – Pre-Flight (1970)

Novos tempos estavam chegando...a psicodelia abria o terreno para que o rock se tornasse um campo aberto de novas idéias e experimentações. E claro, ninguém queria perder esse bonde, assim como essa banda inglesa de vida curta, chamada Room. Partindo do blues elétrico, que era sensação entre os britânicos, a banda abriu o horizonte, incorporando ao estilo aquilo que se construía de mais novo dentro do rock – vocalizações, trechos com orquestrações, rock pesado, influências de música folclórica européia e do jazz e o esmero instrumental, que era praxe em 9 de cada 10 bandas do período. Canções de blues e rhytm n’ blues rivalizando cada sulco da bolacha com faixas bem características do período inicial do rock progressivo, ao que alguns costumam chamar de art-rock. Destaque nos ótimos vocais de Jane Kevern. Vá fundo nesse vôo.
Satin Whale – Desert Places (1974)

A riqueza musical do rock dos anos 70 é realmente imensa. Aqui temos uma maravilhosa banda alemã, que já na estréia, acertava em cheio o balanceamento entre a musicalidade avançada e o dom de se fazer canções assimiláveis e de qualquer modo que sejam, marcantes. Isso sim é um tremendo diferencial, tocar as notas certas, direcionadas tal como carta selada à mente e produzir nela a intenção desejada. Não consigo destacar nada em específico no disco, ao passo que gostaria de espaço para falar de cada trechinho...bom, o que quero dizer é que em “Desert Places”, vale o conjunto, a idéia geral, a beleza intrínseca de cada canção. Poderia escrever, de algum modo exaltado pelo gosto pessoal, que esse é um daqueles discos em que tudo deu certo, tudo funcionou, todos se entenderam, todos estavam juntos com um único objetivo e que, mesmo que a massa não o tenha incorporado entre seus favoritos (assim como ocorreu com a maioria das bandas desse estilo), ao menos serviu, e continua servindo, para encher de satisfação os apreciadores dessa arte. Altamente recomendado.
Black Widow – II (1971)

Sensacional banda de rock progressivo inglesa, que seguia uma tendência de privilegiar um instrumental ligeiramente mais simples, apostando nos climas e na força das composições, algo mais próximo do que em geral se percebe nas bandas do fim dos anos 60. Depois de meter os pés pelas mãos ao tratar de satanismo e ocultismo e fazer apresentações pra lá de polêmicas, o Black Widow passou a se concentrou mais no lado musical e foi lançando um disco melhor que o outro. Faltou o reconhecimento, em vista da qualidade apresentada pela banda em seus trabalhos. Pitadas de tudo que estava no ar musical daquela Inglaterra do “early 70’s” você encontra aqui, um trabalho bem diverso em termos de influência, mas bastante coeso, ou seja, coisa de craque. Flauta, saxofone, órgão, baixo, bateria, enfim, todo mundo botando pra quebrar e deliciando nossos ouvidos com uma viagem sonora!

Odin – Odin (1972)

Banda inglesa estabelecida na Alemanha e com sonoridade bastante orientada pelo som de lá. Odin fica num intermediário entre um lado mais puxado ao hard (representadas por bandas da linha de Atomic Rooster, Quatermass, Birth Control) e outro tendendo ao prog (na linha de Cressida, Murphy Blend, Triumvirat, Frumpy), um encontro de tendências que em certo momento nem mais se dissociavam, mutando-se em uma única e nova coisa. A presença dos teclados é muito marcante, dominando o som. Da espetacular abertura com “Life is Only”, o disco nos leva ao balanço ritmado de “Turnpike Lake”, depois à acústica e harmônica “Be the Man You Are” para encerrar a história apoteoticamente com as bases organísticas poderosas da faixa “Clown”.

Climax Blues Band – FM Live (1974)

Uma banda tão essencial de ser conhecida quanto Free, Foghat, Status Quo e Savoy Brown! Blues, boogie, rock e rhytm n’ blues muito bem dosados, válvulas fritando nos amplificadores e intensas vibrações emanadas das caixas de som. Disco ao vivo é sempre aquela coisa deliciosa de se ouvir, algo mais natural e solto, que pode até decepcionar dependendo do caso, mas aqui, muito pelo contrário, a banda pega pesado e faz bonito! Mais uma banda inglesa dominada pelo “american sound” com guitarras calibradas, justas, altamente interativas e entrosadas (da fantástica dupla Pete Haycock e Collin Cooper), graves percussivos competentes e vocais na medida. Por ora, o Climax parece soar como alguma banda do cenário sulista norte-americano, mas músicas como “All the Time in the World” e a instrumental “Flight” são marcas de sua autenticidade....e mesmo se não forem, quem disse que ser autêntico é sinômino de se fazer bom som?
Egg – The Polite Force (1971)

O rock progressivo é um agregado de diversas visões do mesmo refinamento musical. E a cena que se desenvolveu na região de Canterbury (Inglaterra) é um exemplo dessas visões. “The Polite Force” une magicamente um lado melódico com outro bastante experimental e de veia jazzística. Tipicamente livre em suas intenções sonoras, a banda claramente se arrisca em grandes viagens sonoras e “comete” deliciosos delírios musicais, na medida exata. Mais um exemplo de banda em que a guitarra não fez muita falta ao som, já que os teclados do mestre Dave Stewart comandam o som. O legado sonoro desse disco/banda é claro no som de outros figurões da cena, como Matching Mole, Khan e Hatfield and the North.

Crucis – Los Delirios del Mariscal (1976)

A cena argentina de rock nos anos 70 é bem rica e interessante e o Crucis é um de seus ilustres representantes. Esse segundo trabalho mostra o aprimoramento da fórmula sonora da banda – rock progressivo com ênfase melódica, instrumental bem trabalhado com destaque para os teclados e guitarra e pequenos flertes com o hard-rock. O domínio musical deste quarteto reflete-se em passagens instrumentais inesquecíveis e nas diversas idéias trabalhadas ao longo de apenas 4 faixas de pura categoria. O típico rock progressivo dos anos 70 – viagem espacial e delirante de sons, idéias, expressões e climas!

O Som Nosso de Cada Dia – Snegs (1974)

“Snegs” é um disco capaz de transceder o significado de certos adjetivos usados para descrevê-lo, sendo representante da mais fina flor do rock progressivo brasileiro. 3 músicos muito talentosos se juntaram para unir um instrumental virtuoso e original com letras filosóficas e viajantes, passando genialmente de psicodélicos improvisos para climas espaciais. A usina de sons do trio conseguiu combinar a pegada rock com um quê de brasilidade e vocais cheio de alma, nas inspiradas composições da bolacha. Se existe um porém em tudo isso é a produção pouco esmerada do disco, claramente gravado sem as máximas possibilidades tecnológicas da época. Do mais, um atentado de criatividade, ousadia e garra é o que se ouve com o “Snegs de Biufrais”.

Birth Control – Live (1974)

O Birth Control foi uma das mais lendárias bandas do cenário alemão da década de 70. Tiveram diversas formações, sempre contando com grande músicos, e uma vasta discografia, estando na ativa até hoje. Infelizmente, não tiveram o reconhecimento merecido por se tratar de uma excepcional banda. Sem exagero, esse disco é um dos grandes “live-albuns” da história do rock; os timbres, o entrosamento da banda, a qualidade de gravação, as músicas, a performance, tudo é simplesmente sensacional. Faziam um hard com muita força e ao vivo se superavam realmente. Para quem curte um bela sonzeira de muita qualidade, esse disco é essencial!

Road – Road (1972)

Uma verdadeira pérola perdida, feita pela mão de dois ingleses e de um norte-americano. Um super power-trio virtuoso fazendo um rock elaborado e arrasador, cheio de guitarras wah-wah’s, efeitos psicodélicos, bateria e baixo poderososos (cortesia de Noel Reeding) e de uma qualidade de som incrível. Contém uma das minhas músicas favoritas - I’m Trying. Uma definição que imagino para esse disco é como se fosse o som que Jimi Hendrix faria naqueles anos dourados do hard/progressivo (72-73). Pena que durou só um disco e existe pouquíssima informação sobre eles. Altamente recomendado.
Rare Bird – As your Mind Flies By (1970)

Uma banda bem peculiar, porque além de não ter guitarrista em sua formação, contava com 2 tecladistas. Grupos baseados em teclados eram razoavelmente comuns naqueles tempos, coisa que para o rock hoje talvez soe absurda. O Rare Bird primava fazer um som entre o rock psicodélico e o rock progressivo, mais especificamente na escola da psicodelia britânica de bandas como Procol Harum, Moody Blues e Kaleidoscope. A presença dos teclados não inibia ou atrapalhava a banda em seu conjunto, cujo trabalho era voltado propriamente para as composições. O esmero das melodias vocais contracena perfeitamente com a viagem maluca de sons nos 19 minutos da suíte “Flight”.
Goblin – Roller (1976)

Numa visão mais restrita, a cena progressiva italiana ficou caracterizada por bandas com clara influência erudita como o PFM, Banco Del Mutuo Soccorso e Le Orme. Mas também tinha gente mais ligada ao jazz-fusion, como a malucada do Goblin. A banda já havia feito alguns trabalhos para filmes antes de “Roller”, um disco também todo instrumental, intenso e com certo apelo de agressividade. A energia e a virtuose são de impressionar e certas passagens do disco são surpreendentemente inventivas, chegando a questionar nossa compreensão. Músicas como “Goblin” e “Dr Frankstein” são um abuso de musicalidade.
Nektar – A tab in the Ocean (1972)

