O rico universo roqueiro é sempre uma grande fonte de boas histórias, trágicas ou divertidas, mas que sempre despertam nosso interesse. Isso faz da atitude rocker uma fonte de referência cultural de um período marcado pela liberdade de expressão.
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Alan Terra é jornalista lá de BH. Amante do rock and roll desde sempre, tendo iniciado sua paixão ainda criança, quando se aventurava pela coleção de vinis do seu pai. Como descobriu o que era rock de verdade, nunca mais deixou de ter o bom e velho som ao seu lado. É também blogueiro, twitteiro e se mete a entender sobre vários outros assuntos. Nessa coluna você vai encontrar boas histórias do mundo do Rock Clássico

Nesta data querida...

Uma longa jornada de dedicação e som honesto, com tudo aquilo que o bom rock clássico nos oferece de melhor. Desde o início da semana passada a programação vem sendo mais do que especial, com a estréia de programas novos e presentes especiais preparados pelos colaboradores. E comigo não poderia ser diferente: como o clima é de festa, o tema do texto dessa semana especial é um incrível guitarrista, que também faz aniversário.

Trata-se de Geofrey Arnold Beck, mais conhecido como Jeff Beck. Nascido na Inglaterra em 24 de junho de 1944 é um dos guitarristas mais influentes do rock e tocou em conjuntos de suma importância para esse meio musical em questão e com grandes nomes do estilo. Um exemplo: foi um dos três grandes guitarristas, junto com Eric Clapton e Jimmy Page, que tocaram com o magnífico Yardbirds, da década de 60.

Grande parte de sua ampla produção é instrumental, com foco na inovação sonora e abrangendo gêneros que vão do blues-rock, heavy metal, jazz fusion e, mais recentemente, uma mistura adicional de rock de guitarra com música eletrônica.

Jeff Beck começou sua carreira na década de 1960, trabalhando como guitarrista de estúdio. Em março de 1965 foi recrutado para substituir Eric Clapton no Yardbirds, por recomendação de Jimmy Page. Foi durante o ‘mandato’ dele com os Yardbirds que a banda gravou a maioria de seus hits. Passou setembro e novembro de 1966 compartilhando o papel de guitarrista com Page, que inicialmente se juntou à banda como baixista.

Em fevereiro de 1967, Beck deu início à sua carreira solo e de líder de grupo. Formou o The Jeff Beck Group, com Rod Stewart nos vocais, Ronnie Wood no baixo, Nicky Hopkins no piano e uma série de bateristas, como Micky Waller, por exemplo. No mesmo ano, após a saída de Syd Barrett do Pink Floyd, a banda o quis para assumir as guitarras, mas isso nunca transpareceu. Nick Mason recorda em sua autobiografia que nenhum deles teve a coragem de oferecer a vaga a Beck. O Jeff Beck Group se dissolveu em julho de 1969.

Após a separação ele participou do Free Music From Creek e contribuiu nas quatro músicas, incluindo uma co-escrita por ele mesmo. Foi nessa época que conheceu o baixista Tim Bogert e o baterista Carmine Appice (irmão de Vinnie Appice, que tocou bateria no Black Sabbath), americanos que formavam a seção rítmica do Vanilla Fudge.

Em setembro daquele ano Bogert e Appice foram para a Inglaterra, justamente no período em que Beck fraturou o crânio em um acidente de carro. Com isso, o plano de trabalharem juntos acabou sendo adiado por dois anos e meio, período durante o qual Bogert e Appice formaram o Cactus. Alheio a tudo isso, Rod Stewart juntou-se a Ronnie Wood para formar o bom Small Faces.

Em 1970, quando Beck já tinha se recuperado, formou uma banda com novos membros, mas com o antigo nome The Jeff Beck Group. Gravaram dois bons discos e se dissolveram novamente.

Em seguida, começou a trabalhar naquilo que foi, na humilde opinião deste quevos escreve, a melhor fase de sua carreira. Beck retomou os esforços para alcançar uma antiga ambição: trabalhar com Bogert e Appice, que ficaram disponíveis após o término do Cactus. Formaram o power trio Beck, Bogert & Appice. Appice também assumiu o papel de vocalista, com a ajuda dos dois parceiros. Em abril de 1973, Beck, Bogert & Appice foi lançado pela Epic Records e contou com a tão esperada trinca no line-up. Enquanto os críticos reconheceram o talento instrumental da banda, o álbum não foi bem recebido comercialmente, exceto o hit de Stevie Wonder: "Superstition".

