Colaboradores que enviarem textos legais, pertinentes aos temas da rádio e que forem considerados de utilidade e interesse geral, terão seus textos postados aqui nessa coluna.
Se você escreve, se tem alguma boa história para partilhar ou tem algum texto curto e bacana para nos apresentar, envie para ser analisado. Claro que não será possível publicar todos os textos que serão recebidos, como também não publicaremos endereços de e mail. Os textos terão os devidos créditos.

RockPuro não se responsabiliza pelos textos abaixo, que são de responsabilidade dos autores e podem ser retirados à pedido dos mesmos.

 

Victor Lourenço – Jornalista e baixista nos fala sobre a Ipanema FM: o fim de uma experiência sonora no rádio:

Em Porto Alegre, no dia 11 de maio de 2015, foi anunciado o encerramento das atividades da Rádio Ipanema-FM, mantida pela Rede Bandeirantes até então.

É o fim de uma era, mas já vinha sendo a crônica de uma morte anunciada. As demais emissoras deveriam olhar com atenção este caso, para entender o que houve, para evitar o pior: a repetição da história.

As pessoas de minha geração e anteriores conheceram um mundo que esteve em transição desde sempre – tal é sensação que restou depois de tantas evoluções tecnológicas. Quem, assim como eu, escutava rádio em ondas médias, a rádio AM, dos anos 1970 em diante, percebeu uma grande mudança na qualidade do som.
Naquele tempo o equipamento de recepção era algo simples, um radinho de pilha na maioria dos casos.

O Brasil teve milhões de aparelhos de rádio AM portátil, coisa que muitos não conhecem. Naquele período o que se ouvia era quase só notícia e alguma coisa parecida com música. A gente sabia que havia alguém cantando; mais imaginava que ouvia, tão baixa era a qualidade do som. O ruído, a estática e as interferências, principalmente à noite, quando entravam no ar as rádios da região sul da américa latina. Era uma aventura sintonizar.

Na virada dos anos 1980 o Brasil enfrentava a inflação galopante e a indústria nacional tentava sair do atoleiro. A partir dessa época as noites nunca mais foram iguais. Na praça central da cidade se ouvia um som quase perfeito, alto e forte. Os carros podiam exibir potência de motor e de som. Uma nova era começava: a disputa pela qualidade do som, e as rádios FM entraram nesta onda, transmitindo música com excelente qualidade de áudio, muito melhor do antes.
Quando era possível usufruir de uma aparelhagem mais pesada, o resultado era sempre bom: se apreciava muito mais os detalhes. Tudo isso e ainda não havíamos chegado à era digital, quando a qualidade deu um novo salto.

O que me chega agora é a passagem do tempo: essa experiência sonora que ficou para trás. Antes dos headfones, walkmans, CDplayer portátil e dos celulares, o brasileiro comum ouvia muito rádio, se possível o dia inteiro. Quem podia ficava com o rádio ligado. As pessoas desenvolviam intimidade com os locutores, formavam seus hábitos a partir da grade de programação, paravam para escutar o noticiário. A experiência de ouvir foi certamente muito afetada pelo desenvolvimento tecnológico na informática. A digitalização causou uma revolução técnica e ainda está afetando esse mercado em particular. O que ocorre hoje ainda é resultado de decisões tomadas no passado, as consequências aos poucos vão sendo conhecidas.

A passagem do modelo tradicional ao atual sistema é uma outra longa história. O jeito de fazer rádio evoluiu e foi moldado de acordo com uma visão do mercado. Tudo isso foi afetado. A abertura do novo mercado digital, retirando importância das mídias tradicionais, afetou a audiência, desde então sempre em baixa. As verbas publicitárias foram confiscadas pelos grandes grupos e o número de assinantes também passou a declinar.
Este cenário só se agravou desde então. As emissoras passaram a cortar custos, a enxugar suas máquinas, em detrimento do compromisso com seus ouvintes, com o seu público fiel. Uma vez rompido este acordo, tudo mudou. Foram trocados o tom intimista e a proximidade pela gritaria e a agitação. As músicas lentas pelas rápidas, para ficar num só exemplo.

Hoje, quando a qualidade do som está melhor do nunca, em termos técnicos, o que não está melhorando é a qualidade da programação. Trocaram o compromisso com o ouvinte pelo resultado contábil.
E qual foi o fim? Fecharam-se as portas de uma experiência sonora.

acompanhe as histórias do Victor Lourenço: www. revisiorevisionis.blogspot.com.br

Rock em Rolo, pelo Óscar Fuchs, que é Jornalista, cronista, escritor:

— Aí, pai, to indo.

—Vai viajar? Pra onde?

— Viajar nas ondas do rock, pai. To indo pro festival de rock!

— É isso aí, filhão! Paz e amor!

— Paz e amor? Que chonga é essa, pai?

— Paz e amor, Woodstock, rock’n roll, protesto, transgressão...

— Não pode, pai, tem um monte de seguranças.

— É bom, é bom, sempre tem uns caras que exageram. Mas o importante é que o pessoal vai na livre e espontânea, voluntariamente, só no amor...

— Só no amor? Um passaporte desses custa uma fortuna, pai!

— Como assim, mas não é de graça? Todo mundo se movimenta para o mesmo lugar e acampa com barracas num gramado, curtindo o rock?

— Que nada, o patrocinador não deixaria.

— Patrocinador? Em festival de rock?

— Claro, né pai?!

— Ta bem, deixa pra lá. Quem é que vai estar no show, diz aí as bandas.

— Ó, no primeiro dia vai ter Titãs, Milton...

— Milton? Milton and the Wildtones? I’m gonna move? Big green car? É rock puro!

— Acho que não é o mesmo Milton, esse é o Milton Nascimento.

— Milton Nascimento? Cantando Travessia, Coração de Estudante, Cio da Terra e essas coisas, num show de rock? Tudo bem, tudo bem, é bom mesmo assim. Quem mais, quem mais?

— Deixa ver, Claudia Leite.

— Essa não é aquela do axé?

— É, a baiana, aquela.

— Axé em show do rock? Só falta dizer que vai ter música clássica.

— Vai. Será no encerramento da abertura.

— O que? Não me diga que vai ter Verdi com orquestra e coral no Va pensiero de Nabuco, em show de rock, inadmissível, inadmissível! Me dá aqui essa relação, deixa ver: Ivete Sangalo? Aquela do trio elétrico? Shakira? Aquela popzinha da copa do mundo?

— Ah, as meninas gostam dela, pai.

— Isso é comercial, é fabricado, é produto, é igual rolo de papel higiênico! Rihanna? Quem é Rihanna? Isso não é rock!