4 ingleses estabelecidos na Alemanha formavam o Nektar, emblemática banda do rock progressivo. Seu clássico lançamento é “A Tab in the Ocean”, que fez decolar a carreira da banda. Um disco conceitual e muito bem produzido, que contém diversos elementos fundamentais para um bom disco do estilo – profundidade sonora, instrumental eloqüente, dinamismo e variedade musical. Alguns trechos da obra remetem ao Pink Floyd, pela postura da banda ao privilegiar a busca por melodias exatas e bem construídas e o cuidado com a sonoridade, intencionando a melhor interação música-ouvinte. Outros trechos aproximam o som do hard-rock, pelo da guitarra e as levadas de bateria. Pérola.
Master’s Apprentices – Choice Cuts (1971)

Da Austrália é que vem a sensacional banda Master’s Apprentices. A base de todo o trabalho da banda nos 70’s era o som pesado e direto, com bastante influência do Led Zeppelin. No fértil ano de 1971, os caras aproveitaram tudo o que rolava e se aventuraram no terreno do folk e nos últimos resquícios do rock psicodélico. Daí surge “Choice Cuts” aliando diversidade sonora, peso e qualidade musical, seja no trabalho vocal, nas letras ou no equilibrado instrumental. Algo soa deliciosamente regional em “New Day” e “Rio de Camero” e o peso extravasa de faixas como “Easy to Lie” e “Our Friend Owsley Stanley”.
Sugarloaf – Spaceship Earth (1971)

Banda norte-americana, de Denver, Colorado. Este segundo disco da banda retrata bem como soava a psicodelia sessentista adequada ao limiar da nova década, captando um pouco das novidades sonoras do rock progressivo, um quê de “hippismo” folk, levadas de blues e country e o groove-hard típico do período. Um trabalho vocal bem encaixado e harmonizado permeia todo o disco, junto com a presença maciça dos teclados do líder da banda, Jerry Corbetta. A temática de algumas letras falam sobre meio ambiente e criticam a vida urbana. Destaque para a abertura instrumental “Spaceship Earth”, a incisiva “Hot Water” e a beleza desplugada de “Music Box”.

Titus Groan – Titus Groan Plus (1970)

Uma sonoridade pouco convencional possui esse disco. Um misto de rock, jazz, influências clássicas e rythm n’ blues. A criatividade das composições é o que mais fascina nesse álbum e a maneira como essa mistureba toda podia soar tão bem. O disco com certeza é colocado na vala comum do rock progressivo, mas independente de rótulos, é uma música ousada, diferente e muito agradável. Como era de se esperar, toda essa ousadia não foi muito bem compreendida e a história tratou de colocar no baú esse disco. Após terem sido a sensação no Hollywood Pop Festival ao lado de algum dos maiores nomes do rock da época, o público inglês não deu mais muito bola para a banda, que cerca de 1 ano depois estava dissolvida. Descubra-os.

Som Imaginário – Som Imaginário (1970)

O que para alguns pode parecer uma total falta de direção, para outros pode ser prova de originalidade e versatilidade. Isso ocorre com muitas bandas brasileiras dos anos 70, em que a rotulação “rock” estava mais associada à música jovem do que propriamente adequação total à uma estética sonora, que felizmente na época também era bastante libertária. E diversidade é a palavra-chave para descrever um disco como esse. Orientado pelos ares da psicodelia tardia, a banda, que era um nicho de músicos de primeira linha, passeia pelo folk, mpb, valsa e música latina. Experimentação e vanguarda unindo o global e o regional, acompanhada por belas letras. Não era a toa que essa era a banda de apoio de Milton Nascimento.

Damnation – The 2nd Damnation (1970)

Quinteto americano da cidade de Cleveland, Ohio, conterrâneos do power-trio James Gang. A banda, em 1973 foi renomeada como Damnation of Adam Blessing (Adam Blessing era o vocalista e líder da banda). Tiveram um relativo sucesso comercial e gravaram 4 discos. Este disco, segundo da banda, foi inclusive lançado na época no Brasil e relançado pelo valoroso selo Akarma! Seu som é um hard psicodélico bastante pesado, com uma cozinha vigorosa, boas composições e muita energia. Muita referência se percebe ao som da década anterior, lembrando Jefferson Airplane, Grateful Dead e 13th Floors Elevators. O instrumental da banda é empolgante, com riffs intensos e marcantes, os graves cravados por um poderoso contrabaixo e a bateria segurando a onda com firmeza. Altamente recomendado!

Steel Mill – Green Eyed God (1972)

Rebento nobre do brilhante underground britânico, Steel Mill é uma das incontáveis bandas que lançou só um disco que deixa todo mundo com água na boca. Sua qualidade não está propriamente na originalidade, mas sim na força de suas composições e de sua sonoridade. Aos ouvidos, soa como uma bem sucedida confluência de Deep Purple, Atomic Rooster, Van Der Graaf Generator e King Crimson. Sem grandes demonstrações de virtuosismo, a criatividade é a guia para incríveis dinâmicas, riffs divididos entre guitarra e sax e vocais distribuídos com esmero. Nada no disco tende a transmitir climas leves; quando não nos leva em reflexivos e escuros mantras, despeja peso por todos os alto-falantes.

UFO – I (1971)

Os ingleses do UFO têm uma fama considerável devido à extensa carreira carregada de bons momentos. Mas eis aqui um capítulo um pouco esquecido dessa história. A viagem incrível desse objeto voador não-identificado era bem mais psicodélica em seu início e talvez um pouco menosprezada por ser extremamente setentista, diferente para quem associa a banda diretamente ao heavy metal. UFO é um nome bastante coerente com este disco, que é ao mesmo tempo surpreendentemente pesado e psicodelicamente viajante, além de ser um primor para quem (como eu) aprecia um sonzeira analógica bem espontânea. Petardos como “Boogie” e a agressiva versão de “C’mon Everbody” convivem tranquilamente como “Come Away Melinda”, “Treacle People”, e a faixa título. Indispensável.

Hairy Chapter – Eyes (1970)

Banda da cidade de Bonn, Alemanha. Assim como outras dezenas de bandas, tiveram uma infeliz trajetória e sucumbiram cedo. Essa estréia traz psicodelia com um peso mastodôntico e clara influência de blues, como era praxe para quem estava pegando a trilha do rock pesado naqueles tempos. Faixas com uma energia vibrante, muita distorção, vocais rasgados e alguns clichês “hippongos”. Um disparate quase adolescente e um atordoante e ácido resultado sonoro, clássico do hard-rock

Bröselmaschine – Bröselmaschine (1971)

Grupo folk alemão, formado em 1969 e liderado pelo guitarrista Peter Bursch. Tudo o que pode existir de bom em um convencional disco do estilo, esta bolacha tem. Sem dúvida, rolou muita inspiração para combinar tão bem a acústica dos violões com belos sons de guitarra. Extremo bom gosto no uso da percussão e melodias incríveis com os vocais femininos de Anja Lerch, além do capricho no flerte com a música indiana em “Schmetterling”.

Bang – Bang (1971)

Power-trio norte-americano, da Filadélfia. Esse primeiro disco é de longe seu mais pesado e expressivo trabalho, trilha obrigatória para quem quiser se aventurar no lado B do hard-rock setentista. Fizeram uma linha de hard próxima à do Black Sabbath, sem muita referência explícita ao blues, abusando de distorções agressivas e uma mão pesada na execução de petardos bem construídos e raivosos, muito raivosos. Pauleira garantida em“Come With Me”, “Our Home” e “Questions”.

Steve Hillage – Fish Rising (1975)

Steve é figurinha carimbada quando se trata da cena progressiva do Canterbury. Aproveitando o passado respeitável que tinha em trabalhos anteriores, se lançou numa carreira solo bem sucedida e deixou alguns clássicos, como esse disco, para a posteridade. O som brilhante de sua guitarra, sua voz serena e efeitos viajantes de teclado gravam na mente a sensação de um mergulho, de um suspiro profundo, de uma incrível jornada que alterna calmarias e turbulências. Muito recomendado.

Quicksilver Messenger Service - Quicksilver Messenger Service (1968)

A trilha sonora de quem estava indo para a costa oeste, sem lenço e documento, com flores no cabelo... Um dos mais representativos trabalhos do rock psicodélico americano. Em faixas como “Pride of Man” e “Dino’s Song” a medida certa da psicodelia em canções pegajosas e cantaroláveis. 12 minutos de nirvana psicodélico em “The Fool” e jazz (sim, jazz!) em “Gold and Silver”. Mais ? O talento de John Cippolina na guitarra e aquela sonoridade analógica que tanto amamos.

Gnidrolog – Lady Lake (1972)

Os ingleses do Gnidrolog não alcançaram nem de longe a égide da cena progressiva inglesa. No entanto, esse nome geralmente é lembrado quando se trata sobre as melhores bandas do período. Sofisticação é um bom adjetivo para este álbum, a começar pela bela capa. Fizeram em seu segundo disco, um rock progressivo com muita influência da música folk européia e algumas influências jazzistas. É possível associar seu som ao de nomes como Jethro Tull e Van Der Graaf Generator. A interpretação vocal de John Earle é bastante expressiva e o trabalho de baixo de Mars Cowling é marcante. O instrumental da banda transmite, na maior parte do tempo, um clima bastante introspectivo e, em determinados momentos, uma certa agressividade com intervenções de saxofone e guitarra.