Em meio a isso tudo, ainda no mesmo ano, Beck apareceu como artista convidado durante a turnê de Ziggy Stardust, quando se juntou a David Bowie no palco para executar "The Genie Jean" / "Love Me Do" e "Around and Around", uma canção escrita por Chuck Berry mas popularizada por Bowie.

A formação Beck, Bogert & Appice terminou em abril de 1974, antes de seu segundo álbum. Todavia, lançaram um disco ao vivo, Beck, Bogert & Appice Live in Japan, gravado durante a turnê de 1973.

Junto a Bogert e Appice, Beck alcançou o auge de sua criatividade e lançou um grande disco, de análise obrigatória para os que apreciam o velho som. Após este período frutífero, Jeff Beck continuou sua trilha (caminhada essa que perdura até os dias de hoje) no mundo da música, participando de diversos projetos e investindo em sua carreira solo. Gravou discos, trabalhou com diferentes artistas de renome, ganhou vários prêmios e fincou seu nome na história desse estilo musical apreciado por todos nós que possuímos audição privilegiada.

Por isso, pelo Beck, Bogert & Appice e pelo aniversário, deixo aqui registrado os meus agradecimentos e meus parabéns a esse incrível e polivalente artista do rock and roll. E é com este texto que também parabenizo a Rádio RockPuro por mais um ano de vida e a vocês leitores pelo bom gosto musical.

Parabéns e mais muitos anos com o mais puro e honesto rock da web!

Brian Peter George St. John le Baptiste de la Salle Eno:

Quero falar de uma figura ícone do rock & roll, um artista que foi de ótimo para ruim (na opinião deste que vos escreve) em um extenso período de tempo, mas, mesmo assim, digno de apreciação e análise. Com uma obra peculiarmente significativa, de qualidade e exótica, Brian Eno se tornou um dos principais representantes do gênero e até hoje seu nome ecoa por entre os veteranos e calouros da boa música.

Brian Peter George St. John le Baptiste de la Salle Eno é um músico, compositor, produtor e teórico musical inglês nascido em 1948. Sua carreira musical começou no início da década de 70, quando se juntou a Brian Ferry e Phil Manzanera para compor o Roxy Music, incrível banda de art rock fundada em Londres.Nos dois discos que gravou com a banda (os fundamentais Roxy Music, 1972 e For Your Pleasure, 1973) Eno já mostrou a que veio com seus sintetizadores inigualáveis. Mais tarde, por conta de discussões com Ferry sobre a direção musical do grupo, Eno deixou a banda.

Teve início, então, sua plural carreira solo, como artista e produtor. Seus álbuns são minimalistas e experimentais, com muita coisa eletrônica, como em Another Green World (1975), por exemplo. Foi precursor na composição do estilo ambient com o pioneiro Ambient 1: Music for Airports (1978), e ganhou o apelido de "godfather of ambient music"; que este autor confessa não gostar e credita a isso o declínio na carreira do artista, apesar de boa vertente dos fãs apreciar bastante. Fez boas parcerias como com John Cale do Velvet Underground, Robert Fripp do King Crimson e David Byrne dos Talking Heads, por exemplo. Além disso, Eno também se destacou no ramo da produção quando, junto com David Bowie gravou a inacreditavelmente maravilhosa ‘Trilogia Berlim’, composta pelos álbuns Low, Heroes e Lodger (1977-77-79 respectivamente). Ainda como produtor, já na década de 80, formou uma parceria com Daniel Lanois e, juntos, alavancaram a carreira do U2, através dos bons álbuns The Joshua Tree (1987) e Achtung Baby (1991).

Hoje em dia, Eno é reconhecido mundialmente por sua vital colaboração à música (glam rock, prog rock, punk rock, ambient music) e por sua grande inteligência artística; inclusive fora da música, como nas artes visuais, por exemplo. Recentemente, ao lado de Richard Dawkins - zoólogo, evolucionista, defensor de correntes como o ateísmo, ceticismo e humanismo, um dos maiores intelectuais da atualidade e natural de Nairobi, no Quênia -, Eno travou um animado debate contrapondo teorias de evolução de espécies com teorias de evolução artística; uma contextualização da teoria evolucionista do Dawkins com o gerador de pinturas aleatórias do Eno. Uma psicodelia engraçada que só vendo.