— Ela é uma que...

— Olha só essa lista, nenhum Rolling Stones, nenhum Queen, nenhum Santana...

— Não ta confirmado, mas acho que vai ter sim.

— Santana?

— É, o Luan.

— Não acredito! Onde a gente foi parar!

acompanhe as histórias do Óscar Fuchs: http://cronicasoscar.blogspot.com.br

Erick Vizoki explica a "música" do Globo Reporter:

O RockPuro costuma apresentar na íntegra o álbum com a trilha sonora do filme "The Vanishing Point", aqui chamado de "Corrida Contra o Destino". Um clássico da contra-cultura.
Infelizmente não assisti ao filme. Mas na trilha sonora está a música "Freedom of Expression", do obscuro grupo The J.B. Pickers... (QUEM???). Pra quem não sabe, esse som foi também a abertura original do Globo Repórter. Na minha opinião, é um clássico absoluto, sonzera mesmo!!!
Quando o Globo Repórter foi ao ar pela primeira vez em 1972, o tema de abertura chamou mais atenção que o próprio programa. Na época, ninguém sabia que música era aquela e quem tocava. Muitos pensavam que era uma música desconhecida do PINK FLOYD. Quando a trilha sonora do filme foi lançada no Brasil, finalmente pode-se saber o nome da banda: The J.B. Pickers. Mesmo assim, ninguém sabia de quem se tratava. Cogitou-se, inclusive, que J.B. poderiam ser as iniciais de JEFF BECK.
Então, pra quem não conhece a história, venho esclarecer a dúvida.
Quando o filme "The Vanishing Point" contendo a honrosa faixa "Freedom of Expression", teve sua trilha sonora lançada no Brasil, pôde-se conferir a autoria aos anônimos The J. B. Pickers.

Continuava a duvida: quem são esses J. B. Pickers? Não constam em catálogo algum de discos, tampouco nenhuma enciclopédia de rock faz qualquer menção a essa banda. Passaram alguns a especular se J. B. não seria Jeff Beck? Até mesmo hoje em dia, com a conveniência da internet, se fizer uma busca sobre The J B Pickers, tudo que irá encontrar é a menção ao filme Vanishing Point ou outros internautas, curiosamente perguntando também o que se sabe a respeito desta banda. Afinal, quem são esses ilustres desaparecidos? Pois bem, vamos então matar a charada agora para vocês.

The J. B. Pickers não existe!!!. É um nome fictício utilizado então exclusivamente para a gravação de duas faixas deste filme, The Vanishing Point. Seus músicos são contratados de estúdio e não há disponível no momento a relação de seus nomes.
Posso comentar apenas sobre a autoria do tema, seu idealizador, J. B., ou seja, Jim Bowen.

O Cacique Ajuricabat, da Tribo dos Manaós, mandou esse cordel primoroso:

Faço uma oferenda ,
Ao querido amigo Dino.
De mandar prá sua coluna,
Um cordel que fosse fino.
Tratando bem de um tema,
Que sabe como ninguém.
Explorando RockPuro,
Nome que sua rádio tem.

Um caboco caprichoso,
No assunto impõe respeito.
Monta cada repertório,
Que empolga qualquer sujeito.
Buscando sempre mostrar,
Na sua rádio virtual.
Que de rock ele entende,
Não é pouco, é anormal.

E não é só de famoso,
Desses que todos conhecem.
Vai buscando lá no fundo,
Canção que muito engrandece.
Prá quem ama mesmo rock,
Esse ritmo tão gostoso.
Prá ele nada é difícil,
Nenhum angu tem caroço.

Tocando banda e conjunto,
Cada qual com sua grandeza.
Vasculhando lá no fundo,
Tudo seu só tem beleza.
Pink Floyd nem se fala,
Fez até especial,
Quando tocou o Jim Morrison,
Foi mesmo sensacional.

Divulga até raridade,
Que não se vê na parada.
Rock que até vem da China.
Uma surpresa arretada.
Do Camboja, da Austrália,
De Israel, quem nunca viu.
Cabra conhece de rock,
Digo Puta Que Pariu.

Foi mesmo honra bem grande,
Nisso eu sou bem sincero.
Publicar na sua coluna,
Esse cordel tão singelo.
Mas feito com muito carinho,
E grande admiração.
Atendo aqui seu pedido,
Obrigado meu irmão.

acompanhe a Tribo dos Manaós: http://tribodosmanaoss.blogspot.com/

Fabio Cequinel, blogueiro bem informado, comenta uma lenda antiga:

O Lado Negro da Lua ou de OZ?

Dark Side of the Moon de 1973 feito pelo Pink Floyd é um album conceito onde fala sobre as pressões da vida, como dinheiro, amor, tempo e etc... Algo que poderia ser até a antimatéria do outro elemento que gera uma lenda um tanto curiosa. O Mágico de OZ, onde tempo, dinheiro e amor não são pontos de crítica mas sim de busca. Mas o que chama a atenção aqui não são os pontos de vista de Lyman Frank Baum ou de Roger Walters, mas sim o fantástico sicronismo da obra musical do Pink Floyd versus o filme.

Há muitos anos eu escutava meus colegas falarem muito desta lenda, e depois resolvi conferir, e fiquei de boca aberta! Mas não foi assim tão simples. Tentei sem sucesso várias vezes até descobrir o " macete". Um dos fatores que podem ajudar é você usar um VHS do filme ao invés do DVD. Pois no VHS há um ponto estratégico para executar o Dark Side. Quando o leão da Metro rugir pela terceira vez (isto só tem no VHS em DVD em várias edições não tem o leão) aperte o play e perceba algumas coisas incríveis.

Quando Dorothy tenta ouvir o coração do homem de lata coincide (ou não) com as batidas de um coração no cd. Várias frases das músicas coincidem com os atos dos personagens no filme. Em uma cena, bem no ínicio, Dorothy olha para o céu e na faixa do cd é reproduzido um som de avião...

Estas e outras circunstâncias são bem perceptíveis durante a execução das obras em sincronia.

Silvio Atanes é jornalista e escreve sobre a banda Memphis e suas variantes:

The Clocks, o som na hora certa

Esse LP, aparentemente um pau-de-sebo, foi finalizado em 1972, pela Som Livre, mas só foi lançado em fevereiro de 1973, sem muita divulgação. Tudo nos  mesmos moldes de “Sodom” (Beverly, 1971), petardo psicodélico do Kris Kringle, um dos vários apelidos do lendário Memphis. Ao que tudo indica, são os mesmos membros do Memphis ocultos por entre os sulcos do The Clocks.