Vox Dei – La Biblia (1971)

Surpreendente o senso artístico que rondava o rock no início dos anos 70. E em tal senso, esse trio argentino resolveu musicar a bíblia, contando a história do povo hebreu desde a fábula do Gênesis até as visões do Apocalipse. Exploraram a fundo as possibilidades musicais do formato trio, o que dá ao disco um aspecto despojado em vista da grandiloqüência do tema. No entanto, o resultado é excelente e de muito bom gosto, aproveitando em alguns momentos a estrutura melódica dos cantos religiosos e em outros, certeiros arranjos orquestrais. “Las Guerras” são musicadas com um urgente hard-rock; a história de Moisés é contada por uma harmoniosa balada psicodélica e as profecias são descritas por um folk levado só na guitarra. Incrível.

Sweet Smoke - Just a Poke (1970)

O Sweet Smoke era uma “jam-band” norte-americana. Sua ênfase em uma música livre e despreocupada com rotulações é evidente ao longo de sua (curta) carreira. Essa é a estréia dos caras. Seu som é um agradável jazz-rock com pequenas incursões na barca psicodélica, na linha de Quicksilver e Moby Grape. O requinte sonoro é acompanhado por belas passagens de flauta e sax, poucos e precisos vocais, belos timbres e solos de guitarra caprichados. No lado A, uma jam mais suave com alguns clímax chegando até a flertar com o funk, e no lado B uma jam mais animada e rápida, com solo de bateria. A “doce fumaça” nos oferece uma deliciosa viagem sonora.

Edgar Broughton Band - Edgar Broughton Band (1971)

Ingleses da cidade de Warwick que desde o início da banda, em 1968, disparavam sem dó sua metralhadora giratória de rock pesado, psicodelia, humor negro e crítica social. Em 1971, com o lançamento do álbum homônimo, as coisas mudaram um pouco de figura – passaram para um som mais centrado e sério, onde a banda atingiu seu ápice musical. Composições inspiradas ritmadas por violões espertos, vocais mais trabalhados, uso de gaita e teclados, com bastante influência do blues e do folk americano demonstram um grande amadurecimento musical. E lógico, sem abandonar a pegada raivosa e a energia característica da banda. Essa “evolução” produziu verdadeiros clássicos do rock setentista como “Evening Over Rooftops” e “Birth”.

Trace – Trace (1974)

O baterista Pierre Van der Linden, dissidente do Focus, se uniu ao seu quase xará Rick Van Der Linden (de quem ele não era parente) para formar o Trace, junto com o baixista Jaap Van Elk. A intenção dos caras? Fazer uma banda de progressivo sinfônico, calcada no som dos teclados de Rick. Sim... esse objetivo foi alcançado com destreza. Há predominância do som poderoso do Hammond em linhas que facilmente remetem a compositores clássicos como Bach e Hendel, mas lá ficou garantido também espaço para viagens psicodélicas com sons atordoados de Moogs e Mellotrons. Para não falar só de Rick, vale citar que a cozinha não deixava a peteca cair, azeitando a máquina sinfônica do Trace.

Wishbone Ash – Live Dates (1973)

Um grande nome do rock britânico dos anos 70. E como toda grande banda, a coisa ao vivo rolava ainda mais deliciosamente do que nos estúdios. O Wishbone Ash fazia um som eclético mergulhado na influência da música européia, passando por blues, hard rock, rock progressivo e folk com temáticas folclóricas e medievais em vários de seus trabalhos. Todo o espectro de sons da banda era apoiado no trabalho de uma grande dupla de guitarristas – Andy Powell e Ted Turner, que duelavam em grandes jams. O disco Live Dates (duplo) traz ao ouvinte várias performances da banda durante a turnê de 1973, que se seguiu ao clássico disco “Argus”.

Triumvirat - Mediterranean Tales (1972)

O Triumvirat é um quarteto alemão, formado em 1971, em Köln. Ocupam um confortável posto no hall dos grandes nomes da cena progressiva do citado país. Nada injusto. Essa estréia é uma mostra do talento e da ousadia aflorante dos jovens músicos daquela época. Alguns dizem, erroneamente a meu ver, tratar-se de um mero pastiche do trio Emerson, Lake & Palmer, devido à ênfase nos teclados (pilotados pelo mestre Jürgen Fritz) e nas músicas instrumentais. O Triumvirat nesse disco transborda criatividade com muitas variações rítmicas, ótimos sons de teclado, vocais bem encaixados e uma cozinha no mínimo, grandiosa.

Mahogany Rush – Maxoom (1973)

Um dos maiores nomes do rock canadense, um power-trio com toda a propriedade que esse nome possui. A abertura, toda instrumental e cheia de efeitos sonoros, pode passar a impressão ao ouvinte de se tratar de algum trabalho de rock progressivo. Porém, o que vem na seqüência é um rock n’ roll cativante, puramente influenciado por Jimi Hendrix. Frank Marino (guitarrista do MR) foi considerado nos anos 70 como a reencarnação de Jimi por seu estilo de tocar, cantar e compor. De emocionantes baladas ao rock n’ roll visceral, influências funk e blues, esse disco é capaz de transmitir excelentes vibrações aos apreciadores das 6 cordas e do rock n’ roll da década de 70. Difícil não pirar com os riffs de “All in Your Mind” e “Back on Home” Clássico.

Rod Stewart - An Old Raincoat Won't Ever Let You Down (1969)

Muita gente vai torcer o nariz dizendo – “O quê? Rod Stewart?” Devido ao sucesso comercial e seus hits radiofônicos que dominam as programações “flashback”, muitos ignoram a categoria de seus primeiros discos. Uma banda afiada o acompanhava – os próprios membros do Faces. Espere ouvir um rock com muita levada da música folk, a interpretação inquestionavelmente bela de Rod, violões, violas, mandolins, guitarra slide e ótimas composições. O forte de sua carreira sempre foram as baladas, porém, ouvindo com atenção a versão de “Street Fight Man” dos Stones (com direito a um vitaminado solo de baixo ao final) e “Cindy’s Lamment” somos levados a crer que essa afirmação é bastante incompleta.

Ancient Grease - Women and Children First (1970)

Mais um nome que engrossa a fileira das bandas injustiçadas... A sonoridade analógica mergulhada na influência psicodélica torna essa bolacha um delicioso aperitivo para os apreciadores da arte rock. Quilos de distorção, temperados pela sonzeira dos teclados somados a um vocal por ora rasgado e desleixado, fazem do Ancient Grease um grande representante do cenário underground britânico, de onde brotaram dezenas de excelentes bandas que ficaram no limbo. E para acrescentar... belas baladinhas ao violão dão uma acalmada no caldeirão, criando um delicioso clima de estrada, liberdade, dia de sol e outras coisas muito boas....

Blodwyn Pig – Getting to This (1970)

Egresso do Jethro Tull e descontente pelos rumos que a banda decidira tomar, o guitarrista Mick Abrahams (um dos fundadores do JT), formou o não menos maravilhoso Blodwyn Pig. Nessa banda, demonstrou força e criatividade, numa das mais bem sucedidas fusões de rock, jazz, blues e soul. A energia e intensidade com que a banda se entregava ao som que estava fazendo, expressando livremente seu talento a serviço de uma música nova e transgressora, cativam logo na primeira audição. Na receita, muito som de sax e flauta, levadas jazzistas, blues de raíz e outras coisas bem menos convencionais de serem misturadas, tudo isso regado a muito peso. Sensacional!

Quella Vechia Loccanda – QVL (1972)

Quais os elementos para se fazer um bom disco de rock progressivo? Teclados aos montes? Flautas? Violinos? Influência da música clássica? Toques de Jazz? Uma pitada de hard? Ok...tudo isso você encontra nessa bolachinha vinda da Meca do rock progressivo, a Itália. E não espere encontrar um mosaico dessas coisas no disco, tudo soa perfeitamente encaixado, os ingredientes foram todos dosados na medida para produzir um espetacular resultado sonoro. Sutilmente, tudo isso eclode do disco e os 34 minutos de som te levam a um estado de intenso prazer. Saboreie sem moderação.

Patto – Patto (1970)

Sensacional banda do underground inglês, que lançou seu primeiro álbum em dezembro de 1970. Uma pérola perdida! O Patto era uma banda super-virtuosa, com músicos egressos da escola do jazz que se aventuraram a tocar rock n' roll com muito peso e atitude. É difícil destacar algum instrumento ou alguma faixa do álbum, pois tudo soa magnânimo e poderoso. "Red Glow" é com certeza uma das músicas mais representativas do hard rock 70’s e Money Bag é um sensacional free-jazz! Na época desse disco, alcançaram certa luz dentro dos limites do underground, porém nada que os tornasse realmente conhecidos. Lançaram mais alguns discos, nos anos seguintes, de igual categoria. Porém, a produção “artesanal” desse disco lhe dá um charme todo especial. Mike Patto (vocal) participou também do Spooky Tooth e Ollie Halsall (guitarra/teclados) participou do Tempest após o término da banda em idos de 72. Um disco bastante variado, bem trabalhado e com muito peso.