Do Brian Eno, o álbum Taking Tiger Mountain (By Strategy), de 1974. Sem dúvidas, é o disco mais ‘pra cima’ e rock'n'roll do artista. Apenas essas definições já bastam para usar o álbum como exemplo. Segundo disco da carreira do músico é um álbum leve e conceitual, com temas que vão desde a espionagem à revolução comunista chinesa. As músicas são de tom um alegre e festivo, mas os temas das letras possuem uma nuance mais escura. O disco não agradou muito no Reino Unido e os Estados Unidos, mas recebeu boa atenção da ‘imprensa rock’ internacional. Foi relançado em cd em 1990 pela Island Records e novamente em uma versão remasterizada em 2004, pela Virgin Records.

A pequena façanha de uma banda de rock:

Não sei de muitas pessoas que conheçam essa banda. Eu mesmo a descobri não faz muito tempo. Mas fato é que se trata de um incrível grupo de rock americano, formado em 1969, em Los Angeles, pelo guitarrista, vocalista e compositor Lowell George e pelo tecladista Bill Payne, ambos responsáveis pelo surgimento do incrível Little Feat. A banda é reconhecida por produzir um som eclético, com influências de rock and roll, blues, country, folk, R&B, funk e jazz fusion.

De todas as formações do grupo, que esteve em atividade até o ano passado, foi justamente a primeira delas que fez com que o Little Feat se tornasse, posteriormente, referência para inúmeras bandas e artistas. Foi com ela que a banda lançou seus melhores trabalhos da carreira, tendo na figura de Lowell George o grande centro criativo, apesar de todos os outros integrantes também assinarem a autoria das canções.

A história da origem da banda é curiosa. Lowell George conheceu Bill Payne quando ainda tocava no majestoso Frank Zappa´s Mothers of Invention. Payne fez uma audição para entrar no grupo, mas não foi aceito. Eles formaram o Little Feat junto com o baixista do Mothers of Invention, Roy Estrada, e com Richie Hayward, baterista da primeira banda de George, a The Factory.

Existemtrês lendas sobre o surgimento do Little Feat. Uma delas dá conta de que o maestro Frank Zappa, após ouvir “Willin”, música de autoria de George, o demitiu por ser talentoso demais, alegando que ele não merecia ser apenas um músico de seu grupo, e o aconselhou a criar sua própria banda. A segunda versão diz que Zappa o demitiu por ter tocado um solo de guitarra de quinze minutos com o amplificador desligado. A última também credita à música “Willin” o desligamento de George do Mothers of Invention, por se tratar de uma canção com referências às drogas. George costumava dizer que a música foi mesmo a razão que o fez ser convidado a deixar a banda.

Independente do motivo pelo qual Lowell George se desligou da banda de Zappa, fato é que foi por uma boa causa. A fase que comandou no Little Feat é um excelente espécime do mais puro e bem feito rock and roll setentista, repleto de garbo, elegância e simplicidade, como não poderia deixar de ser. Os três primeiros discos de estúdio: o homônimo de 1971, Sailing´ Shoes de 1972 e Dixie Chicken de 1973, formam uma seqüência impressionante de bons clássicos do mais legítimo rock, uma pequena façanha musical. Para completar, o ao vivo de 1978, Waiting for Columbus, é um registro impressionante do que essa primeira formação do Little Feat era capaz de fazer.

Um ano após esse registro, George morreu de ataque cardíaco, deixando ainda mais um disco praticamente pronto, o Down on the Farm. Após isso, a banda foi se modificando, passando por novas eras com outros vocalistas e músicos. Contudo, nada que chegue perto do que foi feito na era Lowell, na opinião deste que vos escreve.

Paul McCartney no Brasil – Mais vivo do que nunca

Como todos sabem, Sir Paul McCartney anda fazendo tour com muitos shows em nossas terras tupiniquins neste mês de novembro. Já fazia um bom tempo desde a sua última estadia aqui, em 1993, e a legião de fãs saudosa já não agüentava mais esperar.Fã confesso, ainda era muito jovem em 93 e por isso não tive a oportunidade de ir conferir o gênio ao vivo. Desta vez, já estou lá.

Há quem diga que o Macca é tão ‘sem sal’ que até inventaram que ele estava morto. Sim! Isso e todas aquelas outras baboseiras de mensagem subliminar nas capas de disco, músicas executadas de trás pra frente, “Paul is Dead” e etc. Creio que todos já tiveram notícias disso, mas se não tiveram é só ir ao Google que acharão com muita facilidade.

A verdade é que Paul McCartney é um dos últimos gênios vivo do mundo da música, um dos últimos fenômenos da produção musical. Se só os Beatles não basta, tem o Wings. Se o Wings também não é suficiente, tem uma carreira solo com mais de vinte discos de estúdio. Obviamente, como acontece com todos, sem nenhuma exceção, a extensa carreira é repleta de altos e baixos, discos bons e ruins. Afinal de contas, é impossível permanecer na crista da onda por cinqüenta anos. Sim, é esse o tempo que ele tem de carreira.