Da mesma forma que no LP do Kris Kringle, a segunda faixa é um cover dos Beatles. Se, no álbum “Sodom”, entrou “Help”, desta feita foi a vez de “I saw her standing there”. Como curiosidade, o LP vem embalado com a famosa capa “sanduíche” (totalmente plastificada). E o bolachão foi prensado na Odeon, o melhor vinil jamais feito no Brasil.

Aposto no Memphis pela autoria das músicas creditadas a autores como Joe Bridges (Dudu França, bateria e vocal do Memphis), Charlie Marx (Carllos Roberto Marques, vocal, sax, guitarra etc.) e Oswald Smile (Osvaldo Rizzo, percussionista). No lado A, com seis músicas, cinco são de autoria própria. Por todo o clima, a guitarra solo deve ser de Juvir Moretti, o Xilo, que fazia a moçada dos bailes tremer com seus riffs coruscantes.

Além disso, há um gospel pop com introdução à la Bach que é a cara e a voz do Otavinho (teclados do Memphis): “Jesus”. O baixo poderoso, tá na cara, só pode ser de Marco Antônio Fernandes Cardoso (Nescau), irmão de Otavinho. O bolachão todo é recheado de Hammonds alucinados, riffs e solos bem colocados, timbragem classe A e vocais tipo David Coverdale.

Com seu vozeirão característico e pinta de galã, o frontman Dudu França fez história nas domingueiras paulistanas no início dos anos 70. Tanto este LP quanto o disco do Kris Kringle apresentam, basicamente, o mesmo repertório cantado pelo Memphis nos bailes do Círculo Militar, E. C. Pinheiros etc. Grande Dudu! Continua na ativa, aos 60 anos, cantando rock evangélico!

O misterioso The Clocks já havia entrado na trilha sonora internacional da novela “Selva de Pedra” (1972), com a faixa “Jesus”. Mas disfarçado com outro nome: Billbox Group. Billbox é uma mistura de Billboard + Cash Box, as duas paradas de sucessos mais famosas dos anos 70. A Som Livre também lançou a faixa em compacto simples naquele mesmo ano, com esse apelido maneiro, de quem está em todas as paradas ao mesmo tempo.  

O LP da novela campeã de audiência realmente bombou nas paradas e embalou muitos namoros, principalmente devido ao megassucesso “Rock and roll lullaby”, baladão inesquecível de B.J. Thomas, tema de Simone Marques (Regina Duarte) e Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco). “Jesus” era o tema do beato Sebastião (Mário Lago), pai de Cristiano Vilhena. E, nos sermões do pastor no “Largo da Matriz”, Cuoco tocava... bumbo!

Com um defeito de fabricação que o deixa mais raro ainda, o The Clocks perpetrou na capa e contracapa a canção “Love pation number one”, em vez de “potion”!!! Quem fez o layout deve ter escutado alguém falar, de longe: “Põe aí, ô mané: ‘Love potion’ na capa!”. Porém, com muita Cera Parquetina no pavilhão auricular, achou que era “Love passion” e, claro, tascou o pation na ilustração. O original, “Love potion number nine” (nove, e não um!) foi lançado em 1959, pelo grupo americano The Coasters. Mesmo assim, a sonora poção não perdeu seu efeito. Nem quase 40 anos depois!

Isso acontecia várias vezes nos discos dos brasucas singers, devido ao “enrolês”, idioma falado fluentemente pela grande maioria deles. Uma vez, um compacto do Memphis saiu com “Barkness” no selo, no lugar do título correto, “Darkness”... Vai ver, era um cachorro latindo no escuro! Acabou? Não. No selo do LP, saiu The Clock’s, com um apóstrofo apócrifo!

O LP do despertador não perde a corda nem a rotação em nenhum momento. Os meninos esbanjam classe e técnica invejáveis durante todos os 32 minutos do disco, especialmente em “To cry you a song” (Ian Anderson), cover da clássica faixa do Jethro Tull, de 1971. O bolachão termina como começou: fazendo muito barulho. O cover de “Rock and roll” (Lou Reed) é de tirar o fôlego, para ninguém ficar sentado no salão, fim de baile total!

Enfim, The Clocks era um grupo à frente do seu tempo! O disco é tão misterioso, que não traz sequer o nome dos integrantes do grupo, muito menos produtor ou quem selecionou o repertório. Mas, tocado com tamanha propriedade, virtuosismo e pegada rocker, não poderia ser um grupo biônico qualquer, composto por ratos de estúdio angariados na base do laço. Toda a harmonia exibida é de quem já tocava junto havia muitos anos! Por isso, digo e repito: é o Memphis na cabeça! Para ouvir e não perder a hora.

Silvio Atanes é jornalista e escreveu sobre a banda Memphis, "de Pinheiros para o mundo"

Na pré-história do pop brasileiro, desponta o seminal grupo Memphis, nascido não na terra de Elvis Presley, mas nos bairros de Pinheiros e Aclimação, em São Paulo, no fim dos anos 1960. Com o término do igualmente jurássico Colt 45, os remanescentes Dudu França, Marcos Maynard e Xilo (Juvir M. Moretti), convidaram Nescau (Marco Antônio Fernandes Cardoso), Cláudio Callia e Niccoli (Alberto Niccoli Jr.) para formar outro conjunto de rock. Assim nasceu o Memphis, que estreou no Círculo Militar, em 1968. Dudu também tocava bateria e era o cantor; Maynard tocava guitarra-base; Xilo, guitarra-solo; Nescau, baixo; Nicolli, bateria; e Callia, teclados.

Os membros do Memphis também gravaram com nomes de outros grupos, como Beach Band, Baby Joe, Kris Kringle, Lee Jackson e Moon & Stars. Era a saída para aumentar a oferta e vender mais discos, já que o mercado e, principalmente, as emissoras de rádio pediam músicas em inglês. Essas músicas faziam um tremendo sucesso nos bailes de domingo à tarde, especialmente no Clube Pinheiros e no Círculo Militar, os templos máximos das domingueiras dançantes paulistanas.

Quando o Memphis estava prestes a gravar o primeiro single, "Sweet Daisy", o tecladista Callia deixou o grupo. Rapidamente, Maynard, conhecido como Marcão, assumiu a vaga do órgão para os shows e convocou Otávio Augusto Fernandes Cardoso, o Otavinho, irmão de Nescau, para a segunda guitarra. Outro conhecido nome na cena dos bailes paulistanos na virada dos anos 1970, Otavinho participou das sessões de gravação de "Sweet Daisy"/"Goodbye", quando também assumiu os teclados. Lançado em novembro de 1971, o compacto de vinil foi um grande sucesso.  