Soft Machine – Soft Machine (1968)

A estréia de uma das bandas mais “cults” da cena psicodélica-progressiva européia. Na verdade, nasceram e foram criados dentro do ambiente da vanguarda artística londrina, tocavam em mostras de cinema alternativo e tinham contato com a classe mais descolada de artistas do fim dos anos 60. O (grande) baterista e líder da banda, Robert Wyatt, inseriu jazz na pegada psicodélica da banda. Não é um disco de fácil audição. A loucura pulsante do disco pode desagradar ouvintes ainda “pouco adestrados” na arte-rock. Solos desconcertados, levadas insanas de bateria, grooves matadores de baixo, ousadia e muita doidera!

Cream – Wheels of Fire (1968)

Muito se fala do disco “Disraeli Gears” como o clássico lançamento desse power-trio inglês. Mas para mim, sem dúvida, Wheels of Fire é imbatível na fugaz carreira dessa banda. Blueseiro, visionário, criativo, experimental, pesado, ousado...Todos esses rótulos são válidos para Wheels of Fire, o ápice do Cream. O disco (duplo) em si reflete o clima tenso que havia na banda. No disco 1, a banda viaja em sonoridades mais exóticas com o uso de instrumentos como órgão, trompas e sinos... já no disco 2 fica a mostra como a coisa acontecia ao vivo, um verdadeiro cataclisma sonoro que virou lenda e influenciou uma infinidade de bandas ao longo dos anos 70. Uma loucura controlada, uma batalha entre músicos que soava coesa e poderosa.

Guess Who – American Woman (1971)

Capitaneados por Burton Cummings e Randy Bachmann, os já veteranos do Guess Who vinham soltando uma pérola atrás da outra no fértil período do fim dos anos 60. American Woman pode ser facilmente colocado como um dos grandes trabalhos do rock desse período. Uma banda excepcional e versátil, que conseguia fazer desde aqueles rocks mais vagabundos até jams de blues e jazz com muita categoria. Além disso, músicas marcantes, instrumental caprichado, produção impecável, ótimos vocais e letras poéticas. Um deleite sonoro que agrada sem necessariamente ser pesado ou virtuoso.

Jefferson Airplane – Volunteers (1969)

Um dos maiores estandartes do rock psicodélico americano. A trupe do Jefferson Airplane abandonou um pouco suas viagens guiadas por guitarras estridentes e fez este álbum mais baseado no folk e no country para sustentar suas críticas e ironias ao militarismo e a Guerra do Vietnã. A música “The Farm” só pelo nome já demonstra as mudanças no som. Porém, a qualidade de suas composições se manteve inabalável. As belas harmonias vocais, uma das características da banda, também estão presentes aqui, completando a maciça presença dos violões. Um disco que representa bem o que era movimento hippie, enquanto cultura, e os seus ideais.

Groundhogs – Split (1971)

Power-trio inglês que fazia uma sonzeira poderosa. A história do Groundhogs e de seu líder, o guitarrista Tony McPhee, está intimamente vinculada ao blues americano. Ao longo dos trabalhos da banda essa influência foi se diluindo, mas não de maneira a ser suplantada por outras escolas sonoras, mas aproveitada de maneira antropofágica, se agregando ao som numa textura totalmente nova. Isso diferenciou os Groundhogs de seus pares durante os 70’s. Seu som é extremamente urgente, intenso e pesado. Porém fugiam dos “lugares-comuns” do hard rock com riffs e solos de guitarra bastante inventivos. O lado A do disco é a pesada suíte “Split” dividida em 4 faixas, e o lado B contém petardos que viraram clássicos da carreira da banda, dentre eles o som “Groundhog Blues”, que é praticamente um tributo ao mestre John Lee Hooker.

Manfred Mann’s Earths Band – Solar Fire (1973)

O tecladista sul-africano Manfred Mann já tinha um currículo respeitável na cena inglesa durante os anos da “invasão britânica”. Porém, nos anos 70, com toda a efervescência de novas tendências, entrou numa de fazer um som mais pesado e denso com sua nova banda. Esse é o seu quarto registro com a “Earth Band” – um som espacial e viajante, porém pesado como um mamute, guiado por poderosas bases de órgão e sintetizador, naquilo que hoje se convencionou chamar de hard-prog. A faixa de abertura “Father of Day, Father of Night” é um épico, por sua profundidade sonora e seu arranjo espetacular. Nas outras canções, um pouco mais de experimentalismo e muita categoria. Altamente recomendado!

Day of Phoenix - Wide Open N-Way (1970)

Obscura banda dinamarquesa que só lançou dois discos. Aliando um excelente trabalho instrumental com uma certa falta de direcionamento, o Day of Phoenix trabalhava diversas idéias dentro de um mesmo panorama musical. Uma tentativa de descrever o som da banda seria algo como o lado mais instropectivo da psicodelia da costa-oeste transando com influências jazzistas em climas bem escuros. O trabalho das guitarras surpreende pela sofisticação e produz um som bastante denso e viajante, sem utilização de distorções ou da barulheira fuzz. As faixas são longas, porém bastante ecléticas e repletas de ótima sonoridade.

The Eleventh House – Introducing The Eleventh House with Larry Coryell (1974)

É quase desnecessário dizer que quem se aventura pelo fusion tem que ter muito domínio de seu instrumento para bem fazê-lo. E é igualmente desnecessário dizer o quanto os músicos dessa banda eram bons nesse quesito. Esses americanos demonstraram muito mais que mero virtuosismo... foram além e criaram ótimas canções instrumentais que podem agradar também quem não se amarra muito em musicalidade e quer simplesmente um bom disco pra curtir. Um disco sem grandes exageros, ótimos timbres, sonoridade totalmente setentista e com algumas passagens bem animadas, ótimas para um fim de semana de sol.

Fruupp – Future Legends (1973)

Grupo de rock progressivo originário da tensa Belfast, na Irlanda, que lançou quatro álbuns entre 1973 e 1975. O som da banda memoría o sinfonismo e lirismo europeu, mas com uma força bruta de execução em intricadas e urgentes nuances. O som dos teclados, por seus timbres, dá um certo ar tétrico e psicodélico ao todo sonoro, enquanto os vocais completam com qualidade tantos passagens vibrantes e poderosas quanto as mais tranqüilas. Há uma certa associação vísivel com Gnidrolog e Jethro Tull, porque aqui também se percebe um vínculo razoável com o lado mais tradicional da música européia e um instrumental notável.

Hawkwind – Hall of the Mountain Grill (1974)

Uma banda e um disco que divide opiniões. Há quem ame, há quem não suporte. Na real, a banda tem um som pouco convencional, pois combinam bases pesados e vigorosas do hard rock com efeitos sonoros e vocalizações que tornam suas canções extremamente espaciais e delirantes. Em “Hall of the Mountain Grill” a banda pegou em cheio uma junção otimizada destes elementos por cima de canções realmente memoráveis, com melodias calibradas e uso extenso de mellotrons. Se por um lado, o que se descreve nestas letras parece uma idéia simplória de tentar condicionar canções de estrutura simples numa coisa mais complexa, por outro lado, ninguém fazia isso com a destreza deste grupo inglês, que ficou muito peculiar e inigualável até hoje. Lisergia total num passeio pelo cosmos.

Blackwater Park – Dirty Box (1972)

Grupo alemão de vida curta. Nesta curta existência registrou “Dirty Box”, um petardo com muita distorção. Hard rock vigoroso, com riffs simples, porém marcantes, dos mais tradicionais licks de blues até as fronteiras com o rock progressivo. Válvulas saturadas atirando um som completo, preenchendo de garra e classe todos os sulcos da bolacha, seja na distorção irrepreensível do guitarrista “Michael Fechner” ou nos vocais certeiros de “Richard Routledge”. Há passagens com um rock mais tradicional e apoiado no blues e outros momentos com sonoridades mais obscuras, ligados à tradição alemã de som experimental.

Banco Del Mutuo Soccorso – Darwin! (1972)

Tratamos aqui de um dos maiores trabalhos da prolífica cena progressiva italiana. “Banco” é um dos grupos italianos mais consistentes desta cena, que lista dezenas de grupos que não passaram da estréia. O disco é conceitual e trata da teoria da evolução das espécies, do cientista Charles Darwin. A temática é acompanhada por um trabalho instrumental bastante inteligente também, com destaque para as geniais intervenções de teclados dos irmãos Nocenzi e os vocais operísticos de Francesco di Giacomo. Progressivo sinfônico requintado, sempre permeado por um clima sombrio e psicodélico, vindo dos exóticos timbres sintetizados dos teclados.

Shocking Blue – At Home (1969)

Este quarteto holandês não é tão desconhecido assim, talvez até o nome não seja muito familiar, mas seu maior hit é prontamente reconhecido – “Venus”, que inclusive ganhou uma versão (de muito mal gosto) por um grupo pop nos anos 80, repetindo o sucesso. Hits, às vezes, acabam ofuscando o restante de um disco, que tem alto nível de qualidade. É o bem caso aqui, um disco sensacional que combina a psicodelia, sem grandes deslizadas no exagero, com a música indiana e um charme pop todo especial. As composições de todo o disco são muito boas, adornadas pela voz agradável de Mariska Veres, um som que levemente e desapercebidamente, faz a cabeça. As incursões de cítara dão um toque todo especial ao disco numa viagem agradável por todo um espectro de paisagens sonoras.