E essa turnê que o traz ao Brasil - a Up and Coming Tour - foi elaborada justamente para comemorar todo esse tempo na ativa. Com apresentações de três horas de duração, Paul repassa toda a sua carreira durante os shows. Toca clássicos dos Beatles que o eternizou, músicas marcantes da época do excelente Wings (banda que também contava com a participação de sua falecida mulher Linda McCartney, nos pianos e backing vocals) e canções de sua vasta carreira solo. Neste ponto, das canções solo, ao menos no show de Porto Alegre, Paul deixou a desejar.

Sei que se a gente se preocupar com as músicas que faltarão no setlist ficaremos decepcionados. Mas deixar de tocar músicas de seus ótimos discos como o Ram (1971), Flaming Pie (1995) e Caos and Creation in the Backyard (2005), por exemplo, só não é mais grave do que deixar de tocar todo o gran finale (ou lado B) do Abbey Road, melhor disco dos Beatles, como ele também fez em Porto Alegre. Brincadeiras a parte, não se deve levar fãs tão a sério.

Todavia, só lá no Estádio do Beira Rio 50 mil pessoas se aglomeraram para ver Paul McCartney, e um público no mínimo igual está sendo esperado para cada dia de apresentação em São Paulo.

As costumeiras indicações de discos do artista para apreciação que coloco em meus textos já foram dadas. Acrescente às já citadas acima dois discos do Wings: Band on the Run e Back to the Egg. Ainda assim, digo pra vocês que é pouca coisa. Escute tudo. Vale a pena.

Afinal, há de se dizer e não há como negar, como Paul não há mais ninguém no mundo

Uma humilde grande banda

Esse foi um dos primeiros ‘supergrupos’ – bandas formadas por componentes gabaritados e já conhecidos do grande público – da história do hard rock, a partir dos idos de 1970.

‘Supergrupo’ porque era formado por ninguém mais, ninguém menos Steve Marriott, que tocava guitarra no Small Faces; pelo talentoso guitarrista e vocalista Peter Frampton, que até então embalava seus acordes no The Herd; pelo ex-baixista do Spooky Tooth, Greg Ridley e pelo jovem baterista de 17 anos Jerry Shirley, que vinha tocando com o Apostolic Intervention.

Além dos grandes hits como "30 Days in the Hole", "I Don't Need No Doctor" e "Natural Born Boogie”, eles também são muito lembrados por sua dinâmica no palco, no melhor estilo ao vivo.
Seu compacto de estréia foi "Natural Born Boogie", um sucesso britânico, que foi seguido pelo álbum As Safe As Yesterday Is. Problemas pessoais e disputas entre gravadoras impediram a banda de atingir sucesso em massa e Frampton deixou o Humble Pie em 1971, para dar início a uma bem sucedida carreira solo.
Com Dave Clempson substituindo Frampton, o Humble Pie evoluiu para um som ainda mais pesado, firmado nas raízes blues e soul de Marriott, mas ainda assim foi incapaz de chegar ao grande público. Mudanças constantes em sua formação impediram a banda de atingir seu potencial completo, embora eles tenham continuado gravando e se apresentando até 1976.

O Humble Pie, apesar de ter tido uma carreira meteórica, é uma banda muito interessante. Vieram desde o início, em 1970, com um som mais pesado que o habitual, sendo muito bem executado pelos brilhantes músicos da formação original. Destaque para o álbum de estréia, As Safe As Yesterday Is, de 1969, e para o homônimo, de 1970. Após a saída de Frampton, que se deu depois do lançamento do disco Humble Pie, a qualidade musical do grupo caiu consideravelmente. Frampton era um jovem de habilidades e destaque, e sua ausência foi claramente sentida, afetando toda a sonoridade da banda. Todavia, os álbuns sem a sua presença devem ser apreciados também. Afinal, Marriott ainda estava lá!

O guitarrista Peter Frampton está em turnê pelo Brasil. Todos sabem que ele já não é mais aquele garoto prodígio que enlouquecia fãs adolescentes da Grã-Bretanha nos dias de The Herd e nem aquele guitarrista convicto e de peso da época do Humble Pie. Entretanto, apesar de "Do You Feel Like We Do", "Baby, I Love Your Way" e "Show Me the Way", creio que vale muito a pena conferir as palhetadas deste astuto senhor do rock and roll.