Em seguida, gravaram, com o pseudônimo Lee Jackson, o compacto "Oh oh la la la". A música marca o início da parceria de Otávio Augusto, o futuro fazedor de hits em série Pete Dunaway, com o escocês Robert Duncan. As duas faixas da bolachinha do Lee Jackson ("Oh oh..." e "I found myself alone") levam a assinatura de Otavinho, que aparece como "August", e Duncan. No lado B, Otavinho assume os vocais, dando um trailer de sua grande extensão vocal. Em 1972, Otavinho, lançado pelo produtor musical Cayon Jorge Gadia (Rádio Difusora AM 960 KHz, de São Paulo), assume o pseudônimo de Pete Dunaway – na música-tema da novela “Bel-Ami”, da TV Tupi.

Por causa do êxito de “Oh oh...”, que bombava nas rádios, Maynard resolve deixar o Memphis. Depois do lançamento desse single com a formação do Memphis, Marcão se junta ao pessoal do Amheba e monta um grupo de fato com o nome Lee Jackson. O conjunto contava com: Luiz Carlos Maluly (guitarra, craviola e harmônica): Maynard (teclados); Sérgio Lopes (baixo e sintetizador); Cláudio Condé – o “Italiano” – (depois substituído por Raymond Mattar, vocal); e Felipe Dib Neto, (bateria, em seguida, Marco Aurélio Bissi). A carreira vitoriosa do Lee Jackson começou com o compacto “Hey girl”, sua marca registrada, lançado em 1972. O auge do Lee Jackson é o LP “Rock Samba” (1976), produzido no Brasil pelo lendário Bill Haley.

O Memphis, do qual ainda participariam Osvaldo Rizzo Filho (percussão), o guitarrista Wander Taffo e o baterista Gel Fernandes (futuros Rádio Táxi), Hélio Eduardo Costa Manso (também conhecido como Steve MacLean, que tocaria no grupo Sunday, teclados e vocais) e Carlos Alberto Marques, o Carlinhos (guitarra, vocal, flauta e sax), gravou mais três compactos: os simples "Going next to the one I love"/"Nature! Nature!", de 1972; “Such a beautiful day”/“Love at first sight”, de 1973; e o duplo "My world is you"/"Floating words"/"I wonna be happy"/"Get back", de 1974.

Ainda nesse ano, Pete Dunaway lança seu primeiro e bem-sucedido LP solo, puxado pelo hit arrasa-quarteirão “You’re the reason”, o que consolida sua carreira. Em 1978, Dudu França estouraria nacionalmente com “Grilo na cuca”. Nos compactos do Memphis, Dudu França era Joe Bridges, uma tradução brincalhona de seu nome de batismo, José (Joe) Eduardo França Pontes (Bridges). Nos discos, Carlinhos também aparecia como Charlie, Charles Marx ou Mr. Charlie. Ele é o autor do maior sucesso do Memphis, “Sweet Daisy”. Nos anos 80, o Rádio Táxi de Wander Taffo e Gel Fernandes invadiria as paradas com megassucessos como “Garota dourada” e “Eva”.

Missão cumprida, o Memphis duraria até 1976. Com a alvorada da Era Disco nos pés de John Travolta e nos vocais edulcorados dos Bee Gees, todo mundo só queria saber dos embalos de sábado à noite. A porta dos clubes se fechara para os conjuntos. Era o fim das românticas domingueiras.

No encarte do CD triplo “Rock ‘n’ Roll Celebration”, de 2001, Dudu, em inspirado depoimento a Pedro Autran, resumiu a importância do Memphis na história do pop brasileiro:

“O Memphis era para nós uma coisa até mágica. Nós tínhamos a convicção de que éramos os melhores. E, na realidade, tínhamos um vocal e um instrumental muito bom, principalmente quando eu, o Otavinho e o Carlinhos fazíamos a linha de frente do vocal. Depois, tivemos outra fase muito boa, com o Wander Taffo na guitarra, o Hélio Costa Manso nos teclados, o Gel (Gelson Luiz Fernandes) na bateria, o Nescau e eu tocando flauta. Até aprendi expressão corporal para ficar lá na frente. Para mim, foi uma escola, que me ajuda até hoje. Era uma superbanda.”

Manoel Décio Estigarribia é músico e escritor. Escreve sobre o Jon Anderson e o Yes:

"YES - Uma Rara Música de Quinteto".

Estamos agora em 1972 e o leitor pode observar como foi rápida a evolução deste quinteto até aqui. Em poucos anos, o Yes entrava de maneira gloriosa naquilo que os críticos da época classificavam como o rock-sinfônico. A vasta suíte "Close To The Edge" era apresentada ao mundo e o grande obstáculo de se lançar em uma composição de largo fôlego era quebrado.

A rara música de quinteto não só conseguia criar uma obra com dezoito minutos e cinquenta segundos, mas também soube tirar bom proveito dela, tornando "Close To The Edge" um sucesso mundial.

O Yes, a partir de "Close To The Edge", estava no topo do mundo, e inquestionavelmente a inteligência musical de Anderson tomava o centro das atenções. Não foi à toa que ele ganhou o apelido, dado pelos próprios músicos do conjunto, de "Napoleão". Foi este "Napoleão", de voz aguda e gesticulações de palco geralmente humildes, quem mais trabalhou como compositor em todo o "Close To The Edge", já que foi simplesmente o autor de todas as canções.

Mais do que nunca, Jon Anderson dava a definitiva prova de seu gênio com apenas 28 anos de idade. Para Anderson, os trabalhos mais importantes de toda a discografia da banda são o Fragile e o trabalho aqui comentado (Anderson fez esta observação em entrevista ao jornal O Globo em 1989. No ano de 1994, em entrevista telefônica ao mesmo jornal, Jon Anderson omitiu o "Fragile" e classificou como sendo "Close To The Edge", "90125" e "Talk" os três mais importantes discos da carreira do Yes).

O importante era que o Yes tinha passado no teste com nota dez. A estrutura de "Close To The Edge" foi a maior responsável para que o grupo conseguisse desenvolver uma composição tão vasta assim. O ouvinte mais atento pode perceber que esta obra com quase vinte minutos de duração não se torna, em um só momento, monótona, sem grandes atrativos. Se ouvirmos mais atentamente "Close ToThe Edge", perceberemos que o que mais caracteriza a estrutura desta brilhante composição é seu processo de reprise textual variada. Grande parte de "Close To The Edge" nada mais é do que isso. É repetir de maneira variada o que foi inspiradamente criado.