Spooky Tooth - The Mirror (1974)

Eis uma banda que acompanhou bem as mudanças do rock durante o fim dos anos 60 e começo dos 70. Do passado beat-psicodélico até 1974, a banda mudou bastante seu som e também suas formações. Gary Wright (teclados e vocais), Mike Jones (guitarra) e Mike Kellie (bateria) junto dos recém chegados Mike Patto (ex-vocal da banda Patto) e Val Burke (baixo) uniram suas forças para este registro, considerado por muitos como um dos melhores momentos dessa seminal banda inglesa. O Spooky Tooth aqui soa mais pesado, com guitarras mais destacadas, um pequeno apelo ao progressivo na linha da Earth Band de Manfred Mann e um bendito groove, tanto na parte rítmica quanto nos vocais de Mike Patto, um cara bem cheio de bons atributos vocais. Canções muito bem trabalhadas e fortes, tocadas com grande vigor e competência no instrumental, num memorável espectro de sonoridades daquele período dos anos 70.

James Gang - Bang (1973)

Depois de ter chacoalhado as orelhas dos antenados de plantão com o disco Spectrum, projeto fusion do baterista Billy Cobham, Tommy Bollin carimbou seu passaporte ao estrelato e uma de suas primeiras escalas foi o James Gang. Sua entrada oxigenou a banda, que andava meio caída após a debandada do guitarrista e vocalista Joe Walsh, que tinha migrado para o bem sucedido Eagles. A banda já tinha um passado notável com seu som pesado e malicioso, mas com Bollin isso ficou ainda mais na cara. Com ele participando de todas as composições e tocando com muita liberdade, a banda do baterista Jimmy Fox desfilou com pés de chumbo (e mais elegante do que nunca) pelos terrenos do southern-rock, hard, funk, blues e soul. Um disco irreprensível nos quesitos "feeling", interpretação e garra. É pegar a estrada e sentir a vibração!

Riff Raff - Riff Raff (1973)

Banda inglesa que contava com dois músicos bem experientes - Tommy Eyre (que já havia tocado com a Grease Band e o Juicy Lucy entre outros) e Joe O' Donell, envolvido com grupos psicodélicos e folk. Contava também com um baterista brasileiro, Áureo de Souza. Teve carreira curta (2 discos na época e um posteriormente) e esta é sua estréia. A banda faz um som mais tranquilo e introspectivo, juntando um requintado estilo jazzista em belas canções e baladas movidas por violões e violas. Os teclados de Tommy Eyre são estilosos e charmosos, assim como a sonoridade da banda em geral, que vez ou outra também destoa com pequenas passagens mais agressivas nos vocais e com ritmos mais firmes. O jeito leve e manhoso de Áureo não esconde sua brasilidade e acrescenta com originalidade o quadro sonoro da banda, que, com uma grande inteligência musical, lançou este disco de rara beleza.

Shylock - Giarlogues (1977)

Trio francês formado em 1974, numa interessante formação sem baixista (bateria, guitarra e teclados). O disco em questão é totalmente instrumental, com intricadas passagens e um clima bem sideral, condensando um lado quase que beirando ao minimalismo de Mike Oldfield, com outro mais tradicional, com densas melodias a lá Genesis. São apenas três faixas explorando uma vastidão de idéias e temas, que constituem este clássico perdido do fim dos anos 70, período de grandes lançamentos ainda na França, e com o qual a banda atingiu certa notoriedade. É o tipo de som que domina o ouvinte, alterando um pouco sua noção de tempo, com complexas e atraentes nuances que tornam as suítes do disco altamente marcantes. Exímia musicalidade que não beira o exagero da virtuose, mas atinge o cume do bom gosto, com um som nebuloso, por ora até sombrio e melancólico.

Five Day Rain - Five Day Rain (1969)

Banda inglesa de único disco, que recebe fácil bons adjetivos pelos admiradores da cena psicodélica européia. A linha tomada aqui não era bem o som sacolejante dos clubes psicodélicos da "Swinging London" mas sim um som mais profundo, para fazer a cabeça. Uma cobertura maciça de teclados para excelentes composições e um som que transita quase nas fronteiras do rock progressivo, tão difíceis de serem definidas. Uma clara influência dos Beatles no jeito da banda tecer suas composições, com os vocais na frente e bem alinhados, e um certo posicionamento sonoro similar ao de grupos como Rare Bird, Arzachel, Procol Harum e Traffic. Há momentos bem lisérgicos, como na longa piração instrumental de "Rough Cut Marmalade" e outros de cândida beleza, como em "Goodyear". Em ambos, um colorido delírio com tempero altamente britânico.

Fuchsia - Fuchsia (1971)

De uma aparência inicialmente cândida, esse grupo (de único disco) muito distinto surpreende. Sua acústica não cria apenas cenários para mitologias e paisagens acinzentadas, mas tocadas com a intensidade apresentada, talvez retratem batalhas medievais imaginárias. Contando com lindas incursões de vocais femininos e mais duas garotas no instrumental (o grupo era um sexteto), aqui realmente existem canções de muito impacto, densas, ousadas e até certo ponto complexas,com misturas de violinos e violoncelos a poucas guitarras, mas com violões bem ritmados e bateria. Lembra um tanto quanto o Jethro Tull na questão das combinações de soft-jazz, folk, música erudita e rock. Uma pérola perdida, lançada pelo selo Pegasus.

Warhorse - Warhorse (1970)

Esta banda é mais conhecida por causa de dois de seus membros, Nick Simper e Ashley Holt, do que propriamente por sua curta carreira. Nick era baixista da primeira formação do Deep Purple, sendo despedido da banda juntamente com Rod Evans e Ashley foi vocalista do grupo de Rick Wakeman em seu "Journey to the center of the Earth". Mas vamos ao som, que injustiçadamente não é tão comentado. A adição do órgão Hammond fez uma tremenda diferença em grupos de rock pesado, tornando-os bem característicos e dando-lhes um certo ar sombrio. A música do Warhorse tem uma interpretação vigorosa, com temas fortes. Os vocais de Ashley são amplificados ao máximo em berros e a guitarra e teclados destilam riffs saborosos, no melhor estilo "heavy-progressive". Algumas incursões de trechos mais eruditos complementam estes riffs pesados, num registro bem representativo do rock do começo inglês do começo dos anos 70.

Attila - Attila (1970)

Sabe o Billy Joel? aquele pianista que compôs Uptown Girl e fez um sucessão nos anos 70-80? pois é, ele quem figura aí nessa capa ao lado. E se você conhece o cara vai se surpreender com o que ele fez nesse disco. Pra começar, a banda é um duo de bateria e teclado. Só isso. Mas quando o disco começa a tocar, nem parece que são só dois caras, porque o som é tão eloquente, tão forte e virtuoso que impressiona. Billy pilota o Hammond equipado de pedais de distorções, fuzz e wah-wah e não raro faz seu teclado soar como uma guitarra, solando loucamente e cantando. Seu colega de banda, Jon Smalls (que já havia tocado com Billy no The Hasless), esmurra seu kit de bateria com vontade e preenche todos os espaços do som. Loucura, rock psicodélico e pesado é a fórmula aqui. Altamente recomendado.

Alusa Fallax - Intorno Alla Mia Cattiva Educazione (1974)

Obscura banda italiana, que gravou este único disco em 74. Assim como muitas outras bandas, caracteriza seu som pela pegada sinfônica (barroca) e toques da tradicional música italiana. Passa com classe de temas suaves a outros mais pesados e energéticos, onde sintetizadores, flauta guitarra solam com muita competência. Seguindo a linha típica de outras bandas italianas, os vocais carregam uma alta dose de emotividade na interpretação.
O disco possui 13 faixas, longo para os padrões do rock progressivo, mas isso se deve ao fato de serem algumas músicas bem curtas e serem contínuas, tornando o disco uma única idéia coesa.

Cressida - Cressida (1970)

Banda inglesa, que desenvolveu um estilo próprio e de uma particular caracterização, que é muito polêmica. Pelo fato de não terem grandes demonstrações de virtuosismo musical e nem mirabolantes mudanças de ritmo, são colocados numa vala denominada "proto-prog". Besteira. O som do Cressida faz parte da fina flor da era do art-rock; seu som brilhante destaca um fantástico e melódico trabalho de órgão Hammond em belas canções, um tanto quanto leves realmente, mas marcantes. A sonoridade atmosférica do órgão, guitarras bem encaixadas e vocais singelos fazem uma ótima combinação dentro das composições do grupo. A banda era bastante aclamada dentro do selo Vertigo e gravou mais álbum, Asylum, em 1971, com maior campo para a guitarra. Os dois são ótimos e tem muita
música boa a oferecer.

Sandrose – Sandrose (1972)

Obscuro grupo francês, do qual se destaca além de um trabalho instrumental de qualidade (como era praxe entre os grupos de rock na época) o vocal marcante de Rose Podwojny, que tem uma dramaticidade peculiar em interpretações fantásticas. Com o som da banda é possível estabelecer um paralelo com os ingleses do Affinity, só que aqui com uma dose mais intensa de sinfonismo e climas mais cinzentos. O grupo foi formado em 71 e ficou só nesse disco. Há mellotrons e sonoridades muito agradáveis de órgão hammond, um trabalho de guitarra que foge do convencional em inventivos solos e uma dupla de bateria-baixo bem afiada. A beleza de algumas canções mais tranqüilas é complementada com a requintada voz de Rose, que faz toda a diferença para tornar este registro especial.