Nesta outra data querida...

No dia 13 de julho, comemora-se o Dia Mundial do Rock, do bom e velho som, nosso querido e honesto Rock. Aliás, mais do que merecido esse dia internacional, dedicado única e exclusivamente a este estilo que agrada mais da metade do planeta.

E para figurar nessa coluna, nada mais justo que a maior banda de rock de todos os tempos; maior até que os garotos de Liverpool, uma vez que ainda estão em plena atividade. Não adianta nem fazer mistério, pois essa é mais fácil que contar até dois. É óbvio que se trata dos Rolling Stones, banda de rock inglesa formada em 25 de Maio de 1962 e que, ao lado dos Beatles, foram considerados a banda mais importante da chamada Invasão Britânica, ocorrida na década de 60, que adicionou diversos artistas ingleses nas paradas norte-americanas. Grupo que solidificou uma dupla inigualável, de relação estranha, de criatividade e feeling venturosos. Mick Jagger e Keith Richards ficariam marcados eternamente com um dos principais símbolos do rock.

Formado por Brian Jones (saiu em 1969), Keith Richards, Mick Jagger, Ron Wood (entrou em 74), Mick Taylor (saiu em 74), Bill Wyman (saiu em 93) e Charlie Watts, o grupo, inicialmente, calcava sua sonoridade no blues. Foi composto, inclusive, para se tornar uma definitiva banda branca de R&B. Tenho um pouco da impressão de que qualquer coisa que seja dita sobre os Stones nos dias de hoje já seja do conhecimento da grande maioria, tamanha representatividade desse conjunto para o universo em questão.

Por exemplo: quem é que não sabe que em mais de quarenta anos de carreira, hits como Wild Horses, (I Can't Get No) Satisfaction, Start Me Up, Sympathy For The Devil, Jumping Jack Flash, Miss You e Angie fizeram dos Stones uma das mais conhecidas bandas do rock mundial, levando-a a enfrentar todos os grandes clichês do gênero, desde recepções efusivas da crítica até problemas com drogas e conflito de egos, principalmente entre Jagger e Richards? Quem desconhece a incrível meta de 200 milhões de álbuns vendidos no mundo inteiro ou o misterioso caso de morte de seu guitarrista Brian Jones? Quem nunca ouviu falar do show em Altamont, com mais de 500 mil hippies, aberto pelo Jefferson Airplane, que teve como seguranças os motoqueiros do Hell´s Angels e que culminou com a morte de quatro pessoas? Ou então do show realizado na praia de Copacabana – o maior de todos os tempos – que contou com uma platéia de quase dois milhões de pessoas?

Isso tudo já é mais do que sabido. Os Rolling Stones ilustram as páginas principais de periódicos mundo afora há muito tempo, ocupam lugar cativo nos toca discos dos fãs desde sempre e fazem parte da história da música. Resta-nos apenas, aqui nesse humilde espaço, homenageá-los justamente no dia daquilo que ajudaram a construir, no dia daquilo em que cravaram seu nome para todo o sempre.

Como de costume, escolho um trabalho da banda em questão para ilustrar e completar o texto. E é claro que dessa vez não seria diferente. Mas, ao contrário do que muitos possam imaginar, não escolhi o Exile On Main St., de 1972, que foi relançado nos Estados Unidos esse ano em um pacote mais do que luxuoso - que inclui um CD remasterizado com o álbum original, outro disco com dez gravações (algumas com letras e vocais recém-adicionados), um livro de 64 págs e um documentário em DVD - e que é considerado o maior disco de rock da história por muita gente, inclusive por um grande amigo meu, conhecedor, que tem a banda como a melhor do mundo e que disse, certa vez, ser o Exile On Main St. “o rebento da melhor transa que o soul e o blues já tiveram”. Primoroso!

Tampouco escolhi o Let it Bleed, excelente e belíssimo disco de 1969 cujo título geralmente é visto como sátira ao Let It Be, dos Beatles, e que é o último álbum da banda a ter a participação de Brian Jones. Esse álbum está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame.

O álbum escolhido foi o mais ‘destoado’ de todos; aquele que flerta com o rock psicodélico e experimental, o Their Satanic Majesties Request, de 1967. Escolho esse por se tratar de um disco diferente, com músicas que fugiram ao estilo característico do grupo, por ser difícil de reconhecer como um trabalho dos Rolling Stones.

Quando o ouvi pela primeira vez, não reconheci e quase não acreditei. É realmente um trabalho dessemelhante, interessante e que merece destaque. É como uma aventura em outras áreas. Arranjos distintos. Instrumentos diversos. Psicodelia em alta.