A partir desta grande suíte, o Yes se aventurava por caminhos nunca antes percorridos. Daí em diante, estes cinco jovens músicos começavam a entrar num universo musical cada vez mais complexo, hermético. Até certo ponto, os trabalhos anteriores podem ser vistos como um grande ensaio geral para a banda entrar de maneira triunfante na trilogia.

Sem dúvida alguma. "Close To The Edge" é um disco inesquecível; é um dos mais importantes momentos de toda a obra do Yes e de toda produção do rock-progressivo. Com ele, o Yes alcançou seu momento mais sublime.

Gostou? compre o livro "YES - uma rara música de quinteto" - Trajetória e Discografia da Banda direto na Editora Muiraquitã.

Maria Tereza Penna (@mineiridades) filosofando legal sobre a Contra-Cultura:

O “Pensamento” dos anos 60/70 não foi influenciado por Martin Luther King, Malcolm X, Betty Friedann, e nem Kennedy teve esse privilégio ou qualquer outro líder Americano ou de outro continente.

Não foi uma busca pela Libertação, não foi uma busca por Igualdade de Direitos nem uma luta Racial e creio que nem mesmo pela PAZ.
Não foram os “Panteras Negras”, nem “Sutiãs Queimados”, nem excluídos, nem ativistas ou militantes que influenciaram a juventude que representou a Cultura Hippie dos anos 60/70, ou melhor a Contra-Cultura.
Não nasceu de mentes ou foi implantado por qualquer Sistema Político ou Econômico.
É a única forma de expressão que pode ser chamada com certeza de “Geração Espontânea”.
É um Paradigma Emergente, um Pensamento Sistêmico.
Foi uma ebulição, uma efervescência de sentimentos e emoções.

Foi como um chamamento, uma espécie de “Campo dos Sonhos” e se existe um pensador que pode representá-lo, esse é o inexistente escritor eremita, criado por Phil Alden Robinson, baseado no livro de W.P. Kinsella e interpretado por James Earl Jones na pele do personagem“Terence Mann”.
A história aborda a obstinação de um homem em busca de redenções e da realização de um sonho que parece absurdo, mas, que tem um significado tão maravilhoso quanto o sentido da vida.

Escuta voz que diz “Se você construir ele virá”. “Alivie Sua Dor”. Como Abraão, ou um apóstolo, ele dá tudo que têm pela crença na fé, mas, o faz de uma forma pura, que transcende aos dogmas e à obediência.

E os anos 70 surgem como uma espécie de catarse da humanidade. Uma absolvição dos pecados e do “karma” do livre arbítrio.
Aconteceu em todos os cantos do mundo simultaneamente, mesmo que reconhecida ou representada sob diferentes formas, aspectos e culturas diversas.
Até no Brasil temos exemplos não tão expressivos por que culturalmente éramos diferentes antes da globalização.
A humanidade e a existência é que importavam.

Destruiu-se uma geração inteira em nome de uma utopia chamada “Milagre Econômico”, ou simplesmente para provar a força de organizações facistas financiadas pelo dinheiro sem pátria como o foi a CIA e outras tantas.

Só quem lucrou com tudo isso foram alguns visionários como Brian Epstein. O produto cultural advindo da mobilização, da criatividade, da crença na “liberdade” enriqueceu os empresários e alimentou a mídia.

Jamais ocorrerão outros Woodstocks, único e lendário, onde 500 mil pessoas se reuniram para cultuar o amor e a paz, sem pagar dízimos, somente os ingressos, na época 18 dólares e embalados pelo “SOM” e as drogas, mas não com o apelo que elas possuem hoje.

Estou analisando sob o prisma da época e dos acontecimentos onde, para os jovens e, somente à eles, o prazer era permitido sem culpas ou críticas. Lá, tudo era coletivo e para o coletivo.
Um belo exemplo para a HUMANIDADE que anda as voltas com armas e ismos.

Pena que disso tudo só sobrou a calça JEANS.
O BLUE e a CAMISETA são hoje, somente, simbolos comuns das massas e da globalização conceitual muito abordada mesmo de forma didática por Elian Alabi Lucci

O SONHO ACABOU...

A @fexmaryjane tem assuntos interessantes e fala pra gente do Recruta Zero, que completou 60 anos.

O personagem de quadrinhos e desenho animado, Recruta Zero (nome original Beetle Bailey) está completando 60 anos. Sempre cultivando sua preguiça e bom-humor, Zero é implacavelmente perseguido pelo adiposo e volátil Sargento Tainha, que não admite nenhuma insubordinação. Ainda assim, Beetle Bailey sempre dá um jeito de escapar da labuta. Seu lema de vida é: Never let to tomorrow what you can do the day after tomorrow ("Nunca deixe para amanhã o que você pode fazer depois de amanhã"). Outro de seus famosos aforismos é: It´s funny how time flies when we are goofing off ("É engraçado como o tempo voa quando a gente está de folga").

Com um jeito malandro, ele representa uma crítica à opressão sofrida por soldados nos quartéis americanos.

O desenhista Primaggio Mantovi, criador do personagem Recruta Zero, participou de um bate-papo promovido pelo Sesc Vila Mariana, em junho.O encontro fez parte do projeto “Recruta Zero 60 Anos”, em comemoração ao aniversário do desenho.

O personagem, que foi criado em 1950 como uma crítica bem-humorada contra o serviço militar, deixa as páginas dos quadrinhos para decorar as paredes do Sesc Vila Mariana, aqui em São Paulo.

A exposição fica em cartaz até dia 27 de julho, com Catraca Livre.

Marcelo Mayer é poeta, twitteiro e autor de textos bacanas:

Justiça seja feita aos finalizadores.

Pouca gente se lembra das pessoas que dão os toques finais nas músicas. Criam um acorde essencial, quebram todas as regras com suas melodias e dão o mais firme suporte para uma estrutura musical. Eles são esquecidos, são como andarilhos porque sempre estão por ai, mas ninguém os nota. Pior! Eles vendem milhões de discos e não há uma citação deles em conversas de bares ou discussões numa sala de estar. Eles são aqueles músicos essenciais, mas ofuscados por estrelas da música que (quer queira quer não) são maquiadas. Arranjos foram criados por eles e inclusive riffs antológicos. Hoje, suas músicas, fazem parte do cotidiano de muita gente, e injustiças são sempre cometidas. E que injustiças.