Toe Fat – Toe Fat (1970)

Um dos vários projetos com que o tecladista/guitarrista Ken Hensley, famoso por sua longa estrada com o Uriah Heep, esteve envolvido e, provavelmente, o melhor deles. O trabalho da banda, além de pesado, tem diversos atributos que o colocam como um dos melhores daquele ano. Nestes atributos estão os vocais roucos e fortes de Cliff Bennet, as composições excelentes e cantaroláveis, a sonoridade da guitarra, com uma saturação deliciosa e uma pegada rock bem direta e sem muita firula. A banda gravou um segundo disco, sem Ken Hensley, em que se sobressai mais peso, porém sem o mesmo brilho desta estréia, repleta de uma bruta vitalidade.

After Tea – Jointhouse Blues (1971)

Banda holandesa, formada em 1967, que teve em "Jointhouse Blues" seu último lançamento antes de se dissolver. O baterista Pierre Van Der Linden, que ficaria famoso com as bandas progressivas Focus e Trace, integrou a banda em uma de suas formações no fim dos anos 60. Como está explicíto no título do álbum, a referência da banda é o blues e isso já fica claro com a faixa de abertura, um boogie com toda a dignidade européia, pianos e gaita acompanhando uma guitarra bem ardida e sentimental. Em alguns momentos, a banda lembra o Chicken Shack no disco Imagination Lady, com suas bases bem pesadas e improvisos de guitarra. Os vocais também são destaque, rasgados na medida e bem intensos. As últimas três faixas constituem uma jam-session bem livre e pesada, em que a banda passeia por momentos climáticos e põe o peso descomunal de suas distorções.

Bubu – Anabelas (1978)

O lançamento de Anabelas foi quase como que o ponto final na carreira desta numerosa banda Argentina. Seu som é complexo, muito atraente e instigante, além de ter uma carga de originalidade forte, nas combinações de saxofone, flauta e violino junto a uma virtuosa guitarra. 3 longas faixas que são um passeio pelos anais mais extremos do rock progressivo – faixas longas com diversas idéias se entrepondo e foco majoritário em um instrumental rompendo paradigmas e atingindo as tangentes da vanguarda. É difícil descrever o som do grupo neste único disco, que possui uma musicalidade vasta e cuja audição é uma experiência muito interessante.

Murphy Blend – First Loss (1970)

Banda alemã de único disco, lançado pelo selo Kuckuck. Seu som é um misto de um progressivo bem cadenciado e melódico, com muitas inserções de lirismo erudito, principalmente pelo trabalho talentoso do tecladista Wolf Uhlig, que tinha formação clássica estudando em Berlim. A banda se dissolveu logo após o lançamento do álbum. O baterista do grupo, Andreas Scholtz, foi integrar o grupo pauleira Blackwater Park e o tecladista Wolf Uhlig se mandou para o Frumpy de Inga Rumpf e companhia, para gravar o segundo disco do pessoal – Frumpy 2. Um futuro promissor com certeza a banda mereceria, por seus acertos melódicos e pela incrível combinação que depois viraria marca das bandas alemãs – a marcação pesada e densa por sobre temas clássicos.

Gracious – This is…Gracious! (1972)

Grupo inglês, integrante do cast fantástico do selo Vertigo. Esse foi o segundo registro do grupo, formado por Alan Cowderoy (guitarrista) e Paul Davis (baterista). O disco abre com uma longa suíte de mais de 20 minutos, com 5 diferentes movimentos, em que riffs pesados de guitarra passeiam com toques experimentais por tinturas progressivas, com uso intenso do mellotron. As demais canções combinam o rock tradicional com influências de r&b e pop e mais incursões experimentais-progressivas, num registro bem capturado e bem arquitetado. As vendas foram fracas e motivaram a saída da banda do selo e seu conseqüente fim, só voltando a se reunir em 1996 para a gravação de um novo disco.

Spring – Spring (1971)

Na época o disco passou despercebido mas, após ser redescobertos por ávidos garimpadores de raridades dos anos 70, virou item disputado. Esta peculiar banda inglesa tinha algo quase inédito até hoje – utilizar 3 mellotrons! Havia um tecladista fixo no grupo (Kips Brown), que também incluía linhas de piano e órgão, o vocalista Pat Moran (de voz bastante característica também) e o guitarrista Ray Martines, todos tocando mellotron em alguma canção, constituindo uma atmosfera orquestral em todo o disco. O clima todo é de um som profundo e bastante melódico, numa linha próxima a Moody Blues e Cressida. As canções são singelas e muito bem compostas, algumas até surpreendentes na beleza das melodias e nas construções feitas com os mellotrons. Pra quem gosta do som deste teclado, esse disco é um prato cheio!

Earth and Fire – Earth and Fire (1970)

Formada em 1968, sob o nome de Opus Gainfull, essa banda holandesa já de cara conseguiu boa fama local e a oferta do guitarrista do Golden Earring, George Kooymans, para registrar uma canção. Daí em diante conseguiram um contrato e gravaram esse primeiro registro, com um material autoral que impressiona pela garra e vigor, juntando bem as fortes sacadas de guitarra com momentos mais tranqüilos. Pairando nos terrenos do folk europeu e captando um pouco do que se experimentava nos primórdios do rock progressivo, esse disco é uma ótima pedida, destacando-se a vocalista Jerney Kaagman, com seus cabelos esvoaçantes e sua bela voz. A banda depois seguiria com mais determinação numa trilha progressiva-sinfônica e posteriormente se rendendo à música pop comercial.

Comus – First Utterance (1971)

A cultura hippie, num insconciente coletivo, tinha em parte um ar de desapego e simpatia pela vida próxima a natureza. Isso se traduziu musicalmente, nos anos 70, em grupos baseados em instrumentos acústicos e que executavam em seus instrumentos o clima pastoral das comunidades em que viviam. Um dos mais emblemáticos, originais e polêmicos da leva folk européia foi o Comus. Longe do lugar comum de canções com violões ou sítaras, a banda fazia um som bem experimental, com temáticas obscuras e vocalizações até certo ponto esquisitas. É um disco difícil, mas que tem um instrumental memorável e um ar no qual é impossível ficar passivo. O disco vendeu pouquíssimo na época e rapidamente se tornou uma raridade.

Ikarus – Ikarus (1971)

Uma combinação densa de influência jazzista, improvisação e fraseados de rock pesado com pequenos toques experimentais. Essa é a fórmula deste grupo alemão, que registrou apenas este disco antes de debandar. Exímios músicos destilando solos instrumentais fantásticos em grandes construções sonoras, como nos 15 minutos da suíte Eclipse, que abre o disco. Os teclados e a guitarra dominam o som, num clima similar ao Van Der Graaf Generator, porém a tendência jazzista é mais evidenciada com os instrumentos de sopro – sax, flauta e clarinete – numa trilha que seria seguida também por outros lendários grupos alemães como o Thirsty Moon e o Kraan.

Finch - Glory of the Inner Force (1975)

Banda holandesa formada em 1974, muito admirada entre os fãs de rock progressivo. Com composições totalmente instrumentais, impressiona o ouvinte por encaixar tão bem as melodias, unindo uma técnica precisa à uma interpretação extremamente sentimental. O som é bastante clássico dentro do estilo, com influências da música sinfônica e levadas rockeiras fortes. Até 1977 a banda gravaria outros dois discos, de qualidade compatível, a esta sua estréia e alguma fama local antes de se dissolver. São apenas 4 longas faixas em que passeiam por tudo aquilo que um ouvinte de rock progressivo espera escutar numa boa banda. O que mais salta aos ouvidos neste primeiro trabalho da banda é a guitarra de Joop van Nimwegen, realmente admirável pelo talento e alta fluidez com que desfila melodias certeiras e solos matadores de guitarra.


Morly Grey – The Only Truth (1972)

Trio norte-americano, de Ohio. O Morly Grey é mais uma infeliz banda de um disco só, deixando-nos aguçados por mais uma amostra de seu intenso feeling. A banda mescla um hard rock de pegada forte com passagens suaves, acompanhada de um belo trabalho instrumental. A influência mais vísivel na sonoridade é do rock da costa oeste americana, com muitos vocais divididos, harmonias cativantes e passagens com violão. Pode se perceber um clima mais introspectivo em algumas faixas, assim como nos discos "Closer to Home" e "Survival" do Grand Funk Railroad. Da selvageria de "Peace Officer" (com guitarra fuzz, wah-wah, bateria frenética e solo de baixo), passando pela sonoridade viajante de "Who Can I Say You Are" chegando na suavidade de "A feeling for you", esse é mais um registro da riqueza musical do hard-rock no ínicio dos anos 70

Mythos - Dreamlab (1975)

Esse é um disco que deve ser escutado como uma obra, muita densa e desamarrada do conceito convencional de rock. O som é espacial, psicodélico, de uma profundidade que transcende a audição, uma verdadeira experiência. No geral, é um som contemplativo e calmo, mas em certos momentos traz a tona uma sonoridade mais barroca, que lembra um Jethro Tull mais lisérgico, com guitarras wah-wah e flauta, e por ora o King Crimson em seus momentos mais atmosféricos. Há passagens geniais no disco, por conta de sons sintetizados encaixados numa catatonia coletiva e por belas melodias em instrumentos acústicos ou no mellotron, num uso inteligente das harmonias. Díficil encontrar outros paralelos para este trabalho, o mais celébre dessa banda alemã, fundada em 1969 e ainda ativa.