Contudo, só por ter a faixa She´s a Rainbow em seu track list, já é motivo para estar aqui nesta parte. Desfrutem.

Vida longa aos Rolling Stones. Vida eterna ao rock and roll. Lembrando também, é claro, de saudar o blues - raiz dos frutos que são as outras músicas, nas palavras de Willie Dixon e soul e seu Otis Redding, que também são rock and roll pra caramba!

O estrondoso UFO!

Vou aproveitar um grande gancho para falar de uma grande banda dessa vez.
Na sexta-feira 28 de maio, os ingleses do UFO fizeram aqui na minha cidade, Belo Horizonte, um grande show para seu fiel público, que esperou décadas para poder ver tais monstros do hard rock.
Além disso, aqui no RockPuro, o nosso querido Dinossauro, o Sérgio Avellar, colocou na ‘agulha’- no mesmo dia do show - o Live in Japan: primeiro concerto gravado da banda, ao vivo no Japão, só lançado na Alemanha. Um baita registro dessa importante banda surgida nos primórdios do heavy metal.

Formada em em 1969, com Phil Mogg (vocal), Pete Way (baixo), Andy Parker (bateria) e Mick Bolton (guitarra), a banda lançou dois álbuns que levaram o nome de UFO 1 e Flying. Apesar desses álbuns não terem obtido grande sucesso comercial, alguns fãs consideram essa a melhor fase da banda. Em 1974, quando já faziam um relativo sucesso na Alemanha e no Japão, Bolton deixou a banda, dando lugar a Larry "Wallis" Wallace (primeiro guitarrista do Motörhead), depois a Bernie Marsden, que viria a tocar com o Whitesnake e que logo depois deu lugar, finalmente, ao excelente Michael Schenker, membro fundador do Scorpions.

Com Michael na banda, as atenções desviaram do fundador e frontman Mogg e caíram sobre o hábil guitarrista. Nessa época, conseguiram um contrato com o sêlo Chrysalis, quando gravaram o excelente álbum Phenomenon, com os clássicos Doctor, Doctor (bis no show de BH) e Rock Bottom.

Em 1976 a banda acrescentou à sua formação o tecladista Danny Peyronel, que depois daria lugar a Paul Raymond. Com o advento do teclado, os excelentes álbuns Lights Out e Strangers In The Night viriam, então, a firmar definitivamente o UFO na historia do hard rock.

Em 1978 Michael saiu da banda, voltando ao Scorpions, mas logo depois formou o Michael Schenker Group. Paul Raymond foi acompanhar Michael já na década de 80 e para seu lugar foi chamado Neil Carter. Neste período, Pete Way formou o bom Fastway, que teve Fast Eddie Clarke (ex-Motörhead) na formação. Para o lugar de Pete foi chamado o ex-The Damned, Paul Gray.

Em 1983 foi anunciado o fim da banda, que ressurgiria dois anos mais tarde com Phil Mogg, Raymond, Gray e os novos integrantes Jim Simpson e Tommy M. Com essa formação gravaram o álbum Misdemeanor, que apesar de ser um bom álbum, não foi um sucesso de vendas. E mais uma vez o fim da banda é anunciado.

Na década de 90 a banda anunciou algumas voltas à ativa e gravou mais um ou outro disco, sempre com formações diferentes, que chegaram a contar, inclusive, com Michael Schenker novamente. Nada mais do que tentativas para levantar dinheiro.

Apesar dessas constantes modificações na estrutura do grupo e de alguns discos realmente ruins na discografia, o UFO conseguiu criar uma identidade forte e marcar seu nome na história do hard rock. Mesmo não sendo muito conhecida pelo grande público aqui no Brasil, a banda tem uma legião de fãs apaixonados e de cabeças brancas, como pôde ser facilmente percebido no show em Belo Horizonte. O som pesado e melódico ao mesmo tempo, acompanhado de um vocal imponente, fizeram do UFO este grande e aclamado nome do bom e velho som.

Trapeze - Just the band:

A ‘bola da vez’ agora é outra banda de hard rock que fez certo sucesso no início da década de 70. Pouco conhecido e não muito lembrado pelos adoradores do estilo, esse grupo tem em seus três álbuns de estréia uma super trinca hard de respeito, pra fã nenhum botar defeito.