George Harrison, o beatle tímido e calado foi responsável por colocar a banda nos trilhos, colocar a genialidade de Lennon e McCartney em equilíbrio. Foi um dos maiores guitarristas da história e ninguém o coloca neste posto. Solos simples, mas certeiros. Sabia que uma nota era o suficiente para se expressar. Um timbre inconfundível e melodias arriscadas para sua época. Sua genialidade foi de tamanho esquecimento que ele chegou a gravar em 1972 um disco com grande maioria das músicas negadas pelos Beatles, o All Things Must Pass. E acredite! É o melhor disco solo de um beatle. Enquanto Lennon e McCartney têm algumas músicas "bobas", Harrison só tem músicas boas nos Beatles. Harrison trazia a paz ao conjunto e deu os primeiros passos para experimentações psicodélicas da banda.

E nesta psicodelia, nascia Pink Floyd. Nasciam três cabeças geniais como Syd Barrett, David Gilmour e Roger Waters. Mas poucas pessoas conhecem Richard Wright. Tecladista que sabia como acrescentar cada arranjo nas melodias espaciais da banda. Seus arranjos de piano no disco Atom Heart Mother, de 1970 são o ponto alto de todo o disco. Mas as pessoas só prestam atenção nos sopros. Os teclados presentes nas músicas criavam pilares para que as guitarras e trompetes pudessem fazer uma harmonia sem conflitos. Summer 68’ é o melhor exemplo neste disco. Os arranjos do piano são simples e ao mesmo tempo visionários. O órgão em The Dark Side of The Moon de 1973 foi essencial, embora o disco esteja voltado para solos de guitarras. O piano em The Great Gig in The Sky e Us And Then mostram o bom gosto de sua musicalidade.

Delicadeza e harmonia se casavam como se a banda realmente precisasse dele. E como precisava! O que seria de Eclipse sem o órgão em cadência na introdução? Seria uma música a mais. O piano ao fundo de Wish You Were Here, do disco de mesmo nome de 1975, é bem baixo, mas se tirássemos ele a música perderia seu encanto. O solo inicial de Shine on You Crazy é de extrema facilidade de produzir, mas foi preciso ser gênio para ter criado. Ele também, como Harrison, equilibrava os conflitos de genialidade que havia nos dois líderes. Sofreu também pressão por parte de Waters para os arranjos de The Wall, e como um homem sereno continuou a optar pela simplicidade. Ele nunca poderia estar fora da banda, porque Waters não saberia se controlar.

Um caso bastante polêmico é o do John Paul Jones, baixista do Led Zeppelin. Digo polêmico porque Led Zeppelin não seria nada sem John Paul Jones! Nada! Ele foi responsável pelos arranjos da banda, criava propostas musicais para que Jimmy Page pudesse criar solos e acordes em sua guitarra. Um dos riffs mais famosos, Black Dog, é dele. O solo final de bateria em Rock and Roll foi idéia dele. Os arranjos de teclados e cordas eram todos (sim! Todos) produzidos e orquestrados por John Paul Jones. Era quieto, mas inovador. Também criou arranjos para muitas músicas acústicas da banda. Tocava bandolim e fez todo arranjo de Going to Califórnia, que acreditam ser de Jimmy Page. John Paul Jones criou a atmosfera que a banda precisava. Apoiou Robert Plant, quando este perdeu a família num acidente, sugerindo para que voltasse a gravar. John Paul Jones foi com certeza o membro mais importante do Led Zeppelin.

Bandas são muito além de cantores e compositores. Há uma fábrica por trás que merece também todos os créditos. Citei exemplos de poucas bandas. Poderia falar de Rick Wakeman também, já que foi responsável pelo amadurecimento do Black Sabbath quando produziu algumas músicas. Poderia falar de Noel Redding, baixista de Jimi Hendrix. Porque ele segurava o cara da guitarra e ninguém nunca notou suas bases como baixista. Poderia falar também de várias bandas arquivadas e desconhecidas do público geral, mas ai seria outro post. Minha intenção mesmo é mostrar que por trás de uma bela canção e um belo disco há gênios que nunca vão aparecer, há gênios que preferem ficar quietos a entrar na briga de egos dentro das bandas e há gênios que não aparecem. Todo mundo come bolo de chocolate e todos dizem “que bolo maravilhoso”, mas ninguém jamais fala “a cereja estava impecável”.

Ricardo Carlaccio é escritor consagrado, muito cabeça e fala do Leonard Cohen.

Algum riso no alto da falésia

Conheci primeiro a voz de Leonard Cohen em seus discos. E essa voz passou a ser reconhecida por mim como uma companhia indispensável, capaz de cutucar  algumas  feridas como  um  bisturi afiado em forma de orações que falam de beleza e  amor e nos joga na lona depois de dez rounds suados.  Escutem  Dance Me To The End Of Love ou I´m Your Man. Escutem quando forem escorraçados de forma impiedosa por suas garotas.  Escutem todos os seus discos: de “Songs of Leonard Cohen ao Dear Heather. Leiam todos os seus poemas. Se forem monoglotas como eu, ainda existe o subterfúgio das traduções Made in Portugal. Por lá saíram dois livros: O Livro do Desejo e a antologia Filhos da Neve. Por aqui saiu  uma boa coletânea de seus poemas (Atrás Das Linhas Inimigas De Meu Amor) organizada e traduzida por do Fernando Koproski. Escutem seus discos embriagados de vinho,  escutem sem ninguém por perto. Cada faixa é como esperar do alto de uma falésia  uma espécie de mensagem na garrafa. É como esperar uma canção arrebentando por ali, uma canção que talvez soe como uma benção pras nossas feridas.  Essas canções começaram na metade da década de cinqüenta, por ocasião do lançamento de seu primeiro livro de poemas “Let Us Compare Mythologies”.

O fato já ser escritor muito antes de tornar-se músico, trouxe uma característica especial a Cohen. Mesmo depois de se tornar um músico transitante no meio da cena rock and roll, nunca dispensou seu comportamento indefectivelmente elegante mesclado a sua  inibição da época que ainda não subia nos palcos. Isso sempre o fez parecer mais um  crooner sofisticado  do que um rockeiro se rebolando em performances mirabolantes.  Acho que o Mister nunca quis ser chamado de rockeiro, ou cantor de blues ou folk.

Embora tenha feito todas essas coisas,  o homem sempre quis estar livre de qualquer rótulo pra fazer o que bem entendesse com sua criatividade. No documentário I´m Your Man ele fala sobre o seu jeito discreto no  meio de outros rockeiros extravagantes que freqüentavam o lendário Hotel Chelsea em Nova Iorque, nos anos 60. Fala sobre seu jeito de canadense tímido, que diferente do jeitão americano, jamais se sentiria tão importante a  ponto de transformar o mundo com uma letra de canção. 