Ramatam - Ramatam (1971)

Uma numerosa banda que reunia músicos ingleses e norte-americanos (baseada nos EUA) e cuja estréia já foi logo cunhada como uma pérola. O som do Ramatam é altamente azeitado, com arranjos muito dignos e uma flavorização deliciosa de rock com soul-funk. Participaram da banda dois músicos já famosos - Mitch Mitchell, baterista parceiro de Jimi Hendrix e Mike Pinera, guitarrista do Blues Image e do Iron Butterfly. Além deles, a bela e talentosa April Wine, pronunciada por Lester Bangs como a melhor guitarrista feminina do mundo.Ou seja, é muito talento envolvido e isso transborda do disco, em verdadeiros petardos movidos a muito groove, com sax e flautas e solos de guitarras embasbacantes. Surpreendentemente o disco fracassou e provocou um desmanhce na banda, que se transformou em trio e depois gravou mais um bom disco em 73. Altamente recomendado.

Return to Forever - Hymn of the Seventh Galaxy (1973)

Um combo de virtuosos músicos, referência absoluta em termos de fusion. O núcleo que Miles Davis formou em sua fase jazz-rock gerou uma prole fecunda, da qual saiu, entre muitos outros talentos, o tecladista Chick Corea, fundador do Return to Forever e elogiado por Keith Emerson como um excelente manuseador dos sintetizadores Moog. Este, que é o 3° disco da banda, é bem mais venenoso do que os anteriores, mais vigoroso e intenso. O instrumental riquíssimo do grupo é preenchido de muitos detalhes, muitas notas executadas rapidamente, que completam uma orgânica massa sonora de extrema musicalidade. A sonoridade do baixo de Stanley Clarke é pesada, a bateria de Lenny White beira a genialidade e os teclados de Chick Corea são brilhantes, seja na sonoridade sintetizada ou no inconfundível som do Fender Rhodes.

Tantra – Mistérios e Maravilhas (1977)

Só um pequeno facho de rock progressivo se acendeu em Portugal durante os anos 70. O país vivia sobre as botas de uma ferrenha ditadura até o começo da década e parecia tão periférico quanto outros países bem mais distantes daquele epicentro sonoro Inglaterra-Alemanha-Itália. Mas com o Tantra a gente vê que tem o outro lado da moeda, pois a representação da pequena cena se faz com muita propriedade neste primeiro trabalho da banda. O disco é só instrumental na maior parte de sua extensão, mas os vocais, quando aparecem, demonstram uma carga de emotividade grande. A banda é habilidosa na arquitetura melódica, com um instrumental forte acompanhando e um clima quase apocalíptico em muitas passagens, em que, de tão frenéticas, os instrumentos tendem quase a se desencontrar. Um memorável trabalho progressivo, com todos os adereços que agradam em cheio os fãs do estilo.


Wizard – The Original Wizard (1971)

Banda norte-americana, da qual não se tem muitas informações. São originários da Flórida e eram Paul Forney, Chris Luhn e Benji Schulz os músicos que a formaram em 70. Este é o único e raro e registro da banda. Depois de lançado de forma independente, a banda praticamente desapareceu após alguns poucos anos. Sua sonoridade é aquela pauleira hard característica dos power-trios e com um som que remete a nomes como Trapezze, James Gang, Grand Funk Railroad, Mountain e Led Zeppelin. Um timbre deliciosamente ardido de guitarra, um baixo esfuziante, uma bateria mão pesada e boas composições. Mas não só há som pesado no disco. Também se respirava por ali um certo ar rural, flavorizando os momentos mais psicodélicos da bolacha. Vale o garimpo.

Gypsy – In the Garden (1971)

Díficil falar de um trabalho tão brilhante e equilibrado quanto esse. A banda é digna de reverência por um som de tão alta categoria. Não dá pra destacar um músico do grupo, porque todos são excelentes e as composições são belas, sem exageros, capazes de agradar até mesmo quem não tem envolvimento com o rock da época. Tem até um certo quê “pop” (no melhor sentido da palavra), por fazerem composições tão azeitadas, e possuem um certo tino de latinidade e jazz, como Steely Dan, Madura ou Bead Game. Mas também têm uma perna hard-progressiva bem fincada, como Bloodrock ou Ursa Major. É um disco complicado de se escrever a respeito, mas delicioso de se ouvir e de se curtir. A banda teve pequena repercussão na época e durou até 75.

Out of Focus – Wake Up (1970)

Quitute alemão lançado pelo selo Kuckuck. A banda começou com este trabalho, muito denso e um pouco diferenciado da direção jazz-rock que abordariam nos anos seguintes, e pela qual são mais lembrados. Aqui temos um som bem denso, escurecido e com linhas próximas a de Amon Düül II, numa medida bem mais contida de experimentalismo. O uso da flauta em nada lembra as clássicas bandas que faziam uso desse instrumento. Aqui ela aparece executando riffs junto com o órgão, numa timbragem um tanto mórbida, e a guitarra, bem saturada e numa regulagem típica de um pesado hard-rock. Aqui já se percebem algumas pequenas nuances de jazz, especialmente nas levadas de bateria. A banda teve uma vida bem sucedida na Alemanha, tocando em diversos festivais ao longo da década de 70 e gravaram 3 discos. Depois de um período longo de inatividade, voltaram a se reunir nos anos 2000.

After All – After All (1969)

Desconhecido grupo norte-americano com um trabalho personalíssimo, bem gravado e bem mais próximo da psicodelia instropecta e experimental dos britânicos. Sua formação era Bill Moon nos vocais e baixo, Charlie Short na guitarra, Alan Gold no órgão Hammond e Mark Ellerbee na bateria. Ao contrário do pulsante r&b que era base para as incursões fuzz dos grupos da costa-oeste, este grupo da Flórida apoiava seu som no jazz e no nascente pop-barroco de grupos como o Procol Harum, em que a presença do órgão Hammond é a genética da sonoridade do grupo e o aproxima daquele som que germinaria o rock progressivo. Disco muito expressivo, com bons vocais, instrumental completo e bem encaixado.

Druid – Toward the Sun (1975)

Banda inglesa, da 2ª geração do rock progressiva, formada em 1970 pelo guitarrista Dane, junto com o baixista Neil Brewer e o baterista Cedric Sharpley. Assumiram o nome de Druid quando da entrada do tecladista Andy McCrorie-Shand. Este é seu primeiro trabalho, datado de 75 e que reúne memoráveis momentos da curta carreira da banda. São faixas com um progressivo bastante melodioso e de sofisticada beleza, em que predominam passagens calmas e reflexivas. Há também momentos mais dinâmicos, todos muito bem construídos e com sonoridade caprichada. Os vocais são peculiares e até destoantes da média do estilo, por serem bem agudos, o que para uns pode soar bem e para outros nem tanto.


Cirkus – One (1971)

Pena que também essa banda ficou só na estréia, porque se assemelha a um diamante a ser lapidado. O som do Cirkus no disco One se sintoniza com o que também fazia o Curved Air ou o Argent em seus momentos mais progressivos. Com uma presença forte de mellotron, um bom trabalho de guitarras e linhas vocais chamativas, o disco soa bem logo de cara e tem músicas que poderiam, em uma carreira mais consolidada, ganhar a alcunha de clássicos. Vale o garimpo e uma boa audição.

The Flock – The Flock (1969)

A resenha já começa com um fato inusitado. Sendo de Chicago, a sonoridade deste grupo me leva a uma breve comparação com o som do famosíssimo Chicago (na época chamado Chicago Transit Autorithy) em seu período incial. O som do Chicago já era uma novidade na época e o Flock tinha ainda algo mais para inventar – a presença do violino de Jerry Goldman (futuro Mahavishnu Orchestra) junto com naipe de metais e os demais aparatos de uma banda de rock. O som do Flock, longe de ser curioso, é uma interessante intersecção de elementos distintos – jazz, r&b, blues e rock – aos quais o violino não tem afinidade aparente. Mas talento é talento e aqui é a prova de como tudo isso se mistura bem, com muito gás

Epitaph – Epitaph (1971)

O Epitaph é mais um nome da boa safra que surgiu na Alemanha do começo dos anos 70, cruzando o hard rock com outros adictos. Influenciados pelo som das bandas de rock pesado e progressivo do Reino Unido, como Led Zeppelin, Deep Purple, Uriah Heep, Wishbone Ash e King Crimson, o Epitaph teve uma carreira de relativo sucesso e lançaram discos até ínicio da década de 80. Este é o primeiro e maravilhoso registro dessa banda, que contava com o inglês Cliff Jackson nos vocais. O som varia desde o progressivo mais climático até o hard rock mais agressivo. A bolachinha inicia com um som à la Wishbone Ash, passeia pelo progressivo em "Visions" e "Hopelessly", e chega a um clima bem agradável na suave "Little Maggie". Em "Early Morning" o clima vai crescendo durante os 10 minutos de som, até desaguar em um poderoso hard, com incisivos ataques de guitarra.