Trata-se do Trapeze, banda britânica formada em março de 1969 pelo vocalista John Jones e pelo guitarrista e tecladista Terry Rowley - que batizou a banda - (ambos ex-integrantes da banda Montanas), e também pelo guitarrista e principal compositor Mel Galley (líder incontestável e o único a estar presente em todas as formações), pelo baterista Dave Holland e por ninguém mais, ninguém menos que Glenn Hughes no baixo e vocal.

Essa foi a primeira banda de Hughes, um baixista muito bom e exímio vocalista, de um tom impressionante, que tocou e cantou também com o Deep Purple e Black Sabbath. Com ele, o Trapeze, bem no início de 1970, conseguiu um grande reconhecimento nos Estados Unidos, tornando-se a segunda banda mais famosa daquele período, ficando atrás apenas do Led Zeppelin. O grupo tinha uma linha bastante fluída, pra cima e fazia aquele hard típico da época, muito bem executado e afinado: uma sonzeira!

Com essa formação, lançaram o álbum auto-intitulado de estréia em 1970, mas no início daquele ano Rowley e Jones voltariam ao Montanas. No fim do mesmo ano, o Trapeze, em trio, volta à tona com o disco Medusa, um trabalho pesado e forte, porém harmônico. A banda excursionou principalmente no Reino Unido e pelo sul dos Estados Unidos. O sucesso comercial foi mínimo até este ponto. Excursionaram com essa formação até 1973, quando Glenn Hughes, ao final da turnê de You Are the Music ... We're Just the Band (melhor disco e detentor da belíssima balada Coast to Coast), lançado em 1972, deixou a banda pela primeira vez para substituir Roger Glover no Deep Purple e escrever seu nome na história desta outra banda, tendo em vista que participou de sua melhor fase (ao lado de Coverdale, Blackmore, Lord e Paice), em minha humilde opinião.

Após a saída de Glenn Hughes em junho de 73, Galley e Holland decidiram tentar manter a banda juntos, o que fizeram com membros constantemente variando até 79, quando Holland foi tocar com o Judas Priest. Neste momento a banda parou com suas atividades. Anos mais tarde, já na década de 90, Holland, depois de deixar o Priest, tentou reavivar a banda, mas ela finalmente se separou em 1994. Seus três primeiros álbuns permanecem considerados os mais conhecidos e bem sucedidos comercialmente.

Sem a menor sombra de dúvida, a apreciação do som desses caras é tiro certo. Sou suspeito para falar, pois sou fã incondicional do grande Glenn Hughes, que deu vida à banda nos idos da década de 70. Portanto, confiram vocês mesmos e tenham uma grata e prazerosa aula de hard rock.

Eles eram apenas uma banda americana:

Eis aqui uma das maiores potências do hard rock americano que, curiosamente, sempre conciliou sucessos expressivos de vendagem e freqüência em shows com a fraca aceitação da crítica. O Grand Funk Railroad foi uma das mais importantes bandas de rock dos anos 70. Formada por Mark Farner, Don Brewer e Mel Schacher, capitaneados pelo produtor Terry Knight, é responsável pela tomada de um caminho que agregava mais peso ao rock.

A história do surgimento da banda se inicia em 1964, na cidade de Flint, Michigan, sob o nome de Jazzmasters, mas que de jazz não tocava nada. Em 67, Terry Knight, que se tornaria produtor do Grand Funk mais tarde, também se aventurou nos vocais da banda, que já tinha mudado o nome para Terry Knight & The Pack.

Mas foi no último ano dessa década – um bom ano para as bandas de rock - que nasceu o Grand Funk Railroad, sob o comando de Terry Knight que, tendo reconhecido sua falta de potencial para cantar, resolveu empresariar o grupo.

Dois fatores foram claramente favoráveis ao sucesso do Grand Funk Railroad: aparticipação no Festival de Altamont e a separação dos Beatles, que acabou gerando novas oportunidades nas gravadorasque estavam sedentas por bandas promissoras. Foi nesse ambiente da contra-cultura que o Grand Funk pôde se tornar, com suas letras contestadoras, pacifistas e seu rock ao mesmo tempo rebelde, inovador, harmônico e agressivo para a época, uma fonte de identificação para aquela multidão de jovens sem rumo.

A liderança de Knight foi essencial para o crescimento da banda. Apesar do sucesso absoluto, a crítica era massacrante e feroz. Os taxavam de fracos, péssimos e desajustados, mas com a orientação do empresário, um homem visionário, o Grand Funk foi assimilando tudo isso, se aperfeiçoando a cada dia e se tornou, de fato, um fenômeno de vendas e público. E assim foi seguindo a carreira, batendo recordes, com discos de ouro e platina e shows super lotados, chegando ao auge em 1971.