Isso, pra mim, coloca Leonard Cohen como um homem do blues, ainda que de uma maneira bastante peculiar, do mesmo jeito que sempre escreveu seus poemas. Ele escreveu canções que separadas da música ainda podem  ganhar o nome de poesia. Não há distinção de qualidade artística entre as letras de suas canções e seus poemas impressos em  livros. Costumo chamar suas letras de literatura na vitrola. É a poesia no prato pegando o garoto pelo rock and roll e o seguindo até a velhice como um grande Parque de Diversões da Cabeça ( parodiando o nome do livro de Lawrence Ferlinghetti), um parque no qual nos divertimos durante a madrugada, ainda que  atordoados diante de seus sinistros e belos brinquedos. E seus brinquedos são pelo menos 15 discos gravados e mais uma dúzia de livros publicados.

Espero ansiosamente por muitos outros, já que esse incrível senhor de aproximadamente setenta e cinco anos não pretende parar de produzir tão cedo essas canções  que acompanham o ritmo de um coração partido, espalhado pelos cantos de um quarto de hotel vagabundo e sagrado. Um coração que a cada frase começa a se dar conta de sua insignificância.

 “Se quiser me derrubar de raiva, aqui estou eu/Eu sou teu homem/se quiser um pugilista/Eu entrarei no ringue por você.”

I´m your man.

Sérgio Alpendre é jornalista e escreveu sobre King Crimson e o incrível Mellotron.

Quero falar do Mellotron, aquele ancestral do sampler, popularizado no final dos anos 60. Fico aqui ouvindo o primeiro do King Crimson e me deliciando com a maneira com que Ian McDonald toca o instrumento. São bases pré-gravadas que assemelham-se a uma orquestra, mas servem de sustentação para a bela voz de Greg Lake. In the Court of the Crimson King é uma obra-prima, assim como Lark's Tongues in Aspic (73), Starless and Bible Black (73), e, principalmente, Red (74), um dos discos mais viscerais do progressivo. Todo esse rodeio para voltar no mellotron e perceber que não era tão fácil dominar esse instrumento. Ian McDonald saiu da banda pouco antes do segundo LP, o belo e incompleto In the Wake of Poseidon, no qual Fripp assumiu o mellotron, deixando-o obviamente em segundo plano. Dois discos irregulares seguiram-se (Lizzard e Islands) para que o KC encontrasse novamente seu prumo com o supracitado Larks Tongues in Aspic.

Conclusão: assim que o genial Fripp conseguiu fazer com que sua guitarra fosse a marca registrada da banda, voltaram a fazer discos inesquecíveis como o primeiro (onde o som do Mellotron impera). Parece pouco, mas é uma história de amadurecimento notável para quem perdeu um músico fenomenal como Ian McDonald. Não se faz música racional de uma hora pra outra.

Rodrigo Mantovani é especialista em Focus e comenta músicas conhecidas:

Quando o Focus veio ao Brasil em 2003, num encontro reservado, o Thijs van Leer me contou algumas curiosidades sobre as músicas dessa banda holandesa.

“Moving Waves”: A faixa título, segundo o próprio Thijs, foi composta ainda quando era adolescente. “Moving Waves” na verdade é uma força de expressão, quase um pleonasmo, pois não existem ondas “paradas”, a essência da onda é o movimento. A música foi composta como uma crítica ao comportamento de sua própria mãe, uma religiosa fervorosa, que hoje é sacerdotisa da cultura Sufi e adora Zoroastro e o Fogo. Thijs criticava a forma como ela dedicava-se tanto à religião. Ele nunca quis ater-se à uma credo ou à um só pensamento, pois não é uma pessoa que acredita nessas coisas. Thijs van Leer têm um irmão, Maarten van Leer, que é maestro na Alemanha, e vive na cidade de Nidderau.

"Hocus Pocus": Tornou-se um clássico do Focus, a mais conhecida do grupo pelo mundo afora, de certa forma encobrindo a grandeza de outras composições da banda. Até hoje, Jan Akkerman toca o riff de guitarra em seus shows, mesmo em apresentações acústicas. E Thijs van Leer sempre procura uma forma de encaixar o canto "yodel", tipo de canto tirolez que vocaliza tonais, em suas apresentações ao vivo. Ele nunca havia cantado neste estilo, mas o resultado foi espantoso. Após gravarem este tema "mágico", os músicos perguntaram-se que nome dariam à canção. Thijs sugeriu que deveria ser algo que rimasse com Focus, daí o nome "Hocus Pocus". Curiosamente, "Hocus Pocus" só estouraria no Reino Unido em 1973, ao mesmo tempo que "Sylvia".

"Sylvia": Antes de Van Leer tocar no Focus, havia tocado na banda de Ramses Shaffy, grupo cuja cantora chamava-se Sylvia Alberts. Thijs escreveu uma canção para ela baseada no seguinte poema: "I thought I could do everything on my own. I was always stripping the town alone". Ele então entregou a canção ainda sem nome para Sylvia cantar. Acontece que a cantora rejeitou a canção por não gostar do estilo. Então Thijs guardou a canção por vários anos, até resolver transformá-la numa peça instrumental na época do Focus. E para chatear a antiga cantora nomeou-a de... "Sylvia"!

"Tommy" (Eruption): Esta parte da suíte "Eruption" é creditada à Tom Barlage. Mas quem é Tom Barlage? Este músico tocou nos anos 70 em outra banda progressiva holandesa obscura chamada "Solution". Na verdade a bela música "Tommy" chama-se originalmente "Divergence" e encontra-se num dos álbums da banda Solution. No original a parte da guitarra é executada por um saxofonista.

"Hamburger Concerto": Jan Akkerman declarou certa vez que compôs o tema principal deste disco no hotel Hilton de Nova Iorque, onde estava hospedado, enquanto comia um hambúrguer (daí o nome do álbum) e assistia desenhos de Tom & Jerry pela TV. A faixa-título ocupava um lado inteiro do LP e era dividida em 6 partes, e a letra em holandês contava a história bíblica do rei Herodes. Esta longa faixa marca um retorno do Focus aos seus tempos clássicos. E podemos dizer "clássico" mesmo, pois a primeira parte desta suíte, "Starter", praticamente é um novo arranjo para uma composição conhecida como "The St. Anthoni Chorale" de Johannes Brahms.

Abner Franco Marins e curiosidades sobre Jimi Hendrix e o disco Electric Ladyland:

Electric Ladyland (terceiro e último disco de estúdio do Experience), produzido pelo próprio Jimi Hendrix, foi seu único álbum a chegar na 1ª posição nas paradas da Billboard. É considerado pela crítica o auge da maestria de Hendrix e freqüentemente mencionado como um dos melhores discos de rock de todos os tempos. As gravações de "Electric Ladyland" aconteceram no Olympic Studios, em Londres, e no Record Plant, em Nova Iorque em 1968.