8 Days in April – Hamburg Scene (1972)

O nome da banda é bastante revelador – este disco foi registrado ao longo de 8 dias de trabalho de estúdio, em um mês de abril, com músicos da região de Hamburgo, na Alemanha, a saber, um quarteto composto por Udo Lindenberg (vocal e bateria), Jean-Jacques Kravetz (teclados), Steffi Stephan (baixo), e Thomas Kretzschmer (guitarras), com a participação de Inga Rumpfy (da banda Frumpy) nos vocais e Roger Hook nos violões. O tecladista Jean Kravetz já tinha uma respeitosa carreira com o Frumpy e depois seguiu sendo parceiro de Inga Rumpfy na banda Atlantis. O som do grupo tem uma mescla de temperos em um rock progressivo ainda em desenvolvimento, com alguns arranjos um pouco rudes, mas com ótimas idéias, o que aparenta ter sido fruto de um trabalho já pré-concebido, com pouco tempo para um amadurecimento maior. Também há momentos de um flerte com um som mais pesado em bases de órgão e guitarra e uns pequenos recalques de jazz. É um bom disco de um projeto que poderia ter rendido mais história.

Affinity – Affinity (1970)

Valioso item do selo Vertigo, com, de quebra, uma trabalho gráfico impecável e de apreciável beleza. A beleza que começa na capa acompanha quem a manuseia na audição deste único disco do Affinity (pelo menos que foi lançado durante o período em que a banda de fato existiu). O fantástico vocal de Linda Hoyle é a cereja de um bolo composto de um r&b introspecto com doses de jazz-rock e um ar misterioso predominando na maioria das faixas. Acompanhando a voz de Linda está uma banda competente e criativa que esbanja belos fraseados de guitarra e órgão Hammond por cima da cama dos naipes de metais, onipresentes nos momentos mais dinâmicos do disco. Pra finalizar, a banda nos presenteira com uma arrebatadora versão de “All Along the Watchtower”, com saborosos e longos delírios organísticos.


Nova – Blink (1975)

O Nova foi um grupo de músicos italianos baseados na Inglaterra, desbravando os terrenos do jazz-rock com as mais plenas de liberdade de a ele acrescentar boas pitadas de funk, r&b, hard rock e até sons latinos. No trabalho da banda, destaca-se a musicalidade elaborada em ótimos temas instrumentais e também linhas vocais na medida, cantandas em inglês, ao longo de todo o disco. A bateria, dona do ritmo junto com o baixo, imprime o peso necessário para garantir a base segura de muito improviso de saxofone e guitarra, ambos se exibindo com técnica exuberante e pegada intensa. Enfim, um disco valioso, uma jóia deste período repleto de fusões.


Semiramis – Dedicato a Frazz (1973)

Na Itália, o rock progressivo foi mais popular entre os músicos do que entre o público jovem leigo. Daí, em grande parte, o fato de tantas bandas de vida curta no país da bota. A concorrência imensa entre as bandas e a grande produção fonográfica entre 72-74 não deixou espaço para abrigar nomes como o Semiramis e uma grande leva de bons grupos. Esta banda, dos arredores de Roma, que gravou um único disco em 73, tem como curiosidade o fato de que o “Frazz”, a quem teoricamente o disco é dedicado, é na verdade uma combinação da primeira letra dos sobrenomes dos músicos da banda. E parece ser latente a pouca preocupação da banda em agradar o público convencional, pois o som é bem urgente, com muitas variações e descontinuidades, trechos pesados e muitos passeios por ritmos e harmonias típicas da música italiana. Um rock progressivo com muito tempero daquelas terras e outros ótimos atributos. 

Fludd – On! (1972)

Banda formada em 1971, em Toronto no Canadá, e com boa fama por lá no período. Durou até 77 e é figurinha carimbada em coletâneas do pop-rock canadense do período, por conta dos hits bem sucedidos que tiveram nos idos de 72-73. Seus discos, assim como este a que nos referimos apresentam uma bem combinada mistura de baladinhas de sintonia country-rock, rocks básicos e sons mais instropectivos que beiram as climáticas suítes do rock progressivo em voga na época. O instrumental é bem coerente em todo o disco, colocado com clareza em composições simples e de bom gosto, junto de vocais azeitados e corretamente harmonizados, com violões e teclados muito adequados a proposta da banda

Jeronimo – Jeronimo (1971)

Power-trio alemão que faz um som de chutar o traseiro! Este é o segundo disco da trupe alemã que conseguiu boa notoriedade em seu país, com compactos tocando nas rádios, abrindo shows de grandes bandas da época, como o Deep Purple e o Steppenwolf, além da participação em diversos festivais locais. Um som vigoroso, sem muitas pretensões, com alguns adereços típicos do rock do começo dos anos 70 e tudo muito bem construído. Baixo com bastante gordura, bateria forte nas batidas e guitarras jogadas bem de frente, são a tônica da infalível trinca do som dos trios rockeiros do período, no que é provavelmente o melhor trabalho desta excelente banda.


Mighty Baby - Mighty Baby (1969)

Na Inglaterra, diferentemente dos EUA, o rock psicodélico não tardou a produzir muitos filhotes de seu espectro de possibilidades sonoras. O Mighty Baby, em sua história, pode exemplificar essa tese. De seus primeiros dias como The Action, eletrificando o r&b com aquela selvageria típica de adolescentes anfetaminados, seu som foi ficando gradativamente mais refinado e distinto, agregando elementos de country, folk, jazz e música pop, sem grande acentuação experimental, porém com uma qualidade de tratamento que logo os cotou muito bem na cena inglesa. No disco, transparece um instrumental um pouco enxuto, de grande qualidade musical ao longo de todas as faixas. Mas ao vivo, a banda embarcava em grandes viagens sonoras numa pegada bem Grateful Dead, o que elevou seu status e fez seu som embalar muitos festivais ao ar livre pela Europa. Fica nítido aqui o limiar do rock psicodélico, gerando novas formas sonoras para o rico período do começo dos anos 70.


Tonton Macoute - Tonton Macoute (1971)

Um som tipicamente inglês do período art-rock pós-Beatles é o que fazia o Tonton Macoute, banda de um único disco e de história obscura. De um tom inicial ligeiramente pop, com pouca guitarra, há uma grande tônica para os caprichosos arranjos vocais, o belo timbre da voz principal do grupo e para os solos de sax/flauta que pontuam muito bem o disco, principalmente quando levadas jazzísticas padrão pairam na neblina matinal que envolve a sonoridade deste disco. Em poucos momentos a banda usa algum elemento para tornar seu som mais pesado, atuando mais na climática combinação de órgão Hammond com violões e flauta, sendo este primeiro onisciente quase todo o tempo, com uma timbragem bem etérea e que dá os ares para o som.


Gryphon – Red Queen to Gryphon Three (1974)

Aqui está um trabalho para o qual cai como uma luva a questionável titulação “progressivo sinfônico” ou “rock sinfônico”. Esta banda inglesa, que focou seu trabalho inicial na busca pelas raízes da música folclórica européia, inclusive com a utilização de instrumentos rudimentares e exóticos, aqui aliou esse senso a um trabalho rítmico mais rico e um alinhamento ao rock progressivo mais claro, conseguindo uma blenda fantástica de originalidade e qualidade musical. É claro que nada disso aconteceria sem a engrenagem do talento, da qual os músicos do Gryphon eram muito bem servidos. Porém, surpreende o encadeamento das idéias trabalhadas, em que realmente parecemos ouvir uma sinfonia clássica composta para ser executada por uma banda. Mini-moog soando junto com violões, flauta, oboé, fagote, trompa, piano, bateria, baixo e guitarra, tudo isso para retratar uma partida de xadrez no universo mitológico. Vale a pena conhecer.  

Mirthrandir – For You the Old Women (1976)

Uma tempestade de críticas se arma toda a vez em que alguém resolve defender o rock progressivo norte-americano na década de 70. O predicativo de “sem originalidade” é o mais comum a ser aplicado. Há até do que se concordar, porém qualidade musical não é diretamente proporcional a originalidade. E nesse quesito, existe uma safra boa de bandas de lá ainda a ser redescoberta. O Mithrandir é uma dessas boas referências. O sexteto formado em 1973, em Nova Jersey, contava com dois guitarristas e todo um time de ótimos instrumentistas, todos com o objetivo comum de fazer um progressivo na escola do Yes, com passagens de entortar o cérebro e divisões rítmicas complexas, que num todo soam muito bem. Este único trabalho pode até derrapar em alguns exageros e algumas idéias boas desperdiçadas apenas como pontes entre as constantes mudanças no som, mas tem momentos marcantes de polirritmia e senso melódico.

May Blitz – May Blitz (1970)

Apesar de não ter vendido quase nada com esse lançamento, a Vertigo resolveu dar mais uma chance para este trio inglês, devido aos seus shows incendiários. Um segundo disco no ano seguinte também não conseguiu despertar a atenção do público. E a banda morreu por ali. E que triste destino, porque essa morte não se deu por falta de música boa. Muito calibre tinha o som dessa banda, em ambos os discos. Seu blues é totalmente turbinado e descontruído em climas escuros, com a forte tradição que o Cream estabeleceu para todo o trio – baixo e bateria pulsante e muito bem desenvolvidos, para oferecer a melhor cama para a guitarra. O May Blitz não só seguiu a risca essa receita como a manufaturou de uma forma toda própria. Em alguns momentos, com o uso de violões, a banda foge totalmente do lugar comum, desbravando territórios daquela musicalidade nascente – o rock progressivo. Em outros, a banda apresenta um peso que poucas bandas estavam conseguindo imprimir em seus discos no mesmo período.