No ano seguinte, por problemas com abuso das finanças da banda, Knight viu-se destituído do posto de empresário e substituído por John Eastman, advogado e cunhado de Paul McCartney. A partir daí teve início uma disputa judicial que, no fim das contas, terminou empatada, com um lado pagando multas ao outro e vice-versa.

O Grand Funk Railroad continuou sua trilha, solidificando sua identidade enquanto banda de rock, agora com o apoio do tecladista Craig Frost, um velho integrante dos tempos de 'Pack', criando assim um contraponto ao som do power trio, “segurando a onda”, através de mais harmonia, e com essa mudança a banda finalmente alcançou o abraço da crítica, emplacando grandes hits (como o incrível sucesso Locomotion, por exemplo) e fazendo super turnês para milhões de pessoas e com um bom respaldo financeiro. Enfim, a incrível banda tinha se tornado um dos mais destacados nomes do cenário. Merecidamente, diga-se de passagem, pois o som feito por eles era algo inovador, de um peso diferente, agressivo, mas sem incomodar.

Para os que não conhecem, ou conhecem pouco, do trabalho da banda, vale dizer que eles são donos de uma discografia impressionante, tendo em seus sete primeiros discos uma seqüência esplendorosa de criação. Para citar apenas um, o de minha maior preferência, coloco aqui o E-Pluribus Funk,de 1971, ano de ouro para o grupo. Esse é tiro certo. Um petardo musical atrás do outro, só clássicos. Aliás, para quem for se aventurar a apreciar o som desses caras, é melhor se acostumar com clássicos, pois isso foi o que o Grand Funk mais fez em sua trajetória, vide outros álbuns como o The Red Album, Closer to Home, Survival e We´re An American Band. Sem contar os ao vivo.

Enfim, para quem gosta do bom, velho e honesto rock, a ‘degustação sonora’ do Grand Funk Railroad é obrigatória. Fica a dica.

Alguma coisa sobre os Kinks:

Essa é uma das bandas mais importantes e influentes do rock and roll. Um legítimo membro da British Invasion, termo usado para descrever os artistas (rock, beat, pop) do Reino Unido que se tornaram ultra populares nos Estados Unidos nos idos de 1964-66.

The Kinks foi uma banda formada no norte de Londres ainda na primeira metade da década de 60 pelos irmãos Ray e Dave Davies. Com um som formado por uma mistura de gêneros, como o R&B, o folk e o country, os Kinks se tornaram uma máquina de fazer sucesso; sucesso esse que se estendeu durante anos, décadas. Na formação original, responsável pela fase áurea da banda, além dos irmãos Davies, estavam também o bom baixista Pete Quaife e criativo baterista Mick Avory.

O êxito da carreira da banda já se deu logo de início, com o lançamento do super single ‘You Really Got Me’, que carrega um riff de guitarra que se tornaria um dos mais conhecidos do mundo e que praticamente todos devem conhecer. Os singles seguintes, até o terceiro álbum, seguiram a mesma linha e se tornaram as músicas mais famosas dos Kinks até hoje. All Day and All of the Night é outro bom exemplo.

Mas o disco que escolhi para comentar não faz parte (apesar de muito bem reconhecido e avaliado) dessa primeira parte de sucesso absoluto da carreira do grupo, que abarca os três primeiros trabalhos. The Kinks Are the Village Green Preservation Society (1968) é o sexto disco da discografia e marca uma mudança: foi o primeiro de uma série de álbuns conceituais da banda, um dos primeiros a gastar tanto tempo para ser gravado (quase dois anos) e foi o último registro com a formação original. Pete Quaife saiu no ano seguinte.

As músicas foram escritas e gravadas ao longo dos dois últimos anos antes do lançamento e se apresentam sob forma de uma coleção de vinhetas temáticas sobre o cotidiano inglês e lamentações sobre a passagem das antigas tradições do país. Destaque para a faixa título e para Starstruck, com uma levada rock de fazer inveja em qualquer banda da época e, arrisco a dizer, de hoje em dia também.

É considerado, por mim e por muita gente, o melhor disco dos Kinks, um ponto de referência próximo ao início do declínio da carreira da banda, que continuou com a saga de discos conceituais ao adentrar a década de 70. O supra sumo da carreira foi em 1971, com o bom Muswell Hillbillies. Posteriormente, Ray Davies cismou com a produção de óperas-rock sem tempero e a estrutura do grupo começou a ficar abalada; assim como a relação entre os dois irmãos, que vale dizer, nunca foi das melhores.