Os músicos:
O disco contou com participações de vários músicos, como Stevie Winwood (órgão), Chris Wood (flauta) e Dave Mason (violão e guitarra), todos do Traffic, Buddy Miles (que na época havia conhecido Hendrix durante o Winterland Pop Festival, e mais tarde veio a ser o baterista da Band Of Gypsys) e Jack Casady (baixista do Jefferson Airplane), Al Kooper (órgão), entre outros.

Perfeccionismo:
Em maio de 1968, Chas Chandler, baixista do Animals, "descobridor" e produtor de Hendrix, desistiu de trabalhar na produção, após ouvir dele que não ainda estava satisfeito com a gravação de "Gypsy Eyes", mesmo após o 43º take! Além do mais, Hendrix estava sempre inseguro quanto à sua voz e chegou a gravá-la escondido atrás de biombos.
Nessa época, Hendrix levou ao extremo seu perfeccionismo no estúdio, inclusive tendo feito Dave Mason gravar mais de 20 takes de violão na introdução de "All Along The Watchtower" (escrita por Bob Dylan), cujo baixo foi gravado por Hendrix (Noel Redding afirmou sobre suas brigas com Hendrix, durante as gravações: "I told Jimi to fuck off").

A controversa capa:
JH havia solicitado à Reprise Records que na capa de Electric Ladyland a banda fosse fotografada (por Linda Eastman, falecida esposa de Paul McCartney e herdeira da Kodak/Eastmancolor) rodeada de crianças, ao lado da estátua de "Alice No País Das Maravilhas", no Central Park, mas seu pedido foi ignorado. Em vez disso, a gravadora usou uma foto de seu rosto, borrada em vermelho e amarelo.
Já a Track Records (que lançou o disco na Inglaterra) tinha seu próprio departamento de artes e imprimiu a capa do disco com várias mulheres nuas na capa, uma delas segurando uma foto "psicodélica" do rosto do guitarrista.
Atualmente, a família de Jimi Hendrix, que desde 1995 detém os direitos autorais sobre sua obra, afirma que a capa da edição inglesa, com as mulheres nuas, nunca mais será usada, uma vez que o próprio Hendrix não gostava dela.

O taxista
No encarte do CD da MCA (atualmente o CD não mais é prensado pela MCA, mas sim pelo selo "Experience Hendrix", criado após sua família ganhar na justiça, em 1995, os direitos autorais sobre sua obra), conta que um dia, o taxista que estava levando Hendrix para o estúdio perguntou: "Você é o Jimi Hendrix?", e ele: "Sim", foi quando o cara se entusiasmou e disse a ele que também era músico, etc... resultado: Larry Faucette (o taxista) tocou congas nas faixas 10 e 13, e levou os créditos oficialmente no encarte do disco. Quanta honra para quem nem imaginava o que aconteceria naquele dia!
Voodoo Child ou Voodoo Chile?
Em Electric Ladyland, a 4ª faixa se chama Voodoo Chile, e a 16ª se chama Voodoo Child (Slight Return), sendo que esta última é a que ficou comercial mente famosa (a que começa só com a guitarra com Wah-Wah). Portanto, ambos os nomes estão corretos.
Voodoo Child (Slight Return) atingiu o primeiro lugar nas rádios da Inglaterra, em 1970.
Brian Jones, dos Rolling Stones

A série de documentários "Classic Albums" teve como seu primeiro lançamento o "Making of" de Electric Ladyland, onde se pode ver Eddie Kramer (engenheiro de som) contando que Brian Jones tentou gravar piano numa das músicas, mas acabaram abandonando a idéia. No vídeo, Eddie Kramer não explica o motivo de terem abandonado a idéia, mas mostrando ele solta (na mesa de som), junto com a música, a pista onde Brian gravou o piano... claramente percebe-se que Brian não tinha condições de acompanhar a música, provavelmente devido ao seu forte envolvimento com drogas, considerando-se que os Rolling Stones admitem que usavam drogas, mas "não o tempo todo, ao contrário de Brian".

Versátil?
Hendrix tocou:
Baixo nas músicas "Have You Ever Been (To Electric Ladyland)", "Long Hot Summer Night", "Gypsy Eyes", "Rainy Day, Dream Away", "House Burning Down" e "All Along the Watchtower";
Electric Harpsichord (uma espécie de "cravo elétrico") na música "Burning of the Midnight Lamp" (dizem que ele queria ter a sua prórpia "Lucy In The Sky With Diamonds");
Kazoo (instrumento feito com um pente e um pedaço de papel ou celofane) em "Crosstown Traffic";
Um isqueiro como "bottleneck" (erroneamente conhecido como "slide") no solo de "All Along the Watchtower", etc.

Bento Araújo, do PoeiraZine, contou essas histórias:

Passei uma boa parte da minha vida trabalhando em lojas e sebos de discos. Nessa minha carreira nesse maravilhoso mundo fonográfico, tive o prazer de vivenciar várias e distintas situações. Conheci gente que manjava muito de música, aprendi pacas com elas, mas por outro lado, conheci certos sujeitos que não sabem absolutamente nada sobre o assunto.


Veja essa: O cidadão chegou pedindo uma música, e mostrando um papel escrito "Xigale" com Bruce Springsteen. Depois de muito quebrar a cabeça, o cara resolveu cantar o refrão: "Xigale, oh baby Xigale". O dito cujo queria "Vênus" do Shocking Blue, onde o refrão é "She's Got It, Oh Baby She's Got It". Ai ai ai.



Já me pediram: Zé Total = Jethro Tull / Black Montanha = Bachman Turner Overdrive, ou assim: "Você tem disco daquele cara que era coveiro?" O mais curioso, é que a pessoa sabia a antiga profissão do artista (algo que talvez até mesmo um fã não saiba), mas ignorava o nome dele, no caso Rod Stewart.

O pior é quando rolava coisas do tipo: "Eu estou procurando a música Stairway to Heaven do Pink Floyd, será que você tem?" Até o mais estúpido abutre do Himalaia campestre sabe que Stairway é do Led Zeppelin, mas vai tentar convencer o sujeito de que ele está errado! 
Depois de muita luta, mostrei o Led IV para o indivíduo e ele continuava desfilando pérolas: "Nossa, só oito músicas no disco! As outras também são boas?" Só para relembrar, o IV é o disco mais famoso da banda, e fora "Stairway", ainda tem "Black Dog", "Rock N' Roll", "Going to California" etc etc, enfim, só clássicos.

São situações que entram para a nossa